Paulo Siufi fala sobre 'tudo' e avisa que é candidato em 2016 pelo PMDB, ou não
Entendendo que a população cansou e está mais exigente, diz que não está 100% feliz com seu partido, mas não o vê como o bicho-papão que muitos falam. Candidato à indicação do partido, afirma que não participará se as cartas estiverem marcadas.
MS Notícias: - Como o senhor avalia o trabalho da Câmara Municipal de Campo Grande nesses dois anos e quatro meses atípicos na política de Capital?
Paulo Siufi: - Eu acho que temos um trabalho profícuo. Tivemos uma conturbação política, que foi a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que levou a uma Comissão Processante, depois a cassação de um prefeito (Alcides Bernal – PP). Isso, queira ou não queira, abalou.
Nós temos, hoje, uma Câmara heterogênea, temos vereadores de primeiro mandato, aumentou o número de cadeiras de 21 para 29. Tudo isso era uma acomodação que poderia ter sido feita de forma menos traumática, então muita coisa que poderia ter acontecido de uma forma tranquila, não foi.
Eu até entendo que alguns levaram para o lado pessoal, para o revanchismo, mas isso não foi bom para ninguém.
Isso pode ter ocorrido pelo fato de muitos estarem em primeiro mandato?
Eu acredito que mais devido à forma como o antigo prefeito tratava a Câmara Municipal, porque os de primeiro mandato eram pessoas que já tinham certa experiência. A Luiza Ribeiro já havia sido secretária de município e de estado; Chiquinho Telles já havia sido liderança de bairro; Delei Pinheiro trabalhou durante muitos anos dentro de assuntos fundiários da prefeitura, que depois virou Emha; o Eduardo Romero tinha a bagagem de liderança no cenário cultural; Ayrton Araújo tinha sido assessor do deputado Cabo Almi por muitos anos. Cada um deles tinha um perfil, já conheciam política. Então, de paraquedas não caiu ninguém, todos tinham uma caminhada dentro da política. Mas o exercício da política é uma arte, então se você não tiver harmonia, se não souber atuar num campo que seja frutífero, as coisas não vão.
Se foi difícil (essa fase) para mim, que estou no terceiro mandato, imagine para quem estava chegando, estava conhecendo a casa. Deixamos alguma coisa e foi se pensando só na processante, só na cassação. Virou um pé de guerra, um clima tenso, porque o prefeito fez uma queda de braço com o presidente da Câmara, e isso acabou por envolver todo mundo.
Isso pode ter repercutido nas ações dentro da Câmara. Hoje estamos num momento bom, com um debate muito mais salutar, por vezes intenso entre situação e oposição.
Próprio de uma democracia.
Da democracia, eu sempre falo. Antes parece que havia uma raiva no meio um rancor. Hoje não tem mais. Então, aquele período foi nocivo a todos. Hoje o clima é harmônico, ainda que haja diferença de pensamento, de ações, de conceitos políticos, mas a gente consegue entender que o beneficiário tem que ser o município de Campo Grande.
O senhor avalia que a imagem da Câmara, perante a população, está arranhada?
Com certeza, mas isso era esperado por todos nós. Quando você tem um embate, principalmente com um cidadão que teve 270 mil votos, que foi um dos prefeitos mais bem votados desde o formato de dois turnos, vencendo um candidato que tinha o apoio de um prefeito e do governador, você tem que entender que vai ter alguma sequela para a Câmara Municipal. É normal que a gente sinta a população nos cobrando mais, até porque ainda existem falhas na atual administração, ajustes a serem feitos, e a população é imediatista. Ela quer o resultado, o asfalto, a casa da Emha, médicos nos postos de saúde, que não faltem remédios, vagas nos Ceinfs. E tudo isso precisa ser ajustado.
Como se tudo tivesse que ser resolvido já no primeiro dia da posse do eleito.
