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RIO DE JANEIRO

Seis pacientes recebem órgãos infectados com HIV

A infecção pode evoluir para Aids se não houver tratamento.

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Seis pacientes diagnosticados com HIV, após receberam transplantes de órgãos no Rio de Janeiro (RJ).

O incidente é considerado inédito no Brasil.

A infectologista Lígia Câmera Pierrotti, coordenadora da Comissão de Infecção em Transplante da ABTO, confirmou ao g1 que este é o primeiro caso desse tipo no país.

A detecção de infecções em doadores é realizada por meio de testes avançados implementados pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Esses testes são projetados para identificar infecções em estágios iniciais.

O SNT segue critérios rigorosos de rastreio, definidos em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todos os órgãos doadores devem passar por testes de sorologia para HIV, hepatites e outras infecções.

Os critérios de rastreio também consideram fatores geográficos, como a prevalência da doença de Chagas. No Brasil, doadores com HIV positivo não são aceitos para transplantes. “Os mesmos testes são realizados para o receptor”, complementa Pierrotti.

A triagem envolve a análise de amostras de sangue para identificar infecções, além de entrevistas com doadores ou suas famílias e exames físicos para garantir a viabilidade da doação.

“O Brasil realiza um número significativo de transplantes desde a década de 60, sendo reconhecido pela qualidade de sua atividade, sem casos de transmissão de HIV até agora”, afirma a especialista.

O Ministério da Saúde disse que estabelece critérios técnicos para garantir a segurança dos receptores.

A entidade disse que a Portaria nº 2.600 de 2009 regulamenta o funcionamento de bancos de tecidos humanos e define critérios para a triagem de doadores. Além de infecções, são avaliadas condições neoplásicas.

Na prática, se um doador tiver histórico recente de câncer, seus órgãos não são utilizados, exceto em casos de câncer de pele com baixo risco de transmissão. Os testes laboratoriais, incluindo exames de sangue, são essenciais nesse processo.

Se um doador apresenta uma infecção bacteriana, a doação pode ser aceita se houver tratamento adequado. Após o transplante, o receptor deve continuar com antibióticos por um período determinado.

As sorologias são realizadas em centros de transplante, onde se busca garantir a segurança de doadores e receptores. Em casos de eventos adversos, a vigilância retroativa é empregada para investigar o doador.

No incidente do Rio, uma contraprova confirmou a presença do HIV em um doador, levando ao rastreamento dos receptores. A infecção pode evoluir para Aids se não houver tratamento.

Pessoas vivendo com HIV e com carga viral indetectável não transmitem o vírus. Este conceito tem sido reforçado nos últimos anos, indicando que o tratamento antirretroviral previne a transmissão durante relações sexuais.

Por outro lado, indivíduos em tratamento com carga viral detectável podem transmitir o vírus. Especialistas indicam que casos como este não refletem a realidade geral de pacientes transplantados, com chances de transmissão sendo muito baixas.

Nos Estados Unidos, a supervisão da doação de órgãos é realizada pela Health Resources and Services Administration, que exige testes rigorosos para minimizar o risco de transmissão de HIV.

O teste padrão para HIV no Brasil é o ELISA de 4ª geração, que identifica o vírus em 95% dos casos após 4 semanas e alcança quase 100% de precisão após 6 semanas.

O processo começa com o teste de triagem sorológica. Se o resultado for negativo, o doador é considerado livre do HIV. Se positivo, uma segunda amostra é testada para confirmação.

Exames adicionais podem ser usados para garantir o diagnóstico. Caso o diagnóstico inicial seja positivo, uma nova amostra deve ser coletada após 30 dias para confirmação.

O Ministério da Saúde interditou cautelarmente o laboratório envolvido e ordenou a retestagem dos materiais de todos os doadores. As normas para identificação de doenças transmissíveis são continuamente reforçadas para aumentar a segurança do sistema de transplantes.

O caso do Rio é considerado ímpar. O processo de rastreamento infeccioso no Brasil é rigoroso e abrange não apenas o HIV, mas também hepatites e outras doenças.

“O teste de HIV é muito sensível, e a transmissão em transplantes é inesperada e evitável”, afirma um especialista na área. O erro no caso do Rio foi atribuído ao laboratório responsável pelos testes, que não apresentou a documentação adequada.

Os novos testes de HIV têm uma janela de apenas quatro semanas, o que reduz o risco de contaminação. A avaliação completa do doador é essencial para evitar problemas durante o processo de doação.

O HIV atinge principalmente os linfócitos T CD4+, modificando seu DNA e se replicando. A transmissão pode ocorrer por relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas ou de mãe para filho.

A prevenção combinada é considerada a abordagem mais eficaz contra o HIV, utilizando várias estratégias simultâneas. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma das principais formas de prevenção.

A testagem é recomendada após exposições de risco, e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) pode ser utilizada dentro de um período específico após um contato potencial.

Estima-se que um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil, com uma distribuição entre homens e mulheres. O número de óbitos relacionados ao HIV/Aids tem mostrado variações ao longo dos anos.

Dados indicam que a mortalidade entre pessoas negras é significativamente maior do que entre brancos. Apesar das reduções nos números, a mortalidade ainda é uma preocupação.

Entre 2007 e junho de 2023, foram notificados casos de infecção pelo HIV no Brasil, com maior incidência entre homens na faixa etária de 25 a 39 anos.