Por Fabio Terre
Paraguai se reergue das duas grandes gerras do continente
O candidato Mario Abdo Benítez venceu as eleições presidenciais do Paraguai, que aconteceu no mês passado. A diferença foi de apenas quatro pontos percentuais sobre seu principal adversário, Efraín Alegre, do centro-esquerdista “Partido Liberal”. “Marito”, como Benítez é chamado no país, é filiado ao Partido Colorado, conservador e de direita, e é o que se perpetua mais tempo no governo do país.
Desde o período de ditadura militar (1954 – 1989) até os dias atuais, o Partido Colorado rege o Paraguai. Mesmo com a queda do ditador Alfredo Stroessner, o partido continuou vencendo eleições. Só em 2008 essa hegemonia foi quebrada através da vitória do ex-bispo Fernando Lugo da Aliança Patriótica e pelo seu substituto, o vice Frederico Franco, do Partido Liberal, após um questionável processo de impeachment iniciado por um parlamentar colorado.
Eduardo Heleno, professor membro do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) da UFF, explica a preponderância do partido. “A hegemonia foi calcada na afiliação compulsória de funcionários públicos e de oficiais ao partido, algo que se fortaleceu muito na longa ditadura”. E o próprio golpe que depôs o general Strossner teve a participação de uma ala do Partido Colorado, o que lhe garantiu uma sobrevida”, afirma o professor.
Mario Benitez é ainda filho de Mario Abdo, que foi secretário particular de Strossner, e diz que a ditadura trouxe coisas boas para o país, apesar de condenar a tortura. O atual presidente também chegou a adotar, no início da sua carreira política, o lema de Strossner: “Paz e Progresso”. “Há entre os paraguaios certo saudosismo em relação ao período Stroessner muito devido à questão da segurança pública, mas devemos lembrar que o país cresceu e se desenvolveu muito mais na democracia, em especial nos últimos anos. Essa descrença na democracia se revela também no reduzido número de votantes na eleição”, lembra Heleno.
Incentivos fiscais atrai empresários brasileiros
Incentivos fiscais, facilidades trabalhistas, mão de obra e eletricidade mais baratas têm atraído empresas brasileiras, desde o governo Lugo, e promovido um crescimento de 5% ao ano. O sucessor colorado de Lugo, o empresário Horacio Cartes, manteve a política desenvolvimentista, mas num modelo mais excludente, promovendo o crescimento em detrimento dos direitos individuais. E agora Marito deve repetir a fórmula.
Marcelino Nunes de Oliveira, 51, é vereador e secretário de segurança de Ponta Porã, município do Mato Grosso do Sul que faz divisa com o Paraguai. Ele cita um caso de uma fábrica de seringas, que através da Lei de Mequila (onde se paga apenas1% de imposto do valor agregado, dentre outros benefícios) mudou de Manaus para Pedro Juan Caballero, de onde vende seus produtos no Brasil. Marcelino elogia ainda, o país contando que passou de “mero corredor no transporte de soja brasileira” para cultivador da commodity, já figurando entre os três maiores produtores da América do Sul.
José Cubas, 37, nasceu no Paraguai, mas vive com a esposa brasileira e o filho no interior de São Paulo. Ele é grande-mestre em xadrez e veio para o Brasil em função do esporte. Conta que por isso não sofreu preconceito aqui, como tantos compatriotas oferecendo mão de obra barata. Sobre a economia, reconheceu a melhora de seu país e cita a frase de Horacio Cartes, que é odiada pela oposição: “Usem e abusem do Paraguai”, dita numa reunião com empresários brasileiros. Mas reconhece que no esporte há ainda muito a se melhorar. “Com toda a crise que afeta o Brasil, ainda está melhor que meu país”, diz ele.
Mas o Paraguai se reergueu das duas últimas grandes guerras no continente (Guerra da Tríplice Aliança e a do Chaco) e agora exporta para países da União Europeia e se posiciona no tabuleiro econômico internacional.