Essa semana subi na balança e levei um susto: 44 anos.
Fui ao médico e, outra vez: 44.
Por todo lado que eu vagava, tudo era espelho.
Então resolvi olhar:
Foi esse o momento em que dei por mim: a voragem, outrora amiúde, desocupou para que eu pudesse caminhar para um lugar em que sou sem precisar de viver ou morrer, somente assentada na calmaria de não ter medo do que está por vir.
Foi libertador como mergulhar no mar ou conversar qualquer coisa com um desconhecido na rua.
Despertei pra dentro navegando pelos fios brancos e pelas dobras da pele.
O som ao redor não era brisa. Como haveria de ser? Nem no ventre o é.
Até nascer dói, imagina envelhecer…
Esse tempo em que ocupar o espaço que há dentro de si é a intensidade de vida a percorrer; subornar a morte com botox e colágeno; e gozar sem pressa porque o instante é fugidio e intangível.
Por que não?
Rebeca Moreira - CRP 14/07138-1
Fotografia: Rebeca Moreira