21 de dezembro de 2024
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NACIONAL | CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (ES)

Pecuarista preso por matar Roseli tinha 205 perfis de mulheres em um cofre

Fernando Schereder nas redes sociais era um nome falso, pois o homem era casado e usava diversos perfis com nomes diferentes, dizem investigadores

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O pecuarista Alexandre Vaz Nunes, de 54 anos, preso em (20.out.21) em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, suspeito de matar e enterrar a vendedora Roseli Valiate Farias, de 47 anos, tinha em um cofre na sua casa em Cachoeiro um catálogo com perfis de 205 mulheres que conheceu pela rede social. 

A informação é da Polícia Civil do município, que explicou que os catálogos estavam armazenados em 17 pen-drives que ficavam guardados dentro de um cofre. No mesmo local, também foram achadas armas e munição. Uma delas, uma pistola, suposta arma do crime.  

De acordo com o delegado-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Felipe Vivas, foram identificadas conversas que o suspeito teve com 205 mulheres entre 40 e 60 anos, que haviam sido catalogadas por nome, idade e a cidade de onde elas são, em pastas no dispositivo.  

Assim como as mulheres que tiveram o perfil armazenado, Alexandre também conheceu a vendedora Roseli, pela internet, após o marido dela morrer vítima da Covid-19.

Parentes da vendedora disseram à polícia que a Roseli estava se relacionando com o pecuarista há poucos meses e que recentemente descobriu que o homem usava um nome falso e era casado. As investigações apontam que ela tentou terminar o relacionamento e isso pode ter motivado o crime. No entanto, o inquérito do caso ainda não foi concluído.

De acordo com o delegado, a polícia de fato descobriu que Alexandre usava o nome falso de Fernando Schereder nas redes sociais. Na casa dele havia um crachá com uma foto sua, mas com o nome de Gustavo Hoffman e a função de engenheiro.

O delegado afirmou que as mulheres cujos perfis foram encontrados armazenados não serão acionadas, já que o motivo do inquérito é o assassinato de Roseli. Contudo, Vivas orientou que as mulheres procurem a Polícia Civil caso tenham sofrido algum tipo de golpe ou prejuízo envolvendo o homem preso.

ASSASSINATO E OCULTAÇÃO

Roseli desapareceu em de 17 de outubro, tendo sido encontrada morta com um tiro na cabeça numa praia às margens de uma estrada em Presidente Kennedy, há 38 km do local do feminicídio. Alexandre mesmo que indicou o local onde havia enterrado a mulher, depois de ter sido descoberto sua estratégia criminosa. 

Segundo a polícia, no domingo o autor convidou a vítima até sua casa, no Bairro Santo Antônio, para que ela fosse assistir ao jogo do Flamengo com ele. Inicialmente, quando convocado a depor, em 18 de outubro, o pecuarista disse que  não sabia onde a mulher estaria.  

O carro da vítima, um Corolla, foi encontrado no mesmo dia do depoimento, no município de Presidente Kennedy. O veículo estava trancado, com pertences dentro, menos o celular. 

O delegado Vivas, concedeu uma coletiva à imprensa na Delegacia e explicou como tudo aconteceu e como o veículo foi parar na outra cidade. 

