Editorial
Sem atingir o céu, Torre de Babel chegou à Petrobras, e Delcídio vai para a berlinda
Hipocrisia, sinônimo de falsidade. Ação ou efeito de fingir; característica de quem não é honesto.
O ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirmou em depoimento à CPI da Câmara dos Deputados, que era “impossível” detectar atos de corrupção dentro da empresa. Segundo ele, as negociações de propina eram feitas por “um ou outro” funcionário com representantes de construtoras, e não tinham relação com os “processos internos” da Petrobras. Essa declaração seria aceitável se fosse dita por um militante defensor petista, de capacidade mediana, mas soa estranha para um PhD em Economia pela Universidade de Boston e autor de livros sobre reestruturação produtiva, mercado de trabalho, macroeconomia e desenvolvimento regional.
Ainda, para Gabrielli, os números confirmados de corrupção são relativamente pequenos em relação ao volume de operações da Petrobras. O ex-presidente estava falando de um valor estimado em R$ 10 bilhões.
Delcídio volta ao foco
Três dias após ter dito, em entrevista coletiva, que “acabaram as injustiças. Eu voltei legitimado e com mais força”, o senador Delcídio do Amaral (PT) foi mencionado pelo presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter usado critérios políticos para escolher quem investigar e citou como exemplo o arquivamento da investigação contra Delcídio.
“O embasamento do arquivamento do senador Delcídio Amaral confrontado com o que está nos outros é uma verdadeira vergonha. Se for pra dizer que a doação da Camargo ou de qualquer empresa da empresa Lava Jato contra um é motivo de pedido de abertura de inquérito e contra os outros não é, é porque tá se escolhendo quem quer investigar.”, disse Eduardo Cunha.
Se é assim, vamos deixar como está
O jornalista Juca Kfouri engrossa o coro dos defensores irredutíveis do governo petista e, em artigo afirma, não sem razão, que “nós, brasileiros, sonegamos, sem constrangimentos, meio trilhão de reais só no ano passado. O panelaço de domingo não foi, portanto, contra a corrupção.
E discorre sobre uma série de desvios de caráter do povo brasileiro, mais arraigado e presente nas “elites brancas” - que, sinceramente, Juca, não é quem vende e compra CDs piratas. Em momento algum menciona a corrupção que grassa desde o governo Lula, ou escreve uma frase que clame por Justiça, independente de partidos ou pessoas. Se esmera em desancar aqueles que batem panela de barriga cheia, e afirma que a classe pobre da periferia não se manifestou. Como o jornalista não costuma frequentar a periferia, senão passar por ela em seu automóvel, não deve acompanhar os reclamos daqueles sobre os quais recaem os aumentos de tarifas de transporte, gás de cozinha, energia elétrica, alimentos etc.
Mas, se todos tem seus pecados, para que apurar o desvio de R$ 10 bilhões em benefício de uns poucos que, na concepção do jornalista, com essa dinheirama toda, não fazem parte das elites brancas?