Há mais de uma semana os campo-grandenses tem sofrido com o fenômeno do grilo-preto. Fato que o aumento da população segue alguns motivos, como a explosão ser resposta às altas temperaturas e pela época de reprodução, mas os "cantores" da vez não causam estragos consideráveis (como os ácaros e cupins), ainda assim é difícil aguentar o barulho durante a noite.
Como explicou o biólogo José Milton Longo, à diversos veículos de imprensa da Capital ainda na semana passada, os profissionais pedem que a população não extermine os insetos, pela importância que eles tem para o equilíbrio ambiental.
"O frenesi dos grilos se acaba com a estação reprodutiva, provavelmente com a entrada do frio no estado. Com a intensidade do tempo mais frio, essa população de insetos se auto regula e volta para as condições normais", disse o biólogo ao Portal G1.
Acontece que, até por ser época de reprodução desses insetos, os grilos-pretos que têm aparecido aos montes ainda não são considerados "pragas urbanas", por não transmitirem nenhum tipo de doença.
"Quem faria esse controle seria o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), mas até por não classificarem como uma 'praga urbana' eles não estão controlando também. Nem mesmo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) disse que o assunto é de responsabilidade dela e os pesquisadores daqui (Embrapa), não tem uma resposta para o problema", explica a responsável técnica pelo atendimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Corte, Rosana Santim de Almeida.
Ela pessoalmente relata que a preocupação com os insetos tem ficado cada vez maior, mesmo entre os vizinhos. "Tá sendo igual o mosquito, não conseguem controlar ele, imagina os grilos. Até por indicação de uma amiga minha, que não é fã de aranhas assim como eu, comprei aquele veneno 'Mortein' para lidar com os grilos aqui de casa e funcionou", comenta Rosana sobre a solução para seu problema.
MAS O QUE FAZER?
Ninguém é obrigado a aguentar o "cantar" dos insetos na hora de dormir e, relatos de pessoas que matam mais de cinco grilos-pretos por dia não são raros, mas sendo época de reprodução, e sem ajuda externa a população precisa "dar seus pulos" para se livrar dos invasores.
Uma circular técnica da Embrapa, de 2009, aponta uma ação de controle simples, a instalação de armadilhas - que devem ser trocadas semanalmente - pelo jardim e outros pontos. O texto aponta que, colocar água e gotas de detergente neutro dentro de recipientes descartáveis (como copos plásticos, latas e garrafas) enterrados no solo, podem atrair e acabar com os animais.
Em lojas de jardinagem a população pode encontrar alguns itens que podem auxiliar na tarefa de se livrar dos insetos. Para quem tem crianças ou animais em casa, e prefere não utilizar as fórmulas insceticidas que podem ser tóxicas, também há alternativas. Veja:
- O melaço pode atrair os grilos pelo cheiro e deixá-los presos. O ideal é diluir uma parte de melaço em dez de água e deixar em uma lugar de fácil acesso para os insetos.
- Ter um gato, ou mesmo um cachorro, em casa pode diminuir a quantidade desses grilos na residência. Mas fique atento ao tipo de inseto que seu bichinho de estimação está comendo.
- Terra diatomácea, um pesticida natural que não é tóxico para humanos e animais, é mortal para insetos. A substância é responsável por remover a camada protetora que impede a perca de umidade neles, que desidratam e morrem. Basta espalhar a terra pela casa.
- Lojas de jardinagem podem ter também a armadilha de poço. Nela é colocada uma substância que atrai o grilo, que são atraídos e morrem ao cair no "poço".
- Até mesmo água com sabão, em um borrifador, pode ser uma "arma" contra o grilo-preto já que a substância faz muito mal para esses insetos.
- Plantas como cravinho, alho e ervilhas possuem alta fixação de nitrogênio e são eficazes no combate de pragas.
No geral, deixar a casa limpa e arrumada, evitando a bagunça no quintal; mantendo o jardim bem cuidado; fazer uma faxina; não deixar lixo acumulado por muito tempo, ou mesmo usar luzes frias (já que insetos no geral são atraídos por lâmpadas incandescentes) podem ser jeitos de se livrar do atual incômodo. Ou então, deixar que a natureza equilibre as coisas.
CURIOSIDADES
Não só de "incômodo" vive a fama do Gryllus assimilis, famigerado grilo-preto, que é considerado nutritivo e sustentável. Em 2019, a espécie foi objeto de pesquisa na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde o estudante Rafael Ribeiro avaliou a qualidade química e biológica da farinha do grilo, suplementada com farelo de trigo e metionina (aminoácido), por meio da análise de parâmetros nutricionais e bioquímicos em ensaios com animais jovens.
Com a indústria de alimentos aumentando a pprodução de proteína animal para suprir a demanda por fontes proteicas, os custos podem acarretar em impactos ambientais significativos. Aí entra o grilo-preto, como fonte alimentar proteica com baixo custo de produção e métodos alternativos.
Insetor sendo usados na alimentação de humanos e animais não é alvo somente de pesquisadores, mas empreendedores, como a startup Hakkuna, tem trabalhado a produção em larga escala de Gryllus assimilis. Eles querem pegar o grilo-preto e transformar em barras proteicas à base de farinha de grilo.
Desde 2015 a Hakkuna produz essa farinha de forma artesanal. “A criação de insetos no Brasil ainda é muito artesanal. Nosso projeto busca reduzir o trabalho humano e padronizar a produção”, explicou o sócio-fundador da startup, o engenheiro de materiais Luiz Filipe Carvalho.
Outra empresa no ramo é a Ecological Food, criada em 2016 pela bióloga e doutora em entomologia Patrícia Milano, do Departamento de Entomologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).
Esse ramo, do uso de insetos como alimento por seres humanos, é conhecido como "entomofagia". Arnold van Huis é holandês e um dos principais pesquisadores nesse campo, ele aponta que, principalmente a partir de 2015, tem notado um crescimento exponencial no número de artigos acadêmicos publicados sobre o tema.
Mais recente, se desidratados e transformados em farinha, os grilos apresentam-se como alternativa a alimentos e suplementos, como o whey protein, a proteína de soro do leite, bastante consumida por praticantes de atividades físicas. Mas os insetos já fazem parte do cardápio humano há muito tempo, sendo que, pelo menos 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo alimentam-se de insetos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).