21 de dezembro de 2024
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BARBÁRIE | SANTA CATARINA

Identificado o assasino do vendendor de paçocas de Blumenau

Novas imagens desmontam narrativa de "legítima defesa"

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Gleidson Tiago Cruz, de 41 anos, é o assassino do vendedor de paçocas Geovane Ferreira da Silva, de 29 anos. O crime foi cometido na manhã da 6ª feira (3.nov.23), após Gleidson sair com a filha de 2 anos, do Supermercado Giassi, na Rua São Paulo, no Bairro Victor Konder, em Blumenau (SC). 

Como mostramos aqui no MS Notícias, Gleidson se irritou com Geovane que vivia em situação de rua e vdenia paçocas na 'porta' do supermercado. Após Geovane oferecer paçocas para a filha de Gleidson eles discutiram e em uma reação violenta, Gelidson desferiu 15 facadas contra Geovane.  

O assassino foi filmado cometendo o crime e esperou a polícia no local, onde foi preso em flagrante. Veja o vídeo brutal aqui.

À polícia, Gleidson argumentou que estava defendo a filha e a si, mas novas imagens obtidas pela Polícia Civil, de câmeras de segurança da região, mostram que Geovane foi esfaqueado pelas costas quando vendia paçocas e chegou a tentar fugir do assassino, que o perseguiu para efetivar o violento assassinato.  

Diante das provas, o juiz Eduardo Passold Reis transformou a prisão em flagrante de Gleidson em prisão preventiva, levando também em consideração os depoimentos de três testemunhas. O juiz disse: “O crime foi praticado de forma violenta e cruel, sendo a vítima atingida por ao menos quinze golpes de faca, tendo o instrumento cortante inclusive ficado preso ao tórax da vítima, que caiu à beira da calçada em local de intenso fluxo de pedestres e veículos”.

As imagens flagranciais descontruiram a tese do advogado de defesa de Gleidson, Rodolfo Warmeling, que alegou que o assassino agiu em legítima defesa após Geovane ameaçar a criança.

De acordo com o magistrado, é “inviável dizer que o indiciado agiu em legítima defesa, ao menos nesse momento embrionário das investigações, porque não há nenhum elemento concreto até o momento que pudesse corroborar tal versão”.

O magistrado também rebateu a tese da defesa, de que o crime foi uma "ação instintiva de um pai [autor do crime] que estava na eminência de uma grande ameaça que colocava em risco não somente à sua integridade física, mas também, a de sua filha menor que conta com pouco mais de 2 anos de idade”.

"Mesmo que a provocação tenha partido da própria vítima – o que não é possível ainda confirmar e nem parece ser o caso – não há como ignorar que o desdobramento que se seguiu, ao que tudo indica, foi desproporcional ao contexto narrado e extrapolou os limites jurídicos de uma eventual legítima defesa”, afirmou Reis na sentença.

Na decisão da audiência de custódia que resultou na prisão preventiva de Gleidson também ficou esclarecido que a faca do assassinato estava com o próprio assassino e, em razão da sucessão de golpes, acabou por ficar presa no peito da própria vítima. Isso também dissuadiu a alegação da defesa de que a arma pertencia à vítima.  

A esposa do assassino trabalha no supermercado e está grávida. No momento do crime, Gleidson estava responsável pela filha do casal que presenciou o crime brutal.  

QUEM É AUTOR DO CRIME 

Gleidson Tiago da Cruz, de 41 anos, é natural de Sete Lagoas (MG). Ele mora com a esposa e a filha de 2 anos a 130 metros do supermercado onde cometeu o crime brutal contra Geovane, em plena luz do dia.

De pouca atividades nas redes, Gleidson  mantinha um perfil no LinkedIn, onde interagia compartilhando mensagens religiosas, motivacionais e de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele era um dos seguidores mais ativos do empresário bolsonarista Luciano Hang, das lojas Havan.

O QUE DIZ A ADVOGADA DA VÍTIMA 

A advogada Maria Cecília, que representa a família da vítima, enviou nota sobre o caso.

"A família quer que a justiça seja feita. A vítima não era apenas um vendedor de paçocas que morava na rua. Giovane era filho, irmão, tio, sobrinho, muito amado pela família. Geovane era amoroso com as crianças e não era agressivo.

Apesar de estar em situação de rua, ele frequentava a casa da família semanalmente.

Não se pode admitir que um crime bárbaro como esse, disseminado pelo ódio às minorias seja aceito pela população.

Acreditamos na polícia e no Poder judiciário para que este caso seja resolvido o mais rápido possível".

CRIMINALIZAÇÃO DA VÍTIMA 

Na tentativa de justificar as motivações do assassinato, páginas, influenciadores e veículos de comunicação ligados à extrema direita sustentam as narrativas de que Geovane era violento e teria ameaçado a criança e Gleidson. Isso, no entanto, rapidamente foi desmentido. 

Então, criaram informações falsas de que Geovane teria "200 boletins de ocorrências" provando que ele seria um indivíduo socialmente perigoso. 

Segundo a advogada Maria Cecilia Seraphim, a vítima na verdade tinha uma passagem policial por tentativa de furto em 2013. Ela explicou que além desse há mais alguns boletins de ocorrência por perda de documento, algo que costuma acontecer com pessoas em situação de rua.  

ATAQUES À POPULAÇÃO DE RUA

O crime em Blumenau é apenas uma parte do levante que atinge as pessoas em situação de rua em Santa Catarina. O estado é administrado por Jorginho Mello (PL), um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro. 

Em Itajaí, cerca de 40 pessoas em situação de rua foram expulsas pela polícia militar desde abril, quando um toque de recolher foi imposto clandestinamente a partir das 22h. Durante esse horário, a polícia se dirigia a qualquer lugar onde as pessoas em situação de rua estivessem, levando-as à força para a chamada favela do Matadouro. Esta área é afastada de qualquer urbanização, localizada aos pés de um morro, atrás do campus universitário da Univali (Universidade do Vale do Itajaí). Lá, eles foram agredidos e, em mais de uma ocasião, tiveram seus pertences queimados pela Guarda Civil Metropolitana da cidade.

Em 31 de outubro, a mídia de todo o país exibiu imagens de cerca de 40 pessoas em situação de rua sendo expulsas da cidade de Itajaí por policiais militares em suas viaturas. Eles foram "escoltados" para fora da cidade, até chegarem à entrada da cidade vizinha de Balneário Camboriú.