  • Em 17 de outubro - O pecuarista recebeu a vítima para assistir o jogo. Ele esperou ela adormecer na sala, pegou uma pistola e disparou contra a cabeça dela. Depois disso, o suspeito enrolou a mulher no cobertor que ela usava para se aquecer e a deixou alí.  
  • Às 22h01 de 17 de outubro - Alexandre resolveu se desfazer do carro da vítima. Ele então, levou o Corolla até a cidade vizinha (Presidente Kennedy, há 38 km). Depois disso, retornou à pé, chegando às 22h24 em casa. Ele foi flagrado por diversas câmeras de estabelecimentos comerciais fazendo o trajeto. 
  • Em 18 de outubro - Na manhã da segunda, horas após o assassinato, a polícia disse que mandou uma equipe até a casa do homem, após saberem que a mulher, até então considerada desaparecida, tinha um relacionamento. “De imediato identificamos essa pessoa e fomos até a casa dele. Chegando lá, o carro estava na parte de fora da residência, o que demonstrava que ele estava em casa. Os policiais começaram a chamar e ele não atendia. Isso aí despertou mais ainda a estranheza. Se a pessoa está em casa por que ela não atende? Então deixamos uma intimação para ele e, paralelamente a isso, começamos a analisar imagens das imediações da residência dele”, contou o delegado. De fato o suspeito estava na casa, mas não saiu, porque ainda estava na sua sala o corpo de Roseli, enrolado a um lençol. Sem autorização, ele sabia que os policiais não poderiam entrar na casa. 
  • Na tarde de 18 de outubro - Diante da ameaça de ser descoberto. O homem foi depor à Polícia. Onde disse não saber do paradeiro da mulher. 
  • Às 20h01 de 18 de outubro - O pecuarista é visto por imagens de câmeras entrando de ré na garagem com a sua camionete Ranger 4x4. A polícia diz que lá dentro ele colocou o corpo na carroceria e seguiu em direção Praia das Neves (há 64,6 km também em Presidente Kennedy). O local escolhido, diz a polícia foi terreno arenoso, onde o suspeito, usando uma pá e uma picareta, fez uma cova rasa e ocultou o corpo de Roseli.

PRISÃO E CONFISSÃO 

De acordo com o delegado do caso, as câmeras dos comércios ajudaram a Polícia Civil a desvendar todo o crime e prender Alexandre que, diante das imagens, acabou confessando o crime. 

“Só foi possível a elucidação deste crime diante dos inúmeros estabelecimentos que compartilharam as imagens com a polícia. Nós conseguimos, por meio das análises das imagens, verificar que o veículo da Roseli chegava na residência desta pessoa 18h48", explicou. 

Depois disso, ela manobrou na rua e parou em frente ao carro dele.  Às 20h59 do domingo este veículo deixa o local, segue pela Aristides Campos. "Eu conversei com a minha equipe e disse: se este veículo seguiu e foi abandonado lá, vamos analisar as imagens e vê-lo chegando", indicou.

Assim, segundo o delegado, começaram a procurar, analisando todas as imagens no trajeto. "E confrontamos com as outras informações que tínhamos, daí conseguimos saber mais ou menos o horário em que ele estava em casa, 21h46. E se o carro saiu às 20h59, nós tínhamos de 21h00 às 21h46 para analisar... Nisso começamos a observar que um indivíduo entra na rua às 21h44, caminhando. Não dava para ver se era ele, decidimos então seguir o rastro contrário. Eu disse a minha equipe, eu quero ver desde o Rinkão pra cá, e não deu outra. O cara vem caminhando desde o Rinkão até a casa dele, às 21h44", completou. 

Conforme o delegado, um policial fez o mesmo trajeto a pé, para ver quanto tempo ia levar e demorou 36 minutos da Viação Itapemirim à casa no bairro onde mora o suspeito. "Já tínhamos elementos suficientes. Quando ele veio intimado na segunda-feira, disse que tinha contato com Roseli, mas, naquele dia não, pois ele ficou vendo o jogo do Flamengo. Continuamos analisando as imagens e vimos que, às 22h01, ele sai com o veículo dele. Quem é flamenguista sabe, um torcedor não vai abandonar o jogo do Flamengo na metade. Tinha alguma coisa estranha, o cara é flamenguista como ele disse. Às 22h24 ele retorna. Nós representamos por algumas medidas e  conseguimos comprovar que a dona Roseli esteve no ambiente em determinado horário, a partir de então, nós representamos por busca e apreensão e por prisão temporária dele", destacou. 

A prisão foi autorizada e o suspeito capturado na casa de uma outra namorada. "Nós conseguimos efetivar a prisão dele ontem à tarde [20.out], na casa da namorada", disse o delegado.

No momento em que foi preso o pecuarista se manteve meio arredio e frio. "Fomos à casa dele, quando chegamos, a casa estava intacta, limpa. E ele, seguro de si, mas depois que começamos a conversar e mostrar o que a gente tem, diante de uma situação dessa, ele de fato veio falar que aconteceu", finalizou o investigador.  

A reportagem buscou contato com a defesa do preso.