Breno Moroni, de 67 anos, atualmente vive em Campo Grande (MS) o artista é protagonista do filme ‘Katharsys’, dirigido por Roberto Moura em 1990. O longa rodado em película permitiu à Breno atuar ao lado de Grande Othelo, apesar de não ter sido o único projeto que artista deividiu cena com um dos mestres da 7ª arte. "Eu fiz com ele dois filmes, não foi um não. Foi esse do Roberto Moura, e tem outro do Noilton Nunes, chamado Fronteiras [A saga de Euclides da Cunha – a paz é dourada], que também demorou 20 e poucos anos para ficar pronto", explicou.
Após três décadas em pós-produção o filme foi finalizado digitalmente em 2022 e está iniciando sua carreira em festivais, tendo sido selecionado nesta semana para a Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Na tarde do sábado (4.jun), a reportagem foi até a casa do artista no Bairro Tiradentes, local onde está vivendo com a filha, Joana Moroni e com o neto de Breno, Lian Moroni, de 17 anos.
Na ocasião, Breno falou sobre sua carreira, seus estudos e disse estar ansioso para relembrar sobre o que fala o filme ‘Katharsys’. “São muitos anos que se foram. Eu não sei ao certo como é o filme ou as cenas, nem mesmo a história… Me lembro, claro, de ter sido agraciado com a presença do Grande Othelo no elenco, mas não tenho memórias definidas sobre o que trata esse filme”, explicou o artista.
Natural de Petrópolis (RJ), Breno já trabalhou em 88 filmes, sendo que o primeiro como ator fez ainda quando era acadêmico na Escola de Teatro da F.E.F.I.E.R.J. (Rio de Janeiro/1974). “Como ator, como diretor, efeitos especiais, dublê, mímico, assistente de produção, produção de elenco… enfim, são muitos filmes e funções. O meu curso era encostado no Curso de Cinema, então, logo me envolvi com o grupo e passei a trabalhar […]”, resumiu.
Em sua carteira de trabalho, Breno está registrado como habilitado a exercitar profissões artísticas como ator, diretor, autor, acrobata, equilibrista, contorcionista, comedor de fogo, malabarista, faquir, palhaço, assistente de direção cinematográfico, técnico de efeitos especiais cênicos (dublê), radialista/locutor, apresentador/animador.
Em seus quase 50 anos de carreira, Breno trabalhou em projetos de TV, cinema, teatro e circo. Na TV Globo, em 1994 deu vida ao marcante ‘Adonay’, o mascarado na novela A Viagem. Esta é AQUI a íntegra da filmografia do artista.
Adonay (Breno Moroni), um homem que esconde o passado e está sendo fantasiado de pierrô, cativando os moradores da vila com suas mágicas e performances. Ao longo da trama, Adonay desenvolve uma forte relação com o solitário (Ary Fontoura), que torna-s seu amigo, e com Carmem (Suzy Rêgo). Foto: TV GloboSua conexão com a capital sul-mato-grossense foi por meio de sua ex-companheira, a também atriz, Malu Morenah. Eles se conheceram na Academia de Circo, em São Paulo. Malu, segundo Breno, fez a ele o convite para que viessem viver em MS. “Nos anos 90 eu vim aqui a convite da Malu para fazer uma oficina… depois viemos morar a convite dela, que tem família e é natural daqui”, esclareceu.
A experiência da arte trazida por Breno à MS advém de muitos anos de estudos, com cursos de especialização em Cinema, Circo, Vídeo, Expressão Corporal e Double. A Escola de Teatro no Rio de Janeiro foi só um começo. “[No RJ] Era um curso técnico de 3 anos. O melhor que eu vi no mundo… quando eu terminei esse curso, fui para a Europa estudar mímica, em Londres. Depois disso eu fiz vários cursos, o principal foi Pantomima e Mímica. Eu já fazia cinema e teatro no Rio, mas fui para fora do país me especializar em mímica e circo, mesmo após concluir lá, nunca parei de estudar. Estive na França, África do Sul, Espanha, Escócia… cada hora uma coisa, sempre em busca de estudos e assim aprendi a me comunicar nesse idiomas… não sou poliglota, porque eu não escrevo essas cinco línguas, mas me comunico por meio delas com toda certeza”.
