Editorial
Dilma Rousseff carrega as mazelas de um PT sem autocrítica
A presidente está acuada e rejeitada. Paga o preço por ter levado a efeito uma administração desastrosa no campo político e econômico durante seu primeiro mandato, e o seu partido, o PT está sendo mais eficiente na destruição da imagem de Dilma do que os partidos de oposição. Os parlamentares e filiados de maior envergadura partidária, com as verdades próprias que constroem, distante, mas muito distante da nossa, da sentida, da vivida, conseguem destruir ainda mais a imagem da política. E pior, a tornam risível.
Um caso pequeno e bem próximo de nós sul-mato-grossenses, exemplifica bem os devaneios que, devido ao atual momento, explicam as pesquisas que colocam o quarto governo federal petista com os piores índices de avaliação desde 1 de janeiro de 2003, e contagiam o Congresso, que consegue a façanha de obter índices piores na mesma avaliação.
Em Mato Grosso do Sul o deputado Cabo Almi, que nunca se destacou por qualquer projeto que tenha apresentado e, durante seus mandatos tanto quando vereador como na posição de deputado estadual nada mais fez que não ser apenas um voto de bancada, conseguiu se superar. Apresentou um projeto criando o Bolsa Carteira de Habilitação para os já aquinhoados com o Bolsa Família e para os ex-presidiários. Sem entrar no mérito da questão, fez um gol contra para o adversário que sequer estava no ataque.
E assim vai grande parte dos parlamentares e ministros do partido. Jogando contra. Nesse caso, nesse momento, vale a sabedoria popular que diz: se você já fez a coisa errada, pare de tentar remendar, porque o remendo fica pior que o conserto.
A pérola federal foi a declaração do líder do PT na Câmara Federal, Sibá Machado do Acre, assegurando, conforme publicou na sua página do Facebook no sábado, um dia antes da Marcha contra a Corrupção, que "SUSPEITA: Que a CIA esteja coordenando a Campanha pelo enfraquecimento dos governos da América do Sul 'não alinhados', tal como fizeram para instalar as Ditaduras Militar nos anos 60. A 'Orquestra é completa'!"
E a grita vai por ai afora. Seus militantes travam uma guerra pelas redes sociais, demonizando aos que pedem a condenação de todos os corruptos envolvidos nas mais diversas falcatruas. Lembram que corrupção sempre houve neste imenso território abaixo da linha do Equador como se isso fosse questão sine qua non para uma anistia restrita aos seus. É certo que talvez não seja justo que apenas um totem seja derrubado, a presidência, mas que venham à tona todos.
Em editorial anterior, havíamos dito: “Entre os milhões de brasileiros que foram às ruas com os mais diversos discursos, haviam corruptos, corruptores e até fumantes…. todos grupos em visível vias de recolhimento e quase extinção.”
E repetimos. A imensa maioria dos brasileiros quer o fim da corrupção, e não apenas de P a T, mas de A a Z. Este contingente nas ruas sabe que muitos dos diretores e gerentes da Petrobras não são, necessariamente, militantes partidários, bem como os empresários envolvidos. Sabe que existem outros parlamentares e partidos envolvidos, mas centra suas críticas sobre o Partido que ocupa a Presidência da República, é a maior bancada da Câmara Federal, a segunda maior bancada do Senado, tem a maioria dos ministros de Estado, indicou a maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal, e é a responsável pelos acordos feitos no Congresso.
Dilma, bem, além de estar presidente da República desde 1 de janeiro de 2011, foi do Conselho de Administração da Estatal e Ministra de Minas e Energia e da Casa Civil. É pouco para se transformar em alvo?
Se as manifestações são feitas pelas elites brancas, e os manifestantes os eleitores de Aécio Neves nas últimas eleições, foi por água abaixo os argumentos que o PT transformou o país numa imensa classe média, fazendo emergir aos pobres e necessitados. Os números da pesquisa indicam outra coisa.
Chegou a hora do governo e seu partido pedra basilar fazerem uma autocrítica. Em termos de estratégia política, estão levando um banho do PMDB. E sabem bem no que isso pode dar.