A influenciadora Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, de 44 anos, foram indiciados por nove crimes relacionados a procedimentos estéticos na clínica KGG Estética, em Goiânia (GO).
Entre os crimes imputados ao casal estão lesão corporal gravíssima, incluindo necrose e deformações em pacientes.
Segundo a polícia, as vítimas sofreram danos irreversíveis devido a procedimentos realizados pela clínica.
A investigação, conduzida pela Polícia Civil de Goiás, começou em dezembro de 2024, após denúncias de pacientes.

O casal foi preso pela primeira vez em dezembro de 2024 e, após ser solto em fevereiro de 2025, foi novamente detido em março devido à continuação das investigações.
De acordo com o delegado Daniel Oliveira, a clínica operava como uma organização criminosa. "A estrutura da clínica parecia profissional, mas era utilizada para práticas ilegais com divisão de tarefas e objetivos financeiros", afirmou o delegado.

A investigação revelou que, além do casal, mais de 10 profissionais foram autuados por realizar procedimentos sem qualificação técnica. A clínica estava usando produtos inadequados e oferecendo serviços fora da regulamentação legal.
O casal e os profissionais foram indiciados por crimes como falsificação de produtos terapêuticos, estelionato e fraude processual.
A polícia também apreendeu R$ 2,5 milhões em bens, além de um helicóptero de luxo. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Anápolis, onde a clínica possuía uma filial.
Estima-se que cerca de 6.000 pessoas passaram pela clínica entre 2018 e 2019, com muitas delas correndo risco devido ao uso de substâncias perigosas, como óleo de silicone.
O caso continua em investigação, e o Ministério Público prepara ações judiciais contra os envolvidos. As vítimas aguardam a justiça em relação aos danos sofridos.
COMO FORAM PRESOS
A Polícia Civil de Goiás, por meio do 4º Distrito Policial de Goiânia – 1ª DRP, deflagrou a operação Face Oculta em dezembro de 2024. A íntegra.
Na época, os investigadores miravam cumprir quatro mandados de prisão e sete mandados de busca e apreensão em Goiânia e Anápolis, no âmbito de uma investigação sobre a clínica KGG Estética que realizava procedimentos e cirurgias estéticas de forma clandestina, ao menos desde 2017.
Foram alvos da operação os proprietários da clínica Karine e seu marido, Paulo César, junto aos responsáveis técnicos Daniel Ferreira Lima (odontólogo) e Jéssica Moreira dos Santos (biomédica). "Eles são acusados de realizar procedimentos fora das atribuições regulamentares, o que resultou em lesões permanentes em pacientes", disseram os investigadores na época.

