06 de outubro de 2024
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ABIN PARALELA

Durante suposta pescaria clã Bolsonaro 'sumiu' com um jet ski

A Polícia Federal realizou busca e apreensão na casa da família Bolsonaro em Angra dos Reis, mas eles já havia deixado o local antes da chegada da aeronave da PF. Há suspeitas de que tenham recebido informações prévias sobre a operação

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A Polícia Federal (PF) apontou que um dos jet skis usados às 6h40, de 2ª.feira (29.jan.24), para levar o clã Bolsonaro à uma suposta pescaria em Angra dos Reis, não voltou. 

Nas embarcações estavam o vereador Carlos Bolsonaro, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, assim como amigos — dentre eles o deputado Zucco (PL-RS) — e assessores.  

No dia da alegada pescaria, a casa de Carlos foi alvo de buscas da PF, durante a Operação Vigilância Aproximada, que apura a existência de uma 'Abin Paralela' que utilizou o software First Mile para espionar adversários e ajudou os filhos de Bolsonaro de 2019 a 2021.

As diligências da PF sugerem que dentre os alvos de espionagem estavam políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

As buscas da 2ª feira foram autorizadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. 

De acordo com a PF, ainda não se sabe onde foi parar o jet ski faltante. A suspeita é que ele tenha sido utilizado para para transportar e esconder, em propriedades de conhecidos na região, provas ou materiais suspeitos que estivessem com Jair e seus filhos.

INFORMANTE

A PF voou até a casa do clã em Angra dos Reis, onde a aeronave pousou às 8h40. À essa altura os bolsonaros já haviam zarpado do local. Suspeita-se que o clã teve prévio conhecimento de que seriam alvos dos federais.  

Por volta de 9h30, o deputado Eduardo voltou da pescaria em um dos jet skis, mas Carlos — alvo das autoridades —  retornou somente às 11h em um barco junto com o ex-presidente Bolsonaro.

O outro filho, senador Flávio Bolsonaro, retornou apenas após às 12h30. O próprio Flávio disse, em entrevistas, que teria ido a um almoço supostamente pré-marcado. No entanto, causa estranheza aos investigadores, já que há relatos de que, pouco após a polícia sair do local, o senador retornou ao imóvel.

DEMISSÃO 

O diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alessandro Moretti, foi demitido do cargo no dia 30 de janeiro, segundo o Palácio do Planalto. A exoneração acontece em meio a investigação da Abin Paralela do clã bolsonaro.  

Segundo cargo mais importante da Abin, a função de Diretor Adjunto será ocupada por Marco Aurélio Chaves Cepik, que anteriormente atuou como diretor da Escola de Inteligência da agência.

Embora os nomes de outros quatro diretores demitidos da Abin não tenham sido divulgados, especulações sobre a relação entre Moretti e Alexandre Ramagem, um dos principais suspeitos do caso “Abin Paralela”, têm circulado no atual governo. Durante o governo Bolsonaro, Ramagem dirigiu a Abin.

Relatórios policiais recentes indicaram a possibilidade de ligação entre a atual liderança da Abin e ex-membros da agência, incluindo Ramagem. Em relatório que embasou a penúltima fase da Operação Vigilância Aproximada, publicado no dia 25 de janeiro, a polícia apontou que membros da atual “alta direção” da Abin estavam envolvidos em uma conspiração para minar as investigações.

“A gravidade sem precedentes da situação é agravada pelo possível conluio de alguns dos suspeitos com a atual alta direção da ABIN, cujo desfecho causou danos à investigação, aos suspeitos e à própria instituição”, diz trecho do relatório.

Segundo a polícia, Moretti teria prestado declarações aos suspeitos do suposto caso “Abin Paralela”, sugerindo que a investigação tinha motivação política e seria resolvida em breve.

REUNIÃO SUSPEITA 

Um reunião relâmpago chamada em 25 de janeiro pela atual administração da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) causou espanto nos investigadores da PF.

A Abin é chefiada pelo ex-delegado da PF Luiz Fernando Corrêa que ocupou o mesmo cargo de 2007 a 2011.

Em entrevista à rádio CBN Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Luiz Fernando Corrêa era confiável, por isso ele foi nomeado para o cargo. Lula também mencionou que Corrêa formou sua própria equipe, incluindo uma pessoa que manteve contato com Ramagem, ex-diretor da Abin no governo anterior. Embora Lula não tenha citado Moretti nominalmente, afirmou que "se isso for verdade, e estiver sendo comprovado, não há clima para que esse cidadão continue na polícia".