Carlos Marun
Marun reassume, mas deixa marcas importantes no Planalto
As polêmicas e o estilo despojado fazem parte do cotidiano e do perfil de Carlos Marun. E estão longe de tirá-lo de sua compenetrada e espartana dedicação àquilo que faz, na política ou na vida pessoal. No próximo dia 31 de dezembro estará se despedindo do cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da Republica e na manhã seguinte reassumirá o mandato de deputado federal.
Vai ficar na Câmara dos Deputados apenas um mês, pois em fevereiro assumem os eleitos para a legislatura 2019-2023. Marun só não faz parte desse grupo poque preferiu cumprir até o final todas as tarefas que lhe foram confiadas pelo presidente Michel Temer, amigo e correligionário do MDB. Em pouco mais de um ano – assumiu a Secretaria em 15 de dezembro de 2017 – o gaúcho que se deixou adotar por Mato Grosso do Sul cristalizou como principal interlocutor político do Planalto avanços importantes, alguns históricos, deixando marcas positivas que até adversários reconhecem.
MISSÕES - Conhecido como pitbull, batedor ou artilheiro do presidente, Marun pode ser chamado também de bombeiro, pacificador, articulador e mediador pelas intervenções que fez em diferentes momentos e situações envolvendo interesse do Planalto, do Congresso e da sociedade, sobretudo os que geram conflitos. Na paralisação dos caminheiros, a mais longa e a mais danosa à economia brasileira de todos os tempos, Marun bateu de frente com os manifestantes. Ele não se limitou a apresentar e defender as propostas governamentais para o entendimento, mas reagiu à altura, e a seu modo, aos ataques contra o presidente e sua equipe econômica.
A intervenção de Marun ajudou, decisivamente, a criar o cenário de acordos que sobreveio à traumática paralisação dos caminhoneiros. Em março, com apenas três meses no cargo, Marun acenou com um pedido de impeachment de Luís Roberto Barroso. Alegou que o ministro do Supremo Tribunal federal (STF) estava movido por interesse político ao revogar um decreto de indulto natalino assinado por Temer, autorizando ainda a Polícia Federal a prender pessoas bem próximas do presidente.
E foi descascando abacaxis o tempo todo que Marun firmou-se como principal elemento político da tropa de choque de Temer. Despertou paixões e ódios, mas se garantiu como interlocutor acreditado em ambientes difíceis, como o Senado, a Câmara dos Deputados e as grandes corporações patronais e laborais. Entusiasmou-se, desenvolveu tanto amor pelo que considera uma tarefa missionária, que resolveu não concorrer à reeleição em seu primeiro mandato de deputado federal. Optou por levar a carga ministerial até o último dia, em consideração a Temer e ao País, como ele mesmo afirma.
Das marcas que vai deixar, uma, entretanto, se sobressai nos pareceres afetivos e geopolíticos do deputado: a bem-sucedida obstinação com que perseguiu soluções para dar viabilidade ao projeto da rota bioceânica. É um dos mais caros sonhos para quem respira a necessidade e a importância da integração da América Latina. Estimulado por Temer e de canais políticos e empresariais abertos para ampliar o arco de entendimentos, Marun fez sua parte de ministro e de entusiasta do projeto, que será coroado nesta sexta-feira com as assinaturas dos presidentes do Brasil e do Paraguai para a liberação de recursos da Itaipu Binacional destinados à construção de pontes fluviais entre os dois países.
Quando encerrar seu mandato, Marun regressará a Mato Grosso do Sul para continuar tocando a vida. Não se ausentará da política. Seguirá colecionando muitos elogios, críticas, convergências e divergências. Mas terá, do Estado adotivo, o olhar de reconhecimento à coerência e à firmeza do papel desempenhado por delegação presidencial e vivido por convicção.