E o grupo mais prejudicado foi o dos aliados do prefeito Nelsinho Trad, aqueles que sempre deram sustentação aos governos peemedebistas?
A sequela maior veio para o nosso lado. Com certeza a pecha de que poderia ter havido uma orquestração, que não foi, que não houve; que pudesse ter havido um golpe, que também não ocorreu, porque nós entramos com todos os cumprimentos de prazo, dentro da legalidade. Não houve nada que transgredisse o Regimento Interno e a Lei Orgânica do Município, mas alguns segmentos acabaram usando esses adjetivos e, alguém usa isso até hoje e a população, às vezes, coloca dessa forma. Eu não enxergo como sendo uma coisa que seja definitiva, que seja crônica. Pelo contrário, foi naquele momento que houve esses comentários, hoje a população já aceita, mas não é tolerante como era antes. Ela cansou. É mais exigente, até por conta do cenário político nacional que esses escândalos todos causaram revolta. Infelizmente nós estamos vivendo um período difícil da nossa democracia.
Essa movimentação iniciada em 2013, que retornou em março deste ano, e que colocou o povo nas ruas em protesto em 12 de abril, serviu para o amadurecimento da classe política?
Infelizmente ainda não.
Muitos não perceberam ou não souberam “ler” esse anseio?
Ainda não, e vão pagar um preço caro. O recado das urnas é um, o recado das ruas é outro. São diferentes.
A movimentação no dia da eleição é produzida por vários fatores. Financeiros, fatores que podem ser para um e não para outro, fatores convidativos. E o fator da democracia, que me permite ir lá exercer meu direito de cidadão, de votar naquele que eu acho ser o melhor, ou até de não votar em ninguém. E o fator que mais me chamou a atenção nas ruas foi a diferença que a população tem hoje em relação à classe política.
É uma diferença gritante, como se todos fossem errados, incorretos, como se tivéssemos manchas nas nossas vidas. Eu venho da área médica. Sou médico pediatra, exerço minha profissão até hoje. Eu nunca deixei a minha profissão. Eu estou a serviço da política. A partir do momento que a população entender que eu não deva mais ter mandato, eu perco das urnas, como aconteceu nas eleições para deputado estadual.
Eu não tinha condições financeiras, meu partido tinha um candidato a governador, ele parou com um terço da campanha andada, desistiu, não nos ajudou financeiramente, e nós ficamos à deriva. O PMDB ficou esfacelado, porque houve uma divisão majoritária que repercutiu em todos nós.
Esse esfacelamento, ou cisão no PMDB já não começou com a indicação do Edson Giroto candidato à prefeitura em 2012?
Com certeza.
Porque foram preteridos nomes como o seu, do Edil, do Marun...
Na realidade, eu já havia dado uma entrevista para você, em outro órgão da imprensa, quando eu era pré-candidato, em 2011, e você havia me perguntado se eu havia me preparado para ser prefeito de Campo Grande. Eu falei que melhor que eu estava o Edil (Albuquerque), que era vice-prefeito. Era ele a pessoa que deveria ter sido indicada pelo partido. Ele era vice-prefeito, foi presidente da Câmara, tem uma abrangência no meio da indústria, do comércio, dos bairros, veio do setor bancário, era uma pessoa preparada. Mas, como eu já tinha ouvido da boca dos “maiores” que não seria o Edil, e ai ele desistiu, eu me lancei com todas as forças. E eu estava “em cima” nas pesquisas, mas não foi esse o objetivo do meu partido. Eles não quiseram aquele que teria mais condições.
Eles acreditaram que poderiam escolher um nome e este seria aceito pela população, e não é mais assim. Nós não vivemos mais na época do “coronelismo”. Nós vivemos a democracia praticada pela população, de uma forma ampla. As pessoas querem participar, elas leem mais jornais, entram mais no noticiário on-line na editoria de política.
Elas analisam mais as falas.
Quem não observa e acompanha a evolução, termina por ser lançado ao ostracismo?
