Líderes
Cinco dos principais líderes de milícias são presos no Rio
Promotora diz que não é possível ligar prisões ao caso Marielle
Cinco dos principais líderes de uma organização criminosa que vinha agindo na zona oeste do Rio de Janeiro foram presos hoje (22) durante a Operação Os Intocáveis, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço operacional do Ministério Público no estado (MPRJ). Dois dos detidos são oficiais da Polícia Militar (PM).
No grupo, estavam o major Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald, o tenente reformado Maurício Silva da Costa, o Maurição, além dos civis Laerte Silva de Lima, apontado como o braço armado da organização, Manoel de Brito Batista, o Cabelo, e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio.
Os policiais buscam capturar oito integrantes do grupo considerados foragidos, inclusive Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, também considerado homem forte da organização. Nesta terça-feira foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados. A operação contou com apoio das polícias Civil e Militar.
De acordo com as investigações, os integrantes da milícia agiam nas comunidades de Rio das Pedras, da Muzema, Tijuquinha e adjacência.
Marielle Franco
A promotora de Justiça Simone Síbilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), afirmou que, apesar de dois dos detidos terem sido ouvidos como testemunhas em outro crime, não é possível no momento vincular os integrantes de milícias presos hoje ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes, em março do ano passado.
“A operação de hoje objetivou o desmantelamento de uma organização criminosa que atua nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, inclusive a Tijuquinha. Nós não podemos afirmar neste momento que elas têm relação com o caso Marielle, mas também não descartamos a hipótese”.
De acordo com a promotora, qualquer associação entre os suspeitos e a morte da vereadora e do motorista só poderá ocorrer com o avanço das investigações. “A investigação do caso Marielle não é o objeto desta investigação. Ela é separada e autônoma e não visou prender pessoas relacionadas aos crimes da Marielle e do Anderson. Se depois, no futuro, chegarmos a conclusão de que elas têm envolvimento, aí sim será apurado, mas nos autos da investigação do caso.”
Escritório do crime
Entre os cinco presos da operação de hoje, dois são acusados de envolvimento no Escritório do Crime, um grupo de extermínio, composto por mercenários, que atuaria no estado: o major Ronald e o capitão Adriano, acusados inclusive de comandar o escritório, braço armado da organização.
Os dois, inclusive, já foram ouvidos na condição de testemunhas no caso Marielle. Novamente instigada a falar sobre o possível envolvimento, a promotora voltou a negar ligação entre as duas investigações.
“São investigações que não se confundem e não podemos, nesse momento, nem afirmar e nem descartar a participação de alguns desses integrantes no caso. É possível sim que eles façam parte do escritório do crime e as investigações serão aprofundadas nesse sentido", destacou. “A investigação do caso Marielle corre em sigilo e neste momento nós não podemos dar mais informações sobre isso.”
Saldo
Para a promotora, com base na documentação apreendida, ficou comprovada que a organização vinha praticando os crimes de agiotagem, cobrança de taxa ilegal, receptação de carga roubada e venda e locação de imóvel de forma ilegal.
Durante a ação policial, foram apreendidos seis armas de fogo, munição, dinheiro em espécie e farta quantidade de documentação relacionada a venda e locação de imóveis. Havia cheques nominais apreendidos, todos assinados, mais de R$ 50 mil em espécie em um cofre em uma das associações de moradores.
“Apreendemos também em torno de 200 folhas de cheques com valores extremamente elevados, além de talões inteiros já preenchidos e assinados, o que comprova o crime de agiotagem que vinha sendo praticado pela organização”, ressaltou a promotora.
Disque-Denúncia
A promotora de Justiça disse que a operação é decorrência de investigações levadas a cabo a partir de ligações dos próprios moradores para o Disque-Denúncia.
“Os presos são acusados de prática de extorsão mediante exigência de pagamento de taxas de moradores e comerciantes, cobrança pela utilização das calçadas, agiotagem, grilagem, receptação de carga roubada, porte e posse de arma de fogo e dominação do território de forma violenta.”