Sete pessoas, entre elas três indígenas e dois adolescentes, foram resgatadas em condições análogas à escravidão na Fazenda Bahia dos Carneiros, localizada na zona rural de Porto Murtinho, região de fronteira com o Paraguai. A ação foi coordenada pela Fiscalização do Trabalho e encerrada na 4ª feira (3.abril.25), com apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Polícia Militar Ambiental, da Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo da Sejusp/MS e da Polícia do Ministério Público da União.
Segundo o procurador do Trabalho Paulo Douglas Almeida de Moraes, os trabalhadores viviam em condições degradantes, sem acesso a água potável, banheiros ou alojamentos adequados. Um dos resgatados relatou que preferia beber “água da chuva” à do poço da fazenda. Outro afirmou que fazia “necessidades fisiológicas no mato” por falta de banheiro. Dormiam sob lonas, em colchões velhos.
Um dos trabalhadores, único com carteira assinada, exercia a função de capataz e foi responsável por contratar os demais. Ele relatou que trabalha para o fazendeiro desde julho de 2023 e chegou a alertar sobre as condições precárias. O empregador prometeu melhorias que nunca foram cumpridas.
A propriedade está localizada em área de difícil acesso, sendo necessária a utilização de helicóptero para a ação de resgate. As diligências confirmaram os relatos da denúncia recebida pela Auditoria-Fiscal do Trabalho.
O fazendeiro responsável já foi notificado para comparecer a uma audiência extrajudicial, onde poderá firmar acordo com o MPT para pagar verbas rescisórias e compensações por danos morais individuais e coletivos. No entanto, o procurador alerta para a possibilidade de judicialização do caso, já que o empregador estaria adotando “conduta furtiva”.
“O empregador vem demonstrando conduta furtiva, o que deve conduzir para judicialização do caso com o provável pedido de expropriação da fazenda para destiná-la à reforma agrária”, afirmou Paulo Douglas.
Além da propriedade onde ocorreu o flagrante, o fazendeiro possui outra fazenda em Porto Murtinho e empresas no estado de São Paulo. Os trabalhadores relataram que também prestavam serviço em outras áreas pertencentes ao empregador. Para o procurador, a atuação do produtor revela “ganância pelo lucro fácil baseado na escravidão dos seus empregados”.
Segundo dados oficiais, este é o segundo caso de trabalho escravo registrado em 2025 em Mato Grosso do Sul. Ao todo, 33 trabalhadores já foram resgatados este ano no estado, todos em áreas rurais de Porto Murtinho e Corumbá.