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TEATRO

Lotado, espetáculo 'Esparrela' levou 50% de "desconhecidos" ao teatro

Secretária de Cultura esteve na plateia e disse ser positivo o Programa de Fomento ao Teatro - Fomteatro

Espedito cumprimentando o público ao final do espetáculo Esparrela - Tero Queiroz

O espetáculo Esparrela, dirigido e encenado pelo Diretor, Ator e Iluminador, Espedito Di Montebranco, teve sua última apresentação na pequena temporada, ontem, 26 de janeiro, às 20 horas. E mais do que lotar, o lugar que comportava 80 pessoas, teve um público participativo que acompanhou entre risos e agonias a história do urubu Arquimedes e seu dono, Manuel. Na platéia, cerca de 50% das pessoas disseram que não conheciam o espaço do Teatral Grupo de Rico, localizado  na Rua José Antônio, 2170, Vila Rosa Pires. Espedito reclamou a ausência de teatros em Campo Grande e disse que preferia viver da bilheteria. “Eu acho mais digno, mas não temos nem teatro. A lei de fomento é para fomentar. O Aracy Balabanian fechado, o teatro mais central, onde as pessoas poderiam frequentar”, lamentou em sua última apresentação na noite de ontem.

O espetáculo monólogo, que além de contar com a direção do ator, tem na ficha técnica grandes nomes, como o caso do preparador corporal Chico Neller que é dançarino e diretor do Espaço Ginga em Campo Grande. A obra escrita pelo ator e diretor paraibano, Fernando Teixeira, levou Espedito às suas origens. “A diferença maior é que esse texto é nordestino, em 24 anos de teatro eu nunca tinha feito nada que revivesse o lugar de onde vim, eu nasci em Bodocó no Pernambuco, eu cheguei em Campo Grande com dois anos de idade”, contou. 

A apresentação de “Esparrela”, teve duração de 51 minutos, o calor da noite ambientou o lugar por onde o personagem Manuel caminhava e suas viagens pelo agreste feitas com o urubu Arquimedes. A peça traça a figura do homem/bicho, preservado pela metáfora cênica e o poder de transformar-se em bicho, Manuel vive o drama de um homem expulso de sua cidade acusado de ter cometido um crime. Para retornar ao local, ele usa o urubu em apresentações lúdicas de dança com uso de flauta doce, instrumento considerado mágico no Nordeste. 

Em uma performace Manuel se tranforma em urubu Arquimedes em peça apresentada na Capital. Foto: Tero Queiroz 

Espedito explicou ainda que a obra só foi possibilitada por ele ter sido contemplado no edital do Fomteatro – 2018, segundo o ator, essa é uma das últimas apresentações, se não a última dos vencedores do edital. “Estou feliz por todo esse público, sou grato ao Teatral Grupo de Risco por abrir esse espaço para essa apresentação e ao edital do Fomteatro, que é o edital principal de fomento aos profissionais do teatro de Campo Grande”, anotou.

Ainda segundo Espedito, essa obra se diferencia das suas outras produzidas em 22 anos de teatro, pois, traz o mínimo para o palco. “Como sou iluminador as pessoas vieram esperando muito, mas dessa vez optei pelo mínimo, nada de muita luz, muito cenário. Porque contamos aqui uma história de liberdade e para ser livre não se pode ter muita coisa”, disse.  

Durante apresentação de espetáculo "Esparrela" nesse domingo (26), em Campo Grande, no Teatral Grupo de Risco. Foto: Tero Queiroz 

O sucesso de plateia, para o ator, se deve a sua investida nas mídias sociais e ao poder do texto. “Além de ter investidos nas mídias sociais, dessa vez, quem assistiu, voltou e trouxe mais gente, pelo poder que o texto do Fernando tem. As pessoas se divertem, elas sentem o drama, o espetáculo convida a todos para essa viagem”, explicou. 

FOMENTO AO TEATRO DA CAPITAL

Público no espetáculo "Esparrela".  Foto: Tero Queiroz.  

Entre os presentes na plateia, a secretária de Cultura e Turismo de Campo Grande, Melissa Tamaciro, ela opinou sobre o espetáculo. “Já vim em vários espetáculos aqui. Foi uma surpresa, foi muito emocionante, a primeira vez que vejo um espetáculo de perto com o Espedito. Acabei de perguntar para ele se existe uma continuidade, as pessoas precisam ver mais e mais esse espetáculo”, orientou. 

A secretária de Cultura e Turismo, Melissa Tamaciro. Foto: Campo Grande News. 

A discussão entre Fundo Municipal de Investimento Cultural (Fmic) e Fomteatro, tornou-se pauta recorrente entre os artistas de MS. Isso após a ampla divulgação da secretaria e mais do que isso, segundo artistas do teatro, a ação de abrir o Fmic para não artistas, como aconteceu nesse ano de 2019, sem prever um aumento do valor dos editais, congelado há seis anos na casa dos 4,8 milhões. Desse montante, R$ 800 mil foram reservados ao Fomteatro, o que gerou atrito entre as outras áreas - música e dança são as principais reclamantes da situação. Para eles, o teatro ter um edital próprio é injusto. Mas, segundo Melissa, o Fomteatro é resultado de uma luta da classe. “São anos de existência do Fomteatro, é muito produtivo saber que existe um recorte financeiro, que você sabe exatamente o que vai ser produzido. Primeiro que facilita entender o resultado daquele segmento em específico.  Eu sou muito favorável as ‘mutilinguagens’, mas eu sou absolutamente a favor do Fomteatro. É muito claro que o Fomteatro consegue gerar identidade nossa, nossa produção, nossa força profissional. E consegue também marcar um território de quem somos, de quem é Mato Grosso do Sul”, comentou. 

Ainda segundo Melissa, não existe prejuízo no investimento para o segmento, pois sempre ganha a população. “Talvez haja uma confusão sobre favorecimento, mas quem é favorecido é o campo-grandense. Eu estou muito contente com o resultado do Fomteatro”, finalizou. 

Espedito falou que o maior problema para o teatro em MS é a ausência de uma lei estadual para o teatro, isso impacta de forma negativa. Pois, conforme o diretor, todos os produtores ficam a depender do Fomteatro e Fmic, tornando o valor que já é pequeno insuficiente. “É ideal que se aumente a verba do Fomteatro e Fmic, porque a cidade está crescendo e aumentando o número de artistas. Mas também devemos cobrar uma postura do governo do Estado, porque se eles dessem incentivo, teríamos o dobro de produções e desafogaria o Fomteatro”, opinou. 

“O governo do estado investe milhões nas mídias, TVs e veículos. Cadê a contrapartida, eles [veículos e TVs], poderiam estar divulgando os espetáculos, porquê quando vem algo para o Shopping todos eles divulgam, precisamos formar plateia, essa é uma outra briga. 80% das pessoas de Campo Grande não sabe onde ficam os teatros, por isso quando um local cultural fecha a população não reclama, por que ela não frequenta”, acrescentou Espedito.  

‘Esparrela’ ainda não tem data de apresentações em Campo Grande, mas segundo os envolvidos na produção, o desejo é de se apresentar cobrando a bilheteria. Confira as fotos do espetáculo na galeria abaixo.