24 de novembro de 2024
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Estudo mostra avanço de fake news no Facebook a partir de 2015

Período corresponde à pressão pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), e evoluíram durante campanha eleitoral de 2018

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Páginas do Facebook classificadas como propagadoras de notícias falsas começaram a crescer em postagens e interações a partir de 2015, quando avança a pressão pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), evoluíram durante a campanha eleitoral de 2018, atingiram picos nos primeiros meses da pandemia, em 2020, e decaíram a partir do inquérito das fake news, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Essas são algumas conclusões de um estudo inédito de pesquisadores da Universidade Positivo, de Curitiba, envolvendo eleições, redes sociais e democracia. Os dois primeiros relatórios da análise -que ainda vai contar com outros enfoques- foram acessados com antecedência pela Folha de S.Paulo.

O trabalho usa dados do CrowdTangle, aplicativo de navegação no Facebook que segue o conceito de posts mais populares, e abrange páginas consideradas produtoras e difusoras de fake news em relatório de abril de 2020 da CPMI das Fake News no Congresso.

O primeiro recorte do estudo analisou as publicações e interações de 27 perfis do Facebook desde 2010 até 2020. Esse pequeno universo de páginas conseguiu, com 206,6 mil publicações, gerar 253,7 milhões de interações ao longo do período analisado, sendo a grande maioria (87,9%) via curtidas e compartilhamentos.

O momento-chave para o crescimento desses perfis foi 2015, quando ganham corpo as manifestações pelo impeachment de Dilma, que deixou o cargo em agosto de 2016. A evolução das páginas segue numa tendência de alta até que atingem um primeiro pico em outubro de 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

O período de maior efervescência em número de postagens compreende o início do mandato de Bolsonaro, em janeiro de 2019, e os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, em março de 2020. Já as interações atingem o ápice logo após a Polícia Federal cumprir mandados no âmbito do inquérito das fake news.

"Além do começo da pandemia, essa alta se dá em meio à saída do ministro [Sergio] Moro e trocas ministeriais na Saúde, o que gera outra visibilidade para as questões internas do próprio governo, gerando um reflexo na dinâmica das redes", afirma Eduardo Faria Silva, coordenador da Escola de Direito da Universidade Positivo e orientador do estudo.

Depois disso, ambas as bases de dados apresentam tendência de queda, mas tanto as postagens quanto as interações se mantêm em níveis altos.

Silva ressalta que a maior parte das páginas citadas no relatório da CPMI foram desativadas mesmo antes da pesquisa. "Isso demonstra um universo de permanente movimentação de contas nesse ambiente digital."

Mesmo com um número significativamente menor do que o inicialmente registrado pelo relatório, o especialista aponta que esses perfis conseguem formar uma bolha em torno de determinados temas. "Esse universo de páginas é um ambiente que nem todas as pessoas conhecem, que tem um trânsito num determinado público e movimenta milhões de postagens e interações."

Essa bolha é amplificada em uma segunda rodada da pesquisa, que tem como foco entender a dinâmica dos campos de influência política no Facebook. Para isso, os pesquisadores analisaram quantitativamente as postagens e interações de 93 perfis classificados como de direita e de esquerda e que interferiram na dinâmica da eleição presidencial de 2018, conforme metodologia adotada pelo estudo.

Os pesquisadores constataram que os campos políticos de maior influência pela rede se inverteram ao longo dos anos. O ano de 2015 marcou a queda vertiginosa das páginas consideradas de esquerda e a ascensão expressiva da direita no número médio de seguidores de cada postagem. A dominância das repercussões do campo da direita se consolida com a eleição de Bolsonaro, dois anos depois.

Assim como se constatou na primeira parte da pesquisa, também há picos de interações no período da última campanha presidencial e no início da pandemia em 2020.
Silva ressalta que os dados coletados a partir de 2015 mostram que as redes sociais passaram a ter maior capacidade de mobilização do que veículos tradicionais de comunicação e que essa tendência deve se expandir para os próximos pleitos. "Os principais atores precisam ter as redes como elemento fundamental de suas estratégias, porque o que ocorreu no passado não é mais suficiente para gerar o convencimento do eleitor", avalia.