Como inicialmente Breno disse não saber explicar o enredo do filme ‘Katharsys’, trouxemos uma sinopse em que a produção diz se tratar de uma biografia de particular floração de realizadores cariocas. “O personagem central, interpretado por Breno Moroni, é alguém que antecipa os filmes que faz e depois os mostra aos espectadores, enquanto atravessa uma realidade política e cinematográfica cada vez mais instável”, diz um trecho de informe.
Questionado como foi selecionado para protagonizar ‘Katharsys’, Breno ‘buscou na memória’… (silêncio), após alguns segundos pensando, respondeu que acha que foi devido ao fato de, na época, ele ter ficado conhecido por fazer filme para diretores com projetos semelhantes ao de Roberto Moura. “O filme ficou parado por falta de grana. Esse filme, quando rodamos, se chamava: ‘Histórias dos anos 80’. Fizemos ele e depois disso aí segui minha vida e até hoje eu não tinha informações sobre o que virou. Eu acho que o diretor me chamou porque eu vivia fazendo filmes para diretores glauberianos”, contou.
Após alguns minutos de conversas, Breno lembrou-se de certos trechos do provável tema abordado pelo filme ‘Katharsys. Foto: TeatrinetvAo ser questionado novamente sobre o que aborda o filme ‘Katharsys’, Breno conseguiu lembrar de trechos do tema da trama. “São posturas políticas. São personagens que estão dentro do contexto dos anos 80 contestando aquele período, que era plena ditadura. Então, a gente tinha aquelas coisas que todo mundo sabe: tortura, censura, perseguição… e, eu estava justamente voltando disso, esses 5 anos que eu fiquei na Inglaterra, também não foi só para estudar, era uma forma de me proteger. Isso foi ideia da minha família, que falou que era melhor eu ir, porque eu vivia detido por causa de teatro”, contextualizou.
Não foi só a vida artística de Breno que sentiu o terror da Ditadura, mas também a sua vida pessoal. Durante o período militar, Breno acabou por perder sua irmã, Jana Moroni Barroso, conhecida pelo codinome Cristina. Guerrilheira brasileira, dada como desaparecida política, executada por militares em 2 de janeiro de 1974, em companhia do marido guerrilheiro, Nelson Piauhy (Nelito) e da também guerrilheira Maria Célia Corrêa (Rosa). A história diz que o trio foi executado em ataque das Forças Armadas ao destacamento em uma Fazenda em Araguaia (PR), porém, os corpos dos três nunca foram localizados.
Breno chegou a fazer um filme intitulado “Araguaia, Presente!”, em que interpreta um Coronel do Exército. O projeto é um ‘doc-ficação’ que teve início em 2016 e foi lançado em 2017 com a direção de André Queiroz e Arthur Moura. Veja a íntegra desse filme AQUI.
‘Katharsys’ foi exibido em 24 de maio de 2022 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foto: Reprodução“Eu fui muito detido, sempre! Eu estava ensaiando e de repente a polícia invadia e não se sabia o motivo. Eu nunca resisti à prisão, nunca briguei não, aliás, teve uma vez que eu e o Noilton Nunes, inclusive, a gente tinha um galpão ali no Porto, no Rio de Janeiro, que era o estúdio de filmagem. A gente ensaiava lá e iria filmar lá, esse filme sobre o Euclides da Cunha. De repente, veio uma história de que o galpão iria ser desocupado para virar uma importadora de arroz e a gente teria que sair de lá, mas fizemos uma resistência. O Noilton se entusiasmou, pegou um pedaço de pau e ameaçou todo mundo. Fomos Noilton, Sérgio Péo e eu em cana, fomos lá para a praça Mauá. A gente saiu só por causa de que lá chegou um holandês que tinha sido assaltado e o delegado pediu para eu traduzir e de repente chegou a TV Globo para filmar os cineastas bandidos, aí virou uma comédia (risos)… Aí o delegado, constrangido, mandou soltar a gente: ‘manda esses caras sumirem daqui’, cochichou para um dos polícias”, detalhou.
Ser ‘malandro’ era uma técnica de sobrevivência artística na ditadura. “Eu sou uma das poucas pessoas que entrou no Dops [Departamento de Ordem Política e Social] e sai pela porta da frente apertando a mão do delegado”.











