Na tarde de segunda-feira (14.out.24), a 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), de Brasília (DF), prendeu em flagrante três indivíduos envolvidos em um esquema de venda de medicação controlada sem receita médica, com foco na comercialização do sedativo Zolpidem, utilizado no tratamento de insônia.
A operação teve início após a interceptação de uma carga de 450 comprimidos de Zolpidem, transportada por um motoboy de uma drogaria localizada no Cruzeiro, com destino a um usuário no Lago Norte. Após a apreensão, os policiais retornaram à farmácia e prenderam o proprietário, o farmacêutico técnico responsável e o balconista, desmantelando uma das maiores operações ilegais de medicamentos controlados já registradas no Distrito Federal.
A investigação foi iniciada quando uma moradora do Lago Norte registrou uma ocorrência relatando que sua filha precisou ser internada em São Paulo devido ao vício em Zolpidem. No quarto da jovem, foram encontradas 180 caixas do medicamento, causando espanto na família, que não sabia como lidar com aquela quantidade de medicação controlada. Com as informações fornecidas, os policiais passaram a monitorar a farmácia do Cruzeiro, identificada como a fornecedora do medicamento sem receita.
Durante a operação, além do Zolpidem, os agentes encontraram diversas caixas de Ritalina, canabidiol, Alprazolam e Sibutramina à venda sem a retenção de receita médica obrigatória. A farmácia era conhecida na região por vender medicamentos controlados sem os devidos registros, atendendo dezenas de pessoas que compravam essas substâncias sem a exigência legal.
Os envolvidos foram indiciados por tráfico de drogas, crime considerado hediondo, com pena que varia entre cinco e 15 anos de prisão. “Depois da operação, recebemos informações sobre diversas outras farmácias que estariam fazendo o mesmo. Iremos mapeá-las e prender todos que busquem o lucro pelo incentivo ao vício alheio. Venda de medicação controlada sem a retenção de receita obrigatória se equivale ao tráfico de drogas, sendo uma conduta gravíssima”, afirmou o delegado Eric Sallum, da 9ª DP.
O abuso de Zolpidem tem se tornado uma epidemia no Brasil, o que levou a alertas de médicos e a uma recente mudança nas regras de prescrição e venda pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A droga possui alto potencial viciante e pode causar convulsões se a interrupção do uso for feita de forma abrupta. O Zolpidem também provoca apagões de memória, levando os usuários a realizar ações das quais não se lembram posteriormente. Esse efeito é explorado por criminosos no conhecido “golpe do boa-noite Cinderela”.
“Familiares devem ficar atentos sobre a compra e uso indiscriminado dessa medicação, avisando à polícia caso percebam que parentes a têm adquirido sem acompanhamento médico e receitas”, orienta o delegado Sallum.
De acordo com a polícia, até o final da década de 1990, o Zolpidem integrava a lista de medicamentos “tarja preta” do Ministério da Saúde, exigindo uma receita azul, mais difícil de obter. Em 2001, a Anvisa retirou o medicamento dessa categoria, passando a permitir sua aquisição por meio de uma receita de controle especial em duas vias, o que facilitou o acesso. No entanto, diante do crescimento do uso abusivo, a Anvisa restabeleceu, a partir de agosto de 2024, a exigência do receituário azul (B) para a compra do sedativo.