É lógico, o mundo é dinâmico. Você me entrevista agora, em uma hora está on-line e todos estão sabendo. Essas pessoas de lá atrás têm que amadurecer, mas amadurecer dentro do dinamismo que o mundo tecnológico oferece.
Porque, em síntese, o político representa a população que está inserida nessa evolução. Então, ele tem que acompanhar, traduzir essa voz das ruas para o debate democrático.
Você é jornalista há muitos anos, então suponho que tenha começado na época da máquina datilográfica, hoje você não pode trabalhar assim, tem que utilizar de um computador, então teve que evoluir nesse aspecto. É a dinâmica, e nós temos que acompanhar. Hoje todos têm seu celular, tablet, computador...
Informação em tempo real.
É isso ai.
O seu nome sempre desponta como uma candidatura natural, em 2016 o senhor vai disputar a indicação do PMDB para a prefeitura da Capital?
Vou. Se tiver. É que não tem, né(?).
Mas, pelo que se analisa, depois de alguns insucessos, dessa vez vai ter.
Eu acho que dessa vez eles estão com poucas opções, mas pelo que eu estou vendo, a “velha guarda” quer voltar... Eu não sei. Eu acho que meu espaço dentro do PMDB tem dias contados. Essa é a grande verdade.
Eu nunca fui preferido, sempre fui preterido. Isso deixa a gente triste, porque quando eu fui procurado para ir para o PMDB, era para somar. Eu somei, eu acrescentei. Veja minhas votações para vereador: sai com 7.400 votos na primeira, ainda pelo PRTB que foi o meu primeiro partido; fui convidado para vir para o PMDB, tive 10.000 votos, depois 11.000 votos. O mais votado do PMDB.
Nas eleições, há desgaste por haver sido o presidente da Câmara?
Fiquei quatro anos na presidência, moralizando a Casa, fazendo os acertos que eram necessários, enxuguei a máquina. Quer dizer, passei por desgastes, e eles não reconheceram. Simplesmente tiraram uma pessoa de um partido, trouxeram pelo PMDB, e é uma pessoa boa, eu conhece Campo Grande, mas que não tinha o clamor das ruas, do povo.
O Giroto parece ter um perfil técnico muito bom, perfil para as funções que exerceu, de secretário de governo...
Excelente. Tanto é que ele está assessorando o ministro (secretário Executivo do Ministério dos Transportes) e está muito bem.
Mas não tem a empatia necessária para o palanque?
Não é o perfil dele. É uma pessoa excelente, amigo, mas...
Em relação à provável saída do deputado Marquinhos Trad, que deve acompanhar seus irmãos, o ex-deputado federal Fábio e o ex-prefeito Nelsinho, para o PSD ou outra sigla, o senhor acredita que venha a provocar uma alteração de rumos no PMDB que permita um maior peso para pessoas como o senhor, o Edil Albuquerque e Mario Cesar, que são os teoricamente pretendentes à indicação?
Com certeza. Até para que a gente possa, se não ter um candidato na majoritária, como cabeça (de chapa), de ter o vice. Porque eu vejo o PMDB hoje, infelizmente, depois dessas duas últimas eleições, como um partido enfraquecido. Desgastado e esfacelado.
A proibição da coligação na proporcional beneficia o PMDB...
Beneficia.
Em compensação deixa o candidato à majoritária isolado se ele não fizer uma boa composição?
Porque aparentemente a crítica é ao governo federal, mas não pára ai.
Não. Ela é uma crítica generalizada. Quando eles colocam a crítica à presidenta, ao partido dela e aos “seus aliados”. Engloba muita coisa.
Hoje o governo federal está passando por uma minuciosa repreensão popular. Vocês viram que soltaram os ratos na Câmara Federal, nós aqui, durante homenagem aos artistas fomos chamados de hipócritas, então, nós estamos sendo tratados de uma forma, que eu não sei te dizer de onde nem por quê, mas estamos sendo apedrejados.
Com esse novo posicionamento federal, onde o PMDB assumiu, de certa forma, o comando do governo, quando assume o comando da Câmara Federal, do Senado e tem nomeado como articulador político o vice-presidente da República e presidente nacional do partido, isso beneficia o partido?
Acho que beneficia se ele conseguir aglutinar a Câmara Federal e o Senado. Mas pelo que a gente vem sentindo, isso não está ocorrendo. Eles estão, de uma forma temporária, medindo forças.
Um paliativo na crise?
Paliativo na crise, e falam que não querem ministérios, mas querem benesses, e isso vai incomodando a população, vai enojando. Hoje a repulsa é muito grande para esse tipo de ação. Precisa tomar muito cuidado para que isso não seja uma flecha que vai, mas que volta com muita força.
É andar numa linha tênue entre negociação e negociata?
Muito tênue. É exatamente esses dois adjetivos. A negociação não pode servir de negociata. Quando se fala que vai compor uma base aliada, você vai compor para favorecer o desenvolvimento daquilo que você acredita, não o seu desenvolvimento pessoal, não as suas necessidades pessoais, mas o contexto.
Por exemplo, em Campo Grande, eu entendi que quando o prefeito Gilmar Olarte me solicitava auxílio na Saúde, era um “auxílio na Saúde”. O prefeito indicou o Dr. Jamal Salém, que é médico, e nós auxiliamos. Eu busquei soluções, fui atrás. Mas é preciso que a gente tenha isso com muita clareza. Isso não é ter benefício próprio, isso é você buscar melhoras para a Saúde da sua cidade. Porque eu represento a Saúde na Câmara Municipal. Meu slogan sempre foi “Compromisso de Fé e Saúde”.
E o senhor conhece o, digamos, corpo clínico da saúde do município...
Conheço todos, da enfermagem, da medicina, da odontologia etc.
Essa foi a conversa dos 50% que está sendo divulgada em áudio?
Claro. Muitos vídeos podem aparecer, eu falo parte da Câmara Municipal de Campo Grande, sou presidente da Comissão Permanente de Saúde daquela Casa, eu não sou o secretário de Saúde e o prefeito não precisa me temer, da forma como ele coloca no áudio. Eu sou um vereador que vou criticar, como critiquei o CEMPE (Centro Municipal Pediátrico), que era uma Lei minha, autorizando a Prefeitura desde a época do Nelsinho. Ele não fez, o Bernal não fez, o Olarte quis fazer. Ele não fez para me agradar, fez porque ele me perguntou o que deveria fazer primeiro na Saúde. Eu falei para ele atender primeiro as crianças. Não porque eu sou pediatra, mas porque eu conheço. Quando você atende bem uma criança você satisfaz a mãe, o pai, os avós.
E evita um jovem doente.
Exatamente. Agora, ele colocou uma pessoa para administrar (Renata Guedes), e eu fui contra. Fui para a tribuna. E está comprovado que ela não tinha perfil, tanto que está ai o Ministério Público pedindo a exoneração total. Pagar três vezes a mais os funcionários, eu fui contra e novamente fui para a tribuna. Le me teme por isso? Não, ele em que gostar por eu ser assim. Porque eu faço críticas construtivas. Críticas para melhorar Campo Grande. Não faço críticas para destruir ninguém, jamais.
Por que se as críticas fossem destrutivas, e objetivando benefício próprio, elas não seriam feitas publicamente, da tribuna?
E como o senhor avalia o governo Gilmar Olarte nesse pouco mais de um ano de gestão?
Avaliação é complicado, porque você ajuíza situações que não está vivenciando. Então você pode avaliar de forma incoerente, errada, você pode se exaltar em alguma situação. Ela não é objetiva quando você não em os dados na sua mão, quando você em a caneta na sua mão.
Eu fui presidente da Câmara, eu tinha a caneta na minha mão, eu sabia o que podia e o que não podia. Quanto podia dar de aumento e quanto não podia. Quando eu trazia para os vereadores eu dizia, olha nós vamos chegar nisso aqui e vai ter que economizar isso aqui, senão não vai dar. Eles entendiam e acreditavam, e os funcionários, também.
Então, o primeiro ano foi um ano, ainda traumático. Ele pegou uma prefeitura que se nós, Câmara Municipal, que fizemos uma processante, sentimos o trauma de uma cassação, imagina a prefeitura, na Saúde, Educação etc. Ficou uma instabilidade generalizada. As finanças, segundo ele, estavam desfalcadas. Não sei se ele entrou no Ministério Público, na Justiça, se foi na polícia fazer um boletim de ocorrência. Ele deve ter feito alguma coisa, porque se ele afirmou que estava desfalcada, que estava à deriva, que havia déficit, tem que investigar isso. Eu acredito que Gilmar Olarte é uma pessoa de bom senso.
Se ele fez isso, o primeiro ano não tinha como ele fazer nada além do que ele fez. Já passou um ano e um mês, muita coisa melhorou, principalmente na área que eu conheço, a Saúde. O Ceme; zerou a fila de Raio X; de ultrassom; de mamografia, que você levava até seis meses para marcar; tomografia, que demorava um ano, tempo mais que suficiente para a pessoa morrer; coisas que inviabilizam qualquer secretário de Saúde, qualquer planejamento.
Mas algumas coisas precisam mudar. Por exemplo, eu não consigo entender que uma Central de Compras seja vagarosa, porque não pode faltar remédio na Rede. Não pode faltar os equipamentos necessários para salvar vidas, ou para prevenir, que é muito melhor. Eu não consigo entender que nós não tenhamos crescimento na área habitacional. As creches, os Ceinfs, precisam ser construídos. Ele (Olarte) tem que buscar esses recursos, a equipe tem que planejar. A equipe são os técnicos que estão ali para isso.
Eu acho que a morosidade de um ano, acabou. Daqui para a frente, e eu disse ao prefeito, sou parceiro dele, faço parte da base aliada, ele não precisa me temer, mas ele tem que fazer o papel dele, e os secretários que não fizerem, ele tem que substituir. Não tem porque a gente continuar defendendo o indefensável.
Se estão fazendo buraco para tapar buraco, eu sou contrário. Se estão tapando buraco onde não tem buraco, eu sou contrário. Essa coisa precisa ficar bem clara. Se base aliada não é participar de coisas erradas. Mas também não é ter benesses. Ser base aliada é para dizer as coisas que têm que ser ditas, independente se goste ou se não goste.
Ainda que construtivas as críticas devem existir.
Tem que fazer. Se eu sou amigo, eu vou falar sobre uma coisa que fez e que eu não concordo. Esse é o papel de quem quer crescimento. Eu quero o crescimento de Campo Grande. Eu nasci, cresci, me formei, casei, tenho três filhos nascidos aqui, estudam aqui, a minha vida é Campo Grande, eu não posso desejar o mal para a minha cidade. Se hoje eu represento o povo com o mandato que me foi conferido nas urnas, com a maior terceira votação e a maior de um candidato a vereador do PMDB em toda a história, eu tenho que querer o bem de Campo Grande.
Reinaldo Azambuja, mais especificamente a Caravana da Saúde, uma vez que o senhor é da área médica, foi uma boa iniciativa?
Olha, ele está no início do mandato, acho que ele está bem intencionado. Reinaldo é meu amigo há muitos anos, acho ele muito ético, exemplar, transparente. O secretário Estadual de Saúde, Nelson Tavares também é meu amigo desde a época da faculdade. Caravana da Saúde se faz necessária como o Mais Médicos se faz necessário, mas tem que ter conjunto, harmonia. Não dá para fazer a coisa ao léu. Tem que ser bem organizado.
Você vai chegar numa cidade como, por exemplo, Itaquiraí, onde não tem oftalmologista, levar um para atendimento e, retornar após dois anos, isso para mim não é saúde. Então você tem que levar Caravana e manter esse atendimento permanente. Até que consiga ter os hospitais, como disse o governador na apresentação do planejamento, que vai colocar os hospitais polos e equipá-los. Porque tem muito hospital que não está equipado, onde não dá para atender. Foi feita a carcaça, o elefante branco, e não foi equipado. Outros têm a aparelhagem, mas não tem mão de obra. Ou está parado na caixa, o que também não pode acontecer. Então eu acho que a intenção da Caravana da Saúde é das melhores, se ela vai dar certo, ou não, eu torço para ela dar certo. Porque ela vai ser igual ao Mais Médicos, você leva para as regiões periféricas, longínquas, mas tem que dar condições desses médicos trabalharem. Tem que ter remédio, Raio X, Exames, Ultrassom, senão não adianta você colocar um cubano, venezuelano, norte-americano etc., que não vai resolver. Assistencialismo, na Saúde, não funciona. Tem que ser encarada como Saúde, não como assistencialismo.
Não se mascara a doença.
Não pode. A pessoa vai morrer. E vai dizer que o médico atendeu. Ele fez o diagnóstico, mas não tratou. De que adiantou ter atendido? Então, não serve.
A Caravana da Saúde tem início, meio, mas só pode ter um fim quando os hospitais polo estiverem dando suporte para essa região toda que eles vão abranger. Mas eu acredito que é boa a intenção e quando se tem também planejamento, na área da Saúde, tende a funcionar. Torço para que dê certo.
Santa Casa. A Comissão Permanente da Saúde vai ter que atuar junto ao prefeito nessa questão do repasse de recursos. Como está isso?
É um problema sério. A Santa Casa é o hospital municipal que nós temos, mesmo que não tenha o status e a nomenclatura. Quem deve dar as garantias para que ele permaneça funcionando é a prefeitura. E se contrapõe dizendo que ele atende 30% de pacientes vindos do interior. Então, esses 30% tem que vir do Estado. Se 30% vem do Estado, 30% vem federal (pacientes dos países limítrofes), cabe ao município 40%, o hospital é nosso, está aqui na nossa cidade.
Os médicos, os enfermeiros, os administrativos, todos são de Campo Grande. Se fechar a Santa Casa, onde eles irão trabalhar? Olha a crise: Saúde; emprego; comércio, porque essas pessoas não vão comprar mais nada, pois estarão desempregadas. Nós vamos espalhar crise por todo o lado.
Eu não consigo ver a Santa Casa fechada ou diminuindo o aporte no atendimento. Eu peguei a vereança em janeiro de 2005, e a Santa Casa estava de portas fechadas. Fui o relator da auditoria feita. No meu relatório não consta que deveria ser feita a gestão tripartite (município, estado e união ), ou a retomada pelo poder público. Para isso não foi a melhor ideia.
O senhor foi voto vencido?
É, o prefeito Nelsinho Trad entendeu que era o melhor, o governador Zeca do PT incorporou a ideia, o presidente Lula, também. Fizeram a gestão, contra o estatuto da Santa Casa, como sociedade beneficente sem fins lucrativos, mas que tem uma diretoria, pessoas que ali trabalharam uma vida inteira.
Eu já na época não entendia essa gestão tripartite como a melhor, tanto que hoje a gestão é deles. Só está havendo problemas porque não tem aporte de recursos. Só isso. Você pega hoje uma consulta do SUS, Uma Cesariana, um procedimento Cirúrgico, e não cobre o que se gasta de aparelho, equipamento, material, honorário médico, enfermagem, despesas administrativas.
Todas as Santas Casas passam por esse problema. Falta que os governos municipais, estaduais e federal entenderem que eles têm a obrigação de ajudarem. A Saúde é um bem indispensável ao cidadão. E a Lei de Responsabilidade Fiscal diz que você pode fazer o aporte de 15% ou mais na área da Saúde. Campo Grande, historicamente, faz em torno de 30%.
No meu entendimento está faltando alguma coisa que a Comissão Permanente de Saúde vai ter que entrar sim, e nós vamos decidir em reunião como subsidiar o prefeito. Eu acho que ele não conhece, mas também não dá para colocar um “mea culpa” no Olarte porque ele também não tem condição financeira agora. Ele fez um aporte de R$ 3 milhões mensais, nos últimos três meses, e agora parece que a intenção é baixar para R$ 1,5 milhão, e o governo proveria a outra parte.
Vamos procurar uma negociação, um meio termo, e o governador terá que participar. Na época do Nelsinho, ainda que de siglas partidárias diferentes, ele e o Zeca acharam uma solução conjunta. Está na hora do prefeito Gilmar Olarte, sentar com o governador Reinaldo Azambuja e encontrarem uma solução comum.
É uma questão de Estado e não de Governo?
É uma questão de Estado.
Para finalizar, não é impossível que o senhor deixe o PMDB para concorrer à prefeitura da Capital por outra legenda?
E acho o PMDB uma sigla boa, um partido que lutou pela democracia, foi contra o regime militar, tem a bandeira de luta do saudoso Ulysses Guimarães, um democrata por natureza, mas acho que está faltando esse espírito nele. Espírito de vibrar, de combater. O PMDB ficou meio frouxo, você não vê mais os peemedebistas combativos. Parece que nós nos acostumamos a ter cargos a nível federal, a ser os coadjuvantes. Se você se acostuma com isso, você vai ficando morno, e a política é dinâmica, ela é pulsante.
Houve uma acomodação do PMDB?
Sim, e isso me causa estranheza. Acomodação a tal ponto que perdemos prefeitura da Capital e Governo. Nós tínhamos quatro poderes:, prefeito, Nelsinho Trad; presidente da Câmara, Paulo Siufi; governador, André Puccinelli; presidente da Assembleia Legislativa, Jerson Domingos. O legislativo nós mantivemos e perdemos os principais, que são os executivos. E mantivemos o legislativo porque fizemos as maiores bancadas, o que permite aglutinar parceiros para eleger o presidente.
Vai ser muito difícil um partido grande como o PMDB voltar a ter os quatro poderes. Ficamos divididos. Parece que os núcleos do PMDB se esqueceram de seus aliados que são, primeiro, seus filiados, e depois os aliados de primeira hora. Parece que focamos demais no próprio umbigo.
A perda do executivo causou um torpor?
Não caiu a ficha. Tanto é que o (deputado estadual) Marquinhos Trad, em recente entrevista disse que não quer que aconteça com ele, o que aconteceu com o Edil e comigo.
Eu fico triste por virar uma referência negativa, ou seja, que outros temerem passar pelo mesmo problema. Se nós temos candidato à altura para disputar uma eleição, é nele que temos que investir. E dizer que ele não aglutina? Então vamos chamá-lo e trabalhar o seu estilo. Você tem que aglutinar com o partido e o partido estar com você. Penso eu que seria uma maneira salutar de resolver o problema.
?E a disputa interna, vamos colocar pelo que está posto, entre Edil Albuquerque, Mario Cesar e Paulo Siufi, de forma aberta, permitiria que o vencedor tivesse o apoio dos outros concorrentes, fortalecendo o candidato e o partido?
O partido sairia fortalecido. Eu tenho um segmento forte, o Edil também, e o Mario, aglutina pessoas em torno dele, como presidente da Câmara, qualquer um dos três que fosse escolhido, teria a força dos outros dois. Mas não com carta marcada. Não com nome imposto. Não fingir que a pesquisa vai valer e ser respeitada. Ai eu estou fora. Já participei uma vez disso, e deu no que deu.