Eleições 2018
Corrupção, saúde e desemprego: os desafios do futuro presidente a um ano das eleições
A um ano das eleições mais importantes do período pós-redemocratização, muitos brasileiros ainda não sabem ou não decidiram em quem votar para presidente da República. Mas o que deve ser prioridade para aquele que for eleito em 2018 já está bem definido na mente dos eleitores: o combate à corrupção, mais investimentos em saúde e a geração de emprego.
Para conhecer o que pensam os brasileiros sobre as eleições de 2018, a Gazeta do Povo percorreu 3,5 mil quilômetros de Minas Gerais, de norte a sul, durante uma semana de setembro. A escolha do estado não foi aleatória. Minas é a unidade da federação que melhor representa o país e o brasileiro, por sua localização geográfica, tamanho territorial, diversidade populacional e mazelas sociais.
Lá existe um pedaço de cada estado brasileiro. Nações indígenas e pescadores ribeirinhos, como no Norte do Brasil; sertanejos do semiárido, tal qual o Nordeste; empresários e operários de grandes cidades industriais, como na Região Sudeste; e o povo quer vive do agronegócio no Triângulo Mineiro, como no Sul e Centro-Oeste do país.
A falta de trabalho é a maior preocupação de moradores dos sertões mineiros, um retrato do interior do nosso Brasil continental, onde falta quase tudo. Já a corrupção, destacada nas médias e grandes cidades, nem sempre é citada de forma direta.
Mas basta um dedo de prosa para ficar evidente que o problema é fator decisivo na escolha do voto: a maioria dos entrevistados pela reportagem aponta a corrupção como motivo para rejeitar determinado candidato ou escolher outro que não está envolvido nos escândalos que abalaram a política nacional nos últimos anos.
Outras áreas como saúde, segurança pública e educação também são citadas como demandas mais urgentes. Para quantificar essa percepção, a Gazeta do Povo encomendou um levantamento exclusivo ao Instituto Paraná Pesquisas (veja os resultados abaixo). Foram ouvidas 2.372 pessoas, das cinco regiões brasileiras, em questionário online. O resultado da sondagem mostrou que o sucessor de Michel Temer deverá dar mais atenção para saúde (22,5%), corrupção (21,6%), segurança (16,3%), educação (15,2%) e desemprego (13,9%).
A corrupção é prioridade número 1 para a faixa etária que vai de 16 a 24 anos (23,5%) e com mais de 35 anos (22,4%) e para a população da Região Sul (24%). A saúde é maior preocupação para a população de mais baixa escolaridade (33,2%), para as mulheres (23,9%) e para a Região Nordeste (27,9%). Já para quem tem ensino superior, a educação é a necessidade mais urgente (21,2%).
“Quem conserta é Deus”
Nas andanças por Minas Gerais, em todas as entrevistas, percebe-se uma grande decepção com a política, quase uma revolta. Outros esperam do próximo presidente apenas trabalho ou um pedaço de terra para plantar, mas também soluções para a violência, a falta de médicos e remédios, e a falta de escolas, professores e transporte digno.
Alguns citam a corrupção de forma expressa quando questionados sobre qual deve ser a prioridade do próximo presidente: “Principalmente a corrupção”, afirma a estudante Camila Silva, 21 anos, estudante de administração, de Belo Horizonte, aparentando uma certa desesperança com a honestidade na política. “Hoje, mesmo se tivesse um presidente bom, com ideias boas, ele não conseguiria ir pra frente sem dar propina”.
Na mesma cidade, Adriano Pacheco, 51 anos, diretor comercial de um frigorífico, refere-se à corrupção de forma indireta quando indagado sobre suas prioridades: “Se todo esse dinheiro que foi desviado tivesse sido aplicado na saúde, na educação do país, no transporte, criação de ferrovias, não estaríamos hoje como estamos. As prioridades hoje seriam a educação e a saúde”.
A mesma preocupação é revelada pelo aposentado Levino Lopes de Souza, 68 anos, em Santo Antônio do Jacinto, cidade serrana que reúne belezas naturais e muita pobreza, na região do Jequitinhonha, nordeste de Minas. “Para mim, precisa muita coisa. Consertar a corrupção que tem muita. Mas acho que quem conserta é só Deus. Pelo povo é difícil”.
Delegado aposentado da Polícia Federal, Walter Cândido, 82 anos, morador da industrial Betim, sede da fábrica da Fiat, cobra mais “educação, segurança, saúde do povo”. Mas logo acrescenta: “Está faltando aquele governante que realmente se preocupe com o povo. O que nós estamos vendo hoje na política é a preocupação em interesse próprio só”.
Cândido trabalhou com o presidente Juscelino Kubitschek e com o governador Tancredo Neves, tradicionais políticos mineiros que cita como exemplos. Ele se diz decepcionado com o ex-presidente Lula e com o senador Aécio Neves, neto de Tancredo: “Também me surpreendeu. Conheci muito o avô dele, tive a oportunidade de trabalhar com o avô e com o pai dele. Não esperava que fosse nos decepcionar da forma como decepcionou”.
Trabalho, trabalho
Daniel Lopes Bezerra, 23 anos, vive na reserva da nação indígena Xakriabá, em São João das Missões, Norte de Minas, município que tem o índice de desenvolvimento humano (IDH) mais baixo do estado, semelhante aos de países como Angola e Paquistão.
Casado, com um filho de colo, ele aguarda pela chuva para plantar mandioca. Questionado sobre as prioridades, responde rápido: “Falta é trabalho, né?” Ele conta como tem se virado: “Trabalho na roça mesmo. Acho um servicinho ali um dia, um dia não. Fico uns dois meses parado”.
Na mesma reserva, na comunidade Riacho do Brejo, Manuel Messias Dourado de Oliveira, 39 anos, também fala do desemprego. Ele sustenta a mulher e o filho pequeno com o trabalho na roça, mas está faltando a chuva. Fala da sua renda: “Por mês, muito que a gente acha é cinco, quatro dias de serviço. O dia tá custando R$ 35,00”.
Na periferia da cidade, João Gomes de Oliveira, 56 anos, mora com a mulher numa casa de 20 metros quadrados. É apenas uma peça de alvenaria sem reboco, com cama, fogão, armário, mesa, televisão e um aparelho de som. Ele faz relato semelhante: “Trabalho aqui, acolá, ganhando o pão. Tem semana que trabalho um dia, tem semana que não trabalho. E vou levando a vida como Deus quer”. Informa, então, a renda mensal média: “Se eu ganhar, é uns 200 contos (reais)”.
Pouco adiante, em Bonito de Minas, segundo pior IDH do estado, Osmar Oliveira Coutinho, 52 anos, trabalhador braçal, está sentado na sombra da casa para fugir no calor, na periferia, no final de uma tarde quente. Ele amplia um pouco o leque de reivindicações: “Tá precisando mais é de saúde, emprego. O desemprego tá aí. Tô desempregado. O dia que acho um biquinho, vou lá, sai o meu dinheirinho. Tá muito difícil”.
Em Uberlândia, terceiro maior IDH do estado, a arquiteta e professora universitária Giovana Merli, 29 anos, foge do calor embaixo das frondosas árvores da praça central. Saudosa dos governos petistas, ela apresenta as suas prioridades: “Acho que é falta de investimentos. A perda dos investimentos de bem estar social, de direitos sociais, desde 2016, que precisam ser retomados e fortalecidos ainda mais. Falta pensar mais no social, nos direitos das pessoas”.