DIREITOS HUMANOS
Família da 'Loira do PCC' é beneficiada com o massacre de indígenas em MS
Retomadas em MS feitas com arco e flecha, enfrentam drones, caminhonetes, armas de grosso calibre e influência na alta cúpula
As comunidades Guarani e Kaiowa travam uma nova batalha contra poderosos fazendeiros desde 13 de julho de 2024, quando iniciaram retomadas de suas terras em diferentes regiões, incluindo a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina, em Caarapó e Juti, em Mato Grosso do Sul.
Um dia após o início da retomada, jagunços de fazendeiros começaram a ataques armados ferindo a tiros um indígena idoso no tekoha Guayrakamby”i.
Em seguida, fazendeiros montaram acampamentos de vigilância em frente à área retomada.
Como mostramos aqui, desde então os ataques com armas de grosso calibre ficaram escancarados e frequentes. Em 4 de agosto, ao menos dez indígenas foram alvejados a tiros.
Numa reportagem especial, o site De Olho nos Ruralistas destacou que uma das famílias fazendeiras beneficiadas com a violência contra os indígenas, para manter o uso ilegal das terras indígenas em MS, é a do casal Cleto Spessatto e Fátima Maria Spessatto, cuja filha é Jacqueline Michelle Spessato, conhecida como "Loira do PCC".
Além do pai e mãe, os tios da 'Loira do PCC', Ari e Dori, também detém terras em Dourados (MS), ao todo, a família detém cerca de 800 esquitares, sendo que aos menos 3 fazendas estão sobrepostas a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina. Os Spessatos também acumulam terras em Porto Murtinho (MS) e no Mato Grosso. Conheça o que está por trás da violência contra os Guarani Kaiowá no primeiro vídeo da série Emergências:
BATALHA FÍSICA, ESPIRITUAL E LEGAL
As retomadas em MS feitas com arco e flecha, enfrentam drones, caminhonetes, armas de grosso calibre e influência na alta cúpula.
Os povos indígenas sofrem enquanto o processo de demarcação da TI Panambi-Lagoa Rica se arrasta desde 2005. A área, oficialmente delimitada em 2011 já era para ter sido devolvida aos indígenas, mas o processo foi paralisado sob contestação judicial com base na famigerada tese do Marco Temporal – que condiciona a demarcação à ocupação das terras na data da promulgação da Constituição de 1988.
Em MS, os Guarani e Kaiowa enfrentam uma longa história de desapropriação e violência, intensificada com a expansão agrícola. Atualmente, enfrentam uma combinação de ataques físicos e pressões legais para desocupar as áreas retomadas.
O Ministério Público Federal e a FUNAI têm atuado de maneira bastante complacente. A proposta do MPF para negociar uma área reduzida e o recente posicionamento de fazendeiros em relação à colheita de milho levantam suspeitas de estratégias para justificar ataques às terras retomadas.
A relação entre o governo, ruralistas e o setor agroindustrial, como evidenciado pelo apoio político aos fazendeiros e pela inação das autoridades, sugere uma complexa rede de interesses que favorece a propriedade privada sobre os direitos indígenas.
Ainda assim, a resistência indígena persiste em meio a um contexto de violência e promessas não cumpridas, enquanto a disputa sobre a demarcação das terras segue sem solução que beneficie os indígenas.
PROTESTO
Na tarde de ontem (8.ago.24), líderes Guarani e Kaiowá protestaram em frente ao Ministério da Justiça (MJ) exigindo o fim dos ataques de fazendeiros contra a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, em Douradina (MS).
Os manifestantes cobraram a remoção de um acampamento ruralista na área indígena e ações efetivas para garantir a segurança da comunidade e acelerar a demarcação da terra.
Celso Alziro, cacique da TI, afirmou que a demarcação é crucial para acabar com os ataques. O Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) também apoiou o protesto. Assista: