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'TONHO'

Pecuarista, pai do 'Dom' é preso por chefiar Clã Mota na fronteira

Acusado de porte e tráfico de armas, tráfico internacional de cocaína e organização criminosa

'Tonho' usa terno. Dom discursa durante festa de peão em Ponta Porã. Fotos: Redes

O pecuarista Antônio Joaquim da Mota, o 'Tonho', foi preso pela Polícia Federal (PF) nesta 3ª feira (20.fev.24), em Ponta Porã (MS).

Ele é pai de Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como 'Dom' ou 'Motinha', atualmente foragido com nome na lista de procurados da Interpol (The International Criminal Police Organization).

De acordo com os federais, ‘Tonho’ é o chefe do ‘Clã Mota’ na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. 

Segundo os investigadores, o alvo é acusado de porte e tráfico de armas, tráfico internacional de cocaína e organização criminosa. "Ele estava sendo procurado desde dezembro de 2023", esclareram os federais em nota.   

A captura de ‘Tonho’ foi realizada pela manhã em sua mansão em Ponta Porã, sob sigilo. "Em razão da periculosidade do preso, a ação contou com o apoio da Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública - SEJUSP no transporte aéreo de Ponta Porã para Campo Grande/MS", disse a PF.

Equipes da Força Nacional de Segurança Pública paraguaia também teriam ajudado a proteger a mansão para o flagrante. 

‘DOM’ FUGIU

Esse é  Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, também conhecido como 'Motinha' ou 'Dom'. Foto: Reprodução

Em 30 junho de 2023, ‘Dom’ fugiu da PF usando um helicóptero. Naquele dia, ele foi um dos alvos da Operação Magnus Dominus, que mirou desmantelar um grupo de mercenários que agia na fronteira.

A PF suspeita que ‘Dom’ foi avisado, pois o guarda-costas dele, Iuri da Silva de Gusmão, que foi preso, revelou: "O chefe fugiu porque foi avisado da operação montada pela PF para prendê-lo". 

Hotéis na Europa, passeio de iate e vinhos caros: chefão do tráfico que escapou da PF ostenta luxo na web.

Como mostramos aqui no MS Notícias, em 30 de junho a PF também prendeu o 3º sargento da Polícia Militar (PM), Ygor Nunes Nascimento, de 36 anos, e mais onze suspeitos de trabalhar como um grupo paramilitar a serviço do tráfico internacional de drogas e armas entre o Brasil e o Paraguai, com atuação nas cidades de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (PY).

No mundo do crime, segundo o Ministério Público Federal (MPF), Ygor Nunes é conhecido pela alcunha 'Romanov' (sobrenome de uma família da dinastia russa). Os investigadores dizem que ele era responsável por escoltar traficantes no Estado.

Naquele dia em que ‘Dom’ fugiu, além de ‘Romanov’ foram presos outros oito brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. As prisões ocorreram em MS, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Apesar de 'Tonho' não ter sido alvo naquela operação, já é investigado há anos por envolvimento com o crime organizado.

'FREGUESES DA PF'

Da esquerda para a direita: 'Tonho', 'Dom', Cecy, Cecyzinha e o meio-irmão de Dom, Orlando Stedile. Foto: Reprodução

‘Tonho’ ostenta o título de ser um dos mais bem-sucedidos criadores de gado na fronteira sul-mato-grossense. 

Ao longo de sua carreira, manteve ligações com Dario Messer, considerado o “doleiro dos doleiros”, pela extinta Operação Lava Jato.

Em 2019, ‘Tonho’ foi preso, junto com o filho, a esposa Cecy Mendes Gonçalves da Mota, todos acusados de lavagem de dinheiro em investigação desmembrada da Operação Lava Jato. A irmã de 'Dom', Cecyzinha Mota também é investigada. As prisões, buscas e apreensões aconteceram em endereços de 15 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. Eis a íntegra.  

A Operação Patrón também teve como alvos o ex-presidente do Paraguai, Horácio Cartes, o proprietário do Shopping China, Felipe Cogorno Alvarez

A 'Patrón' foi um desdobramento da Operação Câmbio, Desligo, que descobriu que o doleiro Dario Messer, condenado a mais de 13 anos de prisão, liderava um esquema de lavagem de dinheiro e que tinha como cliente o ex-governador do Rio de Janeiro, Sério CabralEis a íntegra

Foram alvos com prisão decretada pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro: Horácio Cartes e os doleiros Dario Messer e Najun Turner, além de empresários também suspeitos de operar com câmbio ilegal e ocultar os recursos das autoridades (veja lista de alvos aqui).

Um ano depois, a mansão da família foi novamente alvo de buscas, no âmbito da Operação Hélix, acusada de tráfico internacional de cocaína transportada em helicópteros.

COMO SURGIU O CLÃ

A história da família Mota na fronteira começou nos anos 1970. O repórter paraguaio Cândido Figueiredo cobriu afirmou que  'Dom' é a terceira geração de uma família que se enriqueceu com o narcotráfico. "Os Motas são pessoas muito, muito bem conhecida na fronteira. Nos anos 70 chegou o patriarca da família — o baiano Joaquinzinho da Mota”, relatou o jornalista que cobriu o tráfico por mais de duas décadas em MS. 

“Quando ele chegou na fronteira, ele começou a armar uma fachada legal, na época era o contrabando de café, seguiram o tráfico de armas, munição, também começou a surgir a cocaína. Quando ele chegou aí já tinha o padrinho da fronteira, que era o Fadh Jamil”, completou Cândido.

LIGADOS AOS JAMIL E A RAFAAT 

'Dom' namorado a neta de Fahd Jamil, um dos chefes do crime na fronteira.

Quando Cecyzinha Mota se casou, em 2016, na lista de convidados haviam diversos membros dos Jamil. O marido dela, porém, separou-se ao descobrir o envolvimento da família Mota com o crime.

Outro chefe do crime na fronteira, Jorge Rafaat, assassinado em Ponta Porã em 2016, era padrinho de 'Dom'.

O MS Notícias procura a defesa do preso. O espaço está aberto.