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ANTÔNIO JOÃO

PMMS executa jovem indígena com tiro na cabeça (vídeos)

Latifúndio 'Fazenda Barra' sobreposta a terra indígena é comandada por família de assessora do governo

Corpo de Neri Kaiowa. Foto: Reprodução

Uma equipe da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) matou na manhã desta 4ª.feira (18.set.24), Neri Ramos, um jovem do povo Guarani Kaiowá, em ataque a retomada da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, que tem 9.570 hectares e é sobreposta pela Fazenda Barra. Ele foi executado com um tiro na cabeça.

Na noite da terça (17.set.24), vídeos feitos em Antônio João anunciavam a iminência da agressão. A violência contra os Guarani e Kaiowá exercida pela PM começou na madrugada e seguiu pela manhã.

Segundo apurado pelo MS Notícias, os militares atingiram Neri a tiros e arrastaram corpo dele para uma área de mata. Os parentes indígenas tentaram resgatar o corpo, mas os policiais não permitiram. 

Além de Neri, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), disse que uma mulher foi atingida na perna por disparos de arma de fogo e os barracos da retomada foram destruídos. 

Para o CIMI, tática é a mesma: "um indígena é morto a tiros e policiais militares alteram a cena do crime para alterar, dificultar ou inviabilizar a perícia. Conforme apuração, a equipe jurídica que assessora a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, solicitou à Polícia Federal ir ao local retirar o corpo do Neri". 

Posteriormente os familiares acharam o corpo de Neri. Em imagens fortes enviadas ao MS Notícias, uma mulher que parece ser a mãe de Neri grita ao lado do corpo do filho morto na pastagem. Veja: 

 
 
 
 
 
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A Força Nacional de Segurança, que foi enviada ao Mato Grosso do Sul pelo presidente Lula (PT), para supostamente defender os indígenas, não estava na local.

De acordo com informações de pessoas no local, os policiais atuaram em conjunto com pistoleiros do latifúndio.

A Aty Guasu também denunciou que a PM não está deixando pessoas de fora da TI entrarem para noticiarem ou ajudarem os indígenas.

FAZENDA SOBRE TERRA INDÍGENA 
Os extremistas de direita Luana Ruiz, a senadora Tereza Cristina e o deputado federal conhecido como 'Gordinho do Bolsonaro'. Foto: Reprodução 

A área tomada pela Fazenda Barra, está homologada desde 2005 e enfrenta constantes disputas desde que uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu sua demarcação, em resposta a um mandado de segurança de um fazendeiro.

Latifúndio tomado pela família de Luana Ruiz na TI Nhanderu Marangatu (MS). Fonte: CAR.

A propriedade rural tem como 'donos' Roseli Ruiz e Pio Queiroz Silva, pais de Luana Ruiz, a advogada responsável pela ação que garante a 'proteção' da Fazenda Barra. Luana é ex-chefe de gabinete na Secretaria de Estado de Infraestrutura; ela foi exonerada em julho e, em agosto, assumiu o cargo de Assessor Especial III na Casa Civil, recebendo R$ 22 mil mensais.

Luana Ruiz e o extremista de direita inelegível Jair Bolsonaro, ambos do PL. Foto: Arquivo

Ativa contra a demarcação de terras indígenas, Luana liderou uma tentativa de implementar uma CPI contra o CIMI em 2019. Nas eleições de 2022, ela foi candidata à Câmara Federal, tornando-se primeira suplente pelo PL. Durante o governo de Jair Bolsonaro, ocupou o cargo de Secretária Adjunta de Assuntos Fundiários no Ministério da Agricultura.

MATANÇA INDÍGENA 

Em um recente episódio, membros da comunidade Guarani Kaiowá tentaram retomar um pequeno trecho da Fazenda Barra para chamar a atenção do STF sobre o status da Terra Indígena. No entanto, enfrentaram uma resposta violenta, com relatos de disparos que resultaram em ferimentos graves. Juliana Gomes, uma das atingidas, está internada e corre risco de amputação devido a um tiro no joelho.

Historicamente, os indígenas de Antônio João são assinados pelo estado e por capangas de fazendeiros. 

Em 2015, a liderança indígena Semião Vilhalva foi executado durante um ataque de fazendeiros.

O QUE DIZ A FUNAI

Em nota a Funai, relatou que acompanha o caso e que solicitou providências urgentes sobre a atuação da polícia na área. Veja a nota na íntegra:

Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) manifesta seu profundo pesar e indignação diante dos violentos ataques sofridos pela comunidade Guarani na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João (MS). Na manhã de hoje (18), um indígena foi brutalmente assassinado com um tiro na cabeça, conforme informações confirmadas pela unidade da Funai em Ponta Porã. A Funai informa que já acionou a Procuradoria Federal Especializada (PFE) para adotar todas as medidas legais cabíveis e está comprometida em garantir que essa violência cesse imediatamente e que os responsáveis por esses crimes sejam rigorosamente punidos. O conflito também tem sido monitorado por meio da Coordenação Regional em Ponta Porã (CR-PP). O órgão indigenista já se reuniu com o juiz responsável pelo caso, solicitando providências urgentes sobre a atuação da polícia na área. Em diálogo com a Secretária de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, a instituição reafirmou a orientação de que não deve haver qualquer medida possessória contra os indígenas da Terra Indígena Nhanderu Marangatu. Na última terça-feira (17), a Funai realizou uma reunião com diversas instâncias, incluindo a CR-PP, a Diretoria de Proteção Territorial (DPT), a Coordenação-Geral de Identificação e Delimitação (CGID), a Procuradoria Federal Especializada junto à Funai, a Consultoria Jurídica do Ministério dos Povos Indígenas (Conjur MPI) e a Procuradoria-Geral Federal (PGF). Na oportunidade, foram definidos encaminhamentos urgentes, como a solicitação da presença constante da Força Nacional na área. Diante da gravidade dos fatos, a Fundação está preparando nova atuação perante o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), a fim de se garantir a proteção da comunidade indígena. A Fundação reitera que tais atos são inaceitáveis e que está mobilizando todos os esforços para salvaguardar os direitos e a segurança dos povos indígenas da região. A Funai segue firme no compromisso de garantir os direitos e a segurança dos povos indígenas, reafirmando a urgência de medidas para interromper a violência e proteger a Terra Indígena Nhanderu Marangatu.