O governo Dilma Rousseff ainda está de meias
Há uma frase repetida, e tida como verdade, entre aqueles com queda para relações extraconjugais de que quando flagrado, se estiver com as meias no pés, ainda existe uma explicação que convença.
Em depoimento, na condição de testemunha por acordo de delação premiada firmado com o MPF (Ministério Público Federal), Augusto Ribeiro de Mendonça, da Toyo-Setal Engenharia, relatou à Justiça do Paraná, que o “Clube das Empreiteiras” formado por nove fornecedoras de serviços à Petrobras, existia desde os anos 90, mas não era exclusivo pois o universo de fornecedores era mais amplo, e que efetivamente tornou-se um grupo fechado e excluviso a partir de 2004, quando negociou com os diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia).
O cartel foi então ampliado para 16 companhias a pedido de Duque e Costa. Além de Mendonça, prestaram depoimento o também delator Julio Camargo, consultor da Toyo-Setal e Camargo Correa, a ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, o laranja Leonardo Meirelles, e o delegado da Polícia Federal, Marcio Anselmo.
O fato de mencionar a década de 1990 deu a “meia nos pés” que o governo petista precisava para buscar uma explicação convincente. E Dilma, que agora se rendeu à supremacia do ex-presidente Lula e seu conhecimento da obscura alma que anima os políticos e da ignorância política da população, sem poder repetir o bordão do “eu não sabia de nada”, uma vez que foi ministra de Minas e Energia e conselheira da Petrobras, agora na Presidência da República, com as meias nos pés, quase grita: “Quem colocou essa pessoa na minha cama?”.
Como brilhantemente postou o professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) – Marcos Cavalcante, em sua página em rede social, “Dilma está certa!”, e mais, a presidente falou: "Se em 96, 97 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso deste funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos praticando atos de corrupção. A impunidade leva a água para o moinho da corrupção".
Vamos partir do pressuposto que a presidente está correta. Se ela está correta o mesmo raciocínio vale para a década seguinte. Se em 2003, 2004 (ou 2005, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13...) tivessem investigado e punido nós não teríamos os escândalos. Como nesta época o presidente era lula e Dilma presidia o Conselho da Petrobras concluímos que se o raciocínio dela está correto Dilma está errada... Deveria, enquanto presidente do conselho da empresa, ter investigado e punido os corruptos.
Em resumo, se Dilma está certa ela está errada...
Além disso, todos (cito de novo a presidente) "os funcionários da Petrobras que praticaram os malfeitos" foram Promovidos durante o período onde lula era presidente do país e Dilma do conselho da empresa (veja o desenho)!
Ação e reação
Avalia-se a situação de crise mais pela reação dos acusados do que pela ação dos acusadores. A verdade é inconteste e dessa forma é colocada pelos fatos, a reação tende a criar outras verdades e buscar justificativas, ou criá-las. O PT, até pelo seu viés ideológico, sempre se pautou pela máxima de que “os fins justificam os meios”. A questão é que nunca deixou claro para a população quais seriam esses fins.
No caso do mensalão tentou persuadir que seria praxe, que se tornaria, portanto, correta, o uso de “recursos não contabilizados”, como o tesoureiro petista de então, Delúbio Soares, nomeou o “Caixa Dois”. Os fins, nesse caso, seria conquistar o poder e a manutenção da governabilidade. Acreditam-se “Escolhidos” para salvar a Nação.
Agora, jogam uma peneira sobre o destino dos desvios da Petrobras – que engordam contas pessoais e partidárias – tentando inocentar os corruptos (pouco saíram em defesa dos corruptores), todos pertencentes ou coniventes com seu grupo político, com o esdruxulo argumento de que “apenas deram sequência ao que era praxe administrativa”. Ainda que se acreditem a Divindade na Terra, meias não cobrem pés de bode.
A fidelidade política costuma ir até enquanto propiciar vantagens, então que Dilma Rousseff e seu staff pessoal não se iludam com a lealdade de sua base, conforme mostram os perrengues pelos quais passa o governo na Câmara Federal e, um pouco menos, no Senado. Ao trio Rei, Rainha e Torre – Lula, Dilma e José Eduardo Cardozo – acompanhado dos militantes peões, faltam mais uma Torre, Bispos e Cavalos. É bom lembrar que o xadrez é um jogo de estratégias, não de blefes.
Se houve desvios em outras épocas – e quase com total certeza houve, afinal a corrupção no país é endêmica e epidêmica – que as investigações não se restrinjam à administração petista. Mas nesse momento em que a água que entra no barco tende a afundá-lo, é imperioso que se estanque o vazamento, não que se coloquem mais pessoas na embarcação. Vamos estabilizar primeiro; jogar o sobrepeso do mar, e depois punir os responsáveis por vir esgarçando a embarcação até que se fizesse o rombo.