De acordo com a Polícia Civil, o registro da clínica na Receita Federal e na Vigilância Sanitária indicava uma atividade voltada a serviços de “Cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza”. Isso era totalmente incompatível com os procedimentos invasivos e cirúrgicos que eram realizados no local. A investigação revelou que os profissionais da saúde atuavam sem a qualificação necessária, desrespeitando as normas dos respectivos conselhos profissionais.
Karine, que não possuía formação acadêmica ou qualificação na área da saúde, executava procedimentos invasivos, como rinoplastias, otoplastias, lipoaspirações e liftings faciais, além de fazer atendimentos e determinar a realização de tais procedimentos. Esses tratamentos eram feitos sem exames preliminares e em condições insalubres, sem a estrutura adequada, como centro cirúrgico, anestesista ou instrumentadores.
Para disfarçar a ilegalidade dos procedimentos e atrair vítimas, a clínica anunciava intervenções como "reestruturação nasal hd" e "retração de orelha", mascarando a prática de cirurgias médicas. "A organização criminosa causou deformidades estéticas e funcionais permanentes em diversos pacientes, com relatos de complicações graves, especialmente em rinoplastias", apontou.
Quando a operação foi deflagrada, 24 vítimas haviam denunciado que sofreram complicações graves, como deformidades permanentes e danos irreversíveis. Posteriormente, em janeiro de 2025, o número de denúncias subiu para 70.
Entre os crimes investigados estão organização criminosa, exercício ilegal da medicina, lesão corporal gravíssima, adulteração de produtos terapêuticos, estelionato, propaganda enganosa e a execução de serviços de alto grau de periculosidade sem autorização.
Diante da gravidade dos fatos, a Polícia Civil solicitou ao Judiciário o fechamento da clínica e o bloqueio de valores nas contas dos investigados. Estima-se que o valor de reparação para as vítimas seja de no mínimo R$ 100 mil por pessoa.
A identificação dos presos foi divulgada conforme a Lei 13.869/2019 e o Despacho da Autoridade Policial, com o objetivo de identificar novas vítimas.
OUTRO LADO
Nota à imprensa da defesa de Karine Gouveia e Paulo César
"Os advogados dos investigados Karine Gouveia e Paulo César, Romero Ferraz Filho, Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, respectivamente, informam:
Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime. Quanto ao número crescente de pessoas que têm se manifestado, os investigados respeitam profundamente, mas é necessário analisar cada caso individualmente. Por exemplo, há pessoas que não seguiram as recomendações pós-procedimento, portanto, as consequências disso não se devem ao procedimento em si. Por isso, é essencial entender cada caso de forma isolada. A defesa alerta para a importância de se realizar perícias em cada caso, o que ainda não foi feito, com a participação de todas as partes envolvidas, incluindo os conselhos responsáveis, para garantir que todas as questões técnicas sejam devidamente validadas.
Sobre os procedimentos estéticos realizados na clínica, todos os pacientes sempre foram tratados com profundo respeito e cuidado. A defesa e os investigados acreditam que todos os fatos serão devidamente esclarecidos, inclusive - mas não se limitando - aos procedimentos realizados em 2017, que só agora estão vindo a público. É necessário compreender o que ocorreu nesse intervalo de tempo. Esse entendimento é tanto um direito quanto um dever dos empresários, diante dos 8 anos de atuação no mercado e dos mais de 30 mil procedimentos realizados. Vale ressaltar ainda que os empresários investiram milhões na construção da clínica, que conta com uma estrutura de 300 metros quadrados e uma equipe de 30 funcionários. A clínica sempre tratou com seriedade as questões de insatisfação dos pacientes, buscando resolvê-las com respeito e urgência.
Sobre a clínica de Goiânia e o alvará de funcionamento da clínica de Anápolis, em razão das prisões e das apreensões de documentos, a defesa não tem condições de fazer qualquer afirmação quanto aos alvarás, dada a dificuldade de confirmação das informações. Mas ressalta que todas essas questões administrativas serão regularizadas, como sempre são, ao seu tempo e ordem, conforme determinado pela vigilância.
Sobre a formação da Karine, a defesa esclarece que ela é empresária e nunca disse ser biomédica, assim como jamais executou qualquer procedimento na clínica. Esse áudio divulgado pela autoridade policial, violando o processo que corre em sigilo de Justiça, não condiz com a voz de Karine, o que qualquer perícia pode comprovar, se for verídico e íntegro.
A defesa manifesta ainda que o que está acontecendo com a Karine e o Paulo César, para além de ser uma prisão absolutamente ilegal, a acusação da execração e condenação pública contra pessoas ainda em fase de investigação, sem ainda qualquer comprovação de culpa, para constranger o Poder Judiciário a enfrentar a ilegalidade, tal qual aconteceu com a Escola Base de São Paulo, quando uma denúncia de um suposto abuso sexual mudaria para sempre os rumos dos donos da escola, a partir da condenação pública por depoimentos sem fundamentação e comprovação.
O uso irresponsável da força da autoridade policial em um processo que corre em segredo de justiça, tem instigado e inflamado tal conduta por parte da sociedade com a divulgação de possíveis indícios, mas todas eles, sem qualquer perícia comprovada. Os casos dos quais a defesa tem conhecimento aconteceram em 2017, no início da operação de clínica, há 8 anos. E injusto tirar o direito de defesa de qualquer cidadão. É um absurdo que haja uma condenação, antes mesmo de haver uma investigação que precisa de todos os fatos periciados e comprovados.
Sobre a prorrogação da prisão preventiva, os advogados dos empresários Karine Gouveia e Paulo Cesar Dias Gonçalves, Dr. Romero Ferraz, Dr. Tito Amaral e dr. Caio Tito, respectivamente, discordam absolutamente, e irão recorrer. A defesa esclarece que não há qualquer motivação para a manutenção da prisão, uma vez que não há demonstração da sua necessidade para as investigações e que ambos podem responder às acusações em liberdade sem qualquer prejuízo para o processo. Importante lembrar que o casal possui um filho de 7 anos que está afastado dos pais há um mês. Inclusive, o STF reconhece que esse tipo de prisão, para constranger investigados e pressioná-los a renunciar aos seus direitos constitucionais, é inconstitucional".
O QUE DIZEM AS ENTIDADES
CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE GOIÁS (CREMEGO)
De acordo com a LEI Nº 12.842, DE 10 DE JULHO DE 2013, que dispõe sobre o exercício da medicina, a indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, são atos exclusivos de médicos, portanto, não devem ser exercidos por outros profissionais.
CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA
O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO) informa que não teve conhecimento prévio da operação policial realizada na manhã da última quarta-feira, 18 de dezembro de 2024, que resultou na prisão de profissionais cirurgiões-dentistas inscritos neste Conselho. Conforme divulgado pela mídia, os profissionais são acusados de realizar procedimentos estéticos e cirúrgicos que teriam causado danos físicos a pacientes.
Esclarecemos que, de acordo com a Resolução CFO nº 198/2019, os cirurgiões-dentistas possuem formação e capacidade técnica para a realização de procedimentos de Harmonização Orofacial (HOF), respeitando os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.
O CRO-GO repudia veementemente qualquer ato que exponha negativamente a imagem dos profissionais da área, que, em sua grande maioria, exercem sua profissão com excelência, dedicação e respeito à sociedade. Reforçamos nosso compromisso de zelar pela ética e pela segurança dos pacientes, promovendo uma Odontologia responsável e de qualidade.Informamos que eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos.
CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA
O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) informa que está apurando as informações divulgadas pela imprensa e só vai comentar o caso após ser notificado. Informa ainda que a Clínica que pertence à empresária Karine Giselle Gouveia Silva tem registro de Pessoa Jurídica no Conselho. A referida profissional não é biomédica.