O julgamento do caso de Sophia Ocampo, morta aos 2 anos e 7 meses em janeiro de 2023, teve início nesta 4ª feira (4.dez.24), em Campo Grande. A menina foi brutalmente espancada e submetida a uma rotina de torturas físicas e psicológicas que culminaram em sua morte, segundo a acusação do Ministério Público. A mãe, Stephanie de Jesus da Silva, e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, estão sendo julgados por homicídio triplamente qualificado, tortura e abuso sexual.
Crime que chocou o país
Na tarde de 26 de janeiro de 2023, Sophia deu entrada já sem vida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Coronel Antonino. A mãe alegou que a menina havia passado mal, mas exames preliminares mostraram lesões graves pelo corpo e apontaram que a morte ocorreu horas antes. O laudo necroscópico revelou a causa do óbito: trauma raquimedular na coluna cervical e hemotórax bilateral, além de sinais de violência sexual e agressões antigas.
A investigação apontou que Sophia foi vítima de agressões frequentes pelo padrasto, com o consentimento da mãe. Conversas de WhatsApp recuperadas pela polícia mostram Stephanie e Christian combinando desculpas para justificar os ferimentos da menina, como “dizer que caiu no parquinho”.
Detalhes perturbadores
Em mensagens trocadas, Christian confessava os abusos e a violência. Em agosto de 2022, ele justificou uma mordida no braço da menina dizendo: “Sabe que não controlo a mordida, ela é macia demais.” Em outro episódio, relatou uma surra que deixou Sophia com a boca sangrando e um galo na cabeça.
O filho de Christian, uma das testemunhas, contou em depoimento que viu o pai chutar Sophia, quebrando sua perna. A violência foi constante, e a menina chegou a ser levada 30 vezes a unidades de saúde com machucados, sempre acompanhada de justificativas fabricadas pelos réus.
Dia de dor e indignação
O julgamento começou com o depoimento do médico legista que detalhou as lesões encontradas no corpo da criança. “A violência foi tamanha que a coluna vertebral da menina sofreu um trauma tão severo que o pescoço girou em 360 graus, possivelmente causando morte instantânea”, disse o especialista.
O pai biológico de Sophia, Jean Ocampo, esteve presente no tribunal e chorou ao ouvir os relatos sobre os últimos momentos da filha. A frieza dos réus, que não demonstraram qualquer reação, contrastou com a emoção da plateia.
O caso Sophia é considerado um dos mais brutais de violência infantil em Mato Grosso do Sul e expõe a falha de um sistema que não conseguiu proteger a menina. O julgamento deve durar dois dias e será marcado por depoimentos e provas que retratam a dimensão da crueldade a que a criança foi submetida.