07 de setembro de 2024
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HOMICÍDIO | CAMPO GRANDE (MS)

Polícia: Railson matou Danilo por ele ser homossexual

Suspeito depôs à polícia fazendo acusações contra sua vítima

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A Polícia Civil de Campo Grande (MS) pediu a prisão preventiva de Railson de Melo Ponte, de 27 anos, suspeito de matar o estudante de mestrado, Danilo Cezar de Jesus Santos, 29 anos, que estava desaparecido desde domingo (5.mar) e foi achado morto na 4ª.feira (8.mar), em uma vala, nos fundos de um terreno baldio na Rua Marechal Rondon, no Centro da Capital sul-mato-grossense. 

O jovem foi morto asfixiado por um golpe de mata-leão realizado por Railson. 

Para os investigadores, Railson matou o jovem por motivo torpe, pelo fato de a vítima ser homossexual.

Em depoimento nesta 5ª.feira (9.mar), Railson confessou o crime, alegando, entretanto, que agiu após a vítima tentar insistentemente manter relação sexual: "Ninguém combinou programa", argumentou o suspeito durante interrogatório. 

Danilo desapareceu na manhã do domingo (5.mar), após ficar sozinho no final de uma balada na Loop Music Hall, na Rua Doutor Temistocles, no Centro da cidade. 

O jovem foi visto vivo pela última vez, seguindo Railson em imagens de câmera de segurança. Eis o vídeo: 

Ao explicar esse trajeto, em seu depoimento, Railson alegou que eles estavam indo até um local 'buscar drogas'. Narrou que Danilo estava interessado na compra de entorpecentes, mas ao chegarem lá, o ponto estava fechado. 

Foi então que eles foram para o local onde Danilo foi achado morto. "Como não tinha ninguém, fomos para aquelas ruas de baixo", contou o suspeito.    

Em meio a mata, Danilo estava em posse de R$ 50 que seria que seria do suspeito, mas que seria devolvido. "Ele falou que ia me fazer um Pix depois, porque eu tinha base e a gente queria mais droga", argumentou.  

No local do assassinato, na versão do suspeito, havia outro usuário fumando em uma vala aos fundos. "Fiquei fumando lá e ele queria ter relação sexual, queria fazer programa". Railson disse não ter gostado das supostas investidas de Danilo. "Eu agarrei assim no pescoço dele, afastei ele para lá", demonstrou com gestos em frente ao delegado José Roberto de Oliveira. "Nisso a gente já tinha discutido, porque ele não achou meus R$ 50 e não queria dar o celular", acrescentou. 

Suespeito demonstra como enforçou Danilo. Foto: Reprodução Suespeito demonstra como enforçou Danilo. Foto: Reprodução 

A pessoa que estaria usando drogas no terreno foi embora. Nesse momento, Railson decidiu enforcar Danilo para tomar dele os pertences. Depois de enforcá-lo, jogou o corpo no barranco abaixo: "Só empurrei".

Railson entrou em contradição várias vezes durante o depoimento. Ele justificou que não se lembrava bem, pois: "Era umas 7h e eu estava virado de droga. Uso de tudo, base, pó, maconha". 

Inicilmente, ele havia negado que teve relações sexuais com Danilo, mas depois entrou nessa narrativa. O motivo da irritação do ataque assassino de Railson, segundo ele, foi em razão de supostas investidas sexuais. "Ninguém combinou de fazer programa. Pensei, vou desmaiar ele para pegar meu dinheiro, eu não queria matar, nem sabia que esse cara tinha morrido", revelou. 

Após o crime, Railson fugiu com o celular da vítima, mas ao perceber que se tratava de um iPhone, jogou no córrego. Um vídeo da fuga também foi duvulgado. Eis: 

O suspeito foi preso enquanto cuidava de carros no entorno da igreja Perpétuo Socorro, na Avenida Afonso Pena, na 4ª (8.mar). 

A Polícia Civil pediu exames que irão comprovar se houve relação sexual entre a vítima e o autor. Danilo foi encontrado com a bermuda abaixada e tinha "lesões compatíveis de ato sexual", conforme a polícia. Railson confirma que os dois estavam com as bermudas baixas durante o crime. 

QUEM ERA DANILO CEZAR DE JESUS SANTOS?

Danilo. Imagem de arquivo.  Escreva a legenda aqui

Era acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) na Universidade Federal de MS. Danilo era graduado em Ciências Sociais e cursava Mestrado desde 2021, pesquisando o contato étnico e nacional entre estudantes na fronteira entre Brasil e Paraguai. Fazia parte do Laboratório de Antropologia Visual Alma do Brasil (LAVALMA) e do Grupo de Estudos Fronteiriços (GEF) da UFMS. 

"A Adufms manifesta sua solidariedade à família, amigos e colegas de Danilo, o “Dan”, como era carinhosamente conhecido. Desejamos força e serenidade para atravessar este momento. Manifestamos também nossa preocupação e revolta a respeito da falta de segurança na cidade, que tem acometido a juventude e criado situações de vulnerabilidade. Exigimos, por parte das autoridades municipais e estaduais, políticas efetivas de segurança", disse a entidade ligada á Universidade Federal.  

A família realizou uma campanha de arrecadação de fundos para o custeio do velório e enterro. De acordo com familiares e amigos próximos, rapidamente, o custeio foi alcançado por meio de doações. 

A deputada federal Camila Jara (PT), fez uma homenagem na rede social ao jovem, dando adjetivos de carinhoso e inteligente para ele, na legenda de fotos em que eles estão abraçados.  

Camila Jara abaraça Danilo Ceza. Foto: Arquivo Camila Jara abaraça Danilo Ceza. Foto: Arquivo 

"Danilo Cezar de Jesus Santos, nosso Dan, era uma pessoa incrivelmente carinhosa e inteligente. Tivemos a oportunidade de dividir com ele a luta por justiça e a defesa dos direitos humanos no Mato Grosso do Sul. Ele parte, mas deixa lembranças alegres, de afeto e carisma, além de um sorriso contagiante que estará sempre em nossa memória. Esse dia 08 é historicamente um dia de luta, hoje, torna-se um dia de luto pela partida prematura de Dan. Nossos sentimentos a todos que foram impactados pelo coração bondoso do nosso amigo. Vá em paz, Dan. Continuaremos lutando pelo que você sempre acreditou e defendeu", postou a parlamentar.  

*Com informações do Campo Grande News.