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Na linha de Zé do Caixão, diretor Rodrigo Aragão lança terror com toques brasileiros

O cineasta Rodrigo Aragão, 36, em seu estúdio, em Guarapari (ES)
Foto: Divulgação
Como se faz um filme de zumbis no Brasil? Com 1.500 litros de sangue falso -ou uma piscina de lona infantil recheada de calda de morango, polvilho doce e corante. Foi com essa quantidade de gosma cenográfica que o cineasta Rodrigo Aragão, 36, diz ter produzido seu último longa, o terror "Mar Negro". Será o primeiro filme do capixaba a estrear em salas comerciais do Brasil, em 27 de dezembro. Os dois anteriores, "Mangue Negro" (2008) e "A Noite do Chupacabras" (2011), ficaram restritos a festivais independentes e distribuição internacional -o que é comum ao gênero no país. "As coisas estão mudando", diz Aragão, por telefone, de sua "fábrica de monstros", que é como ele chama seu estúdio próximo a uma aldeia de pescadores em Guarapari (ES). "Meu último filme está ganhando rótulo de produção autoral, de coisa 'trash' mas com estilo próprio." "Mar Negro" é terror com mensagem ecológica: uma mancha no mar contamina os peixes e transforma os habitantes de um povoado capixaba em zumbis. No auge, um bordel é infestado por dezenas de mortos-vivos famintos. Não há computação gráfica, só maquiagem pesada. Aragão, filho de um mágico, ganha a vida como técnico de efeitos especiais em outros filmes, peças de teatro e workshops de maquiagem. "Adolescente, eu pagava cerveja para os meus amigos serem cobaias nos testes de maquiagem", conta. Ele diz que nunca recorreu a leis de incentivo para fazer os filmes. "Não por ideologia, mas porque nunca fui aprovado. Minha sorte é ter um louco que investe em mim." No caso, Hermann Pidner, 60, industrial de produção de cal que bancou as produções -a última custou R$ 270 mil. [caption id="attachment_2133" align="alignright" width="300"] O cineasta Rodrigo Aragão, 36, em seu estúdio, em Guarapari (ES)
Foto: Divulgação[/caption]   NOVO ZÉ DO CAIXÃO O baixo orçamento, os elementos brasileiros e a aposta no terror despertam comparações com outro cineasta: José Mojica Marins, o Zé do Caixão. "Somos dois autodidatas, filhos de pais que foram donos de cinemas. O Zé me inspira como realizador, mas imitá-lo é suicídio", diz Aragão. Suas referências são filmes de terror americanos dos anos 1980, como "A Volta dos Mortos-Vivos" e "A Hora do Espanto", ambos de 1985. "Mojica fazia sucesso em cinemas de rua com histórias sobre assombrações e psicopatia", diz Laura Cánepa, professora da Universidade Anhembi-Morumbi e especialista em terror brasileiro. "O Aragão fala ao público de hoje com histórias de zumbis." "Há um nicho de diretores de terror militantes. Ele talvez seja o mais famoso", diz Cánepa, que cita o paranaense Paulo Biscaia Filho e o catarinense Petter Baiestorf. O que pensa Zé do Caixão? "Os filmes precisam ser mais violentos", diz. "Aragão está no caminho certo, usa elementos brasileiros, mas fez só três filmes. Eu fiz 33." Já Ivan Cardoso, diretor que mistura horror e humor, afirma que falta apelo comercial aos filmes de Aragão. "E, em termos de mulher, os filmes dele são piores que o cinema novo: só têm mocreia." (Agência Folha de São Paulo)