JAGUAPIRU E BORORÓ
Inércia levou PMMS a fazer ataque ilegal à aldeia: 'Tem que tirar nosso sangue do Lindomar'
Imagens fortes mostram pessoas gravemente feridas, e segundo relatos dos indígenas, a PMMS estaria impedindo que as vítimas recebessem socorro
A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS), por meio da sua corporação mais violenta, o Batalhão de Polícia de Choque, invadiu aldeias nesta manhã de 4ª-feira (27.nov.24), em Dourados (MS), e fez diversas vítimas indígenas, atirando à queima-roupa, como mostramos mais cedo.
De acordo com o apurado pelo MS Notícias, o ataque violento do Choque foi contra uma manifestação pacífica dos povos indígenas, que cobravam atenção dos governos municipal, estadual e federal para solucionar o problema de falta de água que persiste há mais de 20 anos no local.
Imagens fortes mostram pessoas gravemente feridas e, segundo relatos dos indígenas, o Choque está impedindo que as vítimas recebam socorro. "Por favor, manda o SAMU entrar aqui dentro, manda o Corpo de Bombeiros, só que a polícia não quer deixar eles entrarem aqui e tem gente ferida, tem parente nosso ali, ferido, machucado. A gente vai chegar perto para socorrer. Eles jogam gás lacrimogêneo. Com eles não têm diálogo (sic)", apelou Luzinete Reginaldo, esposa do cacique Ramão Fernandes, da Jaguapiru.
Ela afirmou que essa invasão do Choque à aldeia ocorre contra uma manifestação pacífica, que nem precisaria ter sido feita se os indígenas tivessem respostas das autoridades, incluindo Lindomar Terena, Coordenador Executivo de Saúde Indígena em Mato Grosso do Sul, que nada fez para solucionar o problema da falta de água na aldeia. "Isso só chegou por culpa do Lindomar, que é um parente... Eu não sei, tem que tirar nosso sangue do Lindomar, porque ele não é parente, porque se ele fosse parente, não tinha deixado chegar a essa situação. A gente tenta o diálogo, a gente mandou documentação em PDF, a gente tentou tudo. Conversação, diálogo com Lindomar, o que ele fez? Ele ignorou, e ele estava em Dourados na sexta-feira. Por que ele não veio na nossa aldeia? Por que ele não conversou? Por que ele não nos apresentou proposta? Por que ele não pediu prazo? Não deixou chegar a esse trágico acontecimento? Tem parentes, tem crianças, tudo aqui, porque nós, que é apenas o nosso direito", desabafou.
Luzinete apontou ainda que, diferentemente desses que se dizem representar alguma pasta da causa indígena, nada do que é pedido pela aldeia é atendido. "A gente não quer cargo, a gente não quer emprego [para representantes], a gente quer água, água para viver, água para tomar banho, para cozinhar, para comer, para dar remédio para o nosso patrício, para os nossos parentes (sic)".
Por fim, Luzinete protestou contra pastas e personalidades que dizem representar os indígenas. "Eu estou indignada e eu estou aterrorizada. Cadê nossos direitos humanos também? Cadê os advogados indígenas que lutam por nós? Cadê vocês? Vocês tinham que estar conosco na linha de frente, orientando, fazendo documentos, cadê vocês agora? (sic)", concluiu.
Procurado, Lindomar disse que de fato os indígenas enviaram documento, e o Capitão Ramão o ligou. "Mas eu estava em reunião e não pude atender, aí retornei duas vezes, mas já não atendeu", disse.
Mesmo sendo apontado como inerte a situação pelos indígenas, Lindomar explicou que a equipe do Serviço de Edificações e Saneamento Ambiental Indígena (Sesani), está em contato com indígenas e que, a manifestação foi uma decisão coletiva dos Guarani Kaiowá. "Nós fizemos uma reunião em Dourados, mostrando as alternativas, porque não vamos vender sonhos... Eles ouviram tudo, mas definiram que iam fechar a BR, respeitamos a decisão legítima deles, mas o contato nunca foi negado, quando ele me ligou não pude atender, mas retornei", argumentou.
AÇÕES PÓS-MANIFESTAÇÃO
Em 25 de novembro, Lindomar encaminhou um ofício para Viviane Luiza da Silva, Secretária de Estado da Cidadania.
No documento, encaminhado com apelo do Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde Indígena, Distrito Sanitário Especial Indígena, está destacado:
"É de nosso conhecimento a falta de abastecimento de água nas Aldeias Jaguapiru e Bororó, e com isso identificamos que será necessária uma maior assistência no abastecimento de água. Como o contrato de caminhões-pipa do DSEI/MS para as aldeias de Dourados é limitado a apenas 72 mil litros por semana e o problema tem se agravado devido ao aumento do calor, aumento da população, migração para novas regiões, quedas na produção dos poços, entre outros fatores, e também como o projeto elaborado pela SANESUL ainda não teve disponibilidade de recursos e ainda teria um prazo extenso de conclusão das obras, a comunidade realizou na data de hoje, 25/11/2024, um protesto, realizando o fechamento de rodovias, solicitando soluções emergenciais".
E segue afirmando que fornecimento de água aos mais de 20 mil moradores da região devem ser regularizados. A íntegra.
No mesmo dia 25, Viviane respondeu ao ofício: "Informamos que, por meio da celebração de convênio, iremos conceder o apoio solicitado para a perfuração de um poço na região. Considerando que há um processo a ser cumprido para a formalização da parceria e execução da obra, estimamos que a conclusão do poço será necessária em aproximadamente 40 dias. Para isso, contamos com o Vosso apoio nas tratativas documentais necessárias para a execução do projeto, além da indicação da área para a perfuração do poço. Cientes de que, por meio da conjugação de esforços, será possível solucionar a referida problemática, colocamo-nos à disposição para maiores informações". A íntegra.