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ARTIGO

O pulsar bioceânico de veias que não se fecham

Toro Candil, uma tradição que tem origem no Paraguai, foi incorporado à cultura da fronteira de Mato Grosso do Sul com o país vizinho no município de Porto Murtinho. Foto: Fábia Belo

Enquanto leio e releio tudo que encontro sobre cultura, economia e política na América Latina, revirando até obras literárias e enciclopédicas, esforço-me para não me perder do foco de agora, a modesta participação na assessoria de imprensa do Projeto "Festival de Rua do Toro Candil de Porto Murtinho". 

Extasio-me diante da imensidão desafiadora desta intrépida produção da Água Comunicação TV, conduzida pelo olhar sensível de sua produtora execuitiva, Mara Silvestre. E atrevo-me a içar comparações que venham  assim torço  ajudar-me a dimensionar um pouco do tamanho dos muitos mundos reunidos neste fantástico audiovisual. 

Este festival é a sequência de uma trilogia iniciada em 2021 com o Documentário Las Promesseras, o primeiro da série de três a ser finalizada em 2024. É um projeto muito bem fomentado pelo Investimento Cultural, presenteando não só o Estado ou o Brasil, mas todo o continente  um regalo de louvor à sua diversidade livre e criativa.

Remexi leituras que me fizeram redobrar o interesse pelo sentimento que sugere Caetano em seu "Soy Loco por Ti, América"! E fixei-me, então, na cinquentenária e atualíssima antevisão de Eduardo Galeano com a obra "As Veias Abertas da América Latina", escrita em 1971. 

Assim como águas marinhas e fluviais se beijam na região amazônica, busquei neste estrondo da natureza a inspiração  tosca, pode ser  para associá-la ao encontro de ruas percorridas no lustro literário de Galeano e na vida secular, resistente e multifacetada, de povos alinhados nas preces das promeseras à Virgem de Caacupê. 

O Toro Candil foi "escapado" da arena sanguinolenta das touradas hispânicas por povos que os quiseram vivos, para fazer as muitas Américas abrigadas numa só. A América de origens e histórias nativas e misturadas, vistas, vividas, contadas, cantadas, declamadas, dançadas, pintadas, livres e  absurdamente cromáticas, compreensíveis em todas as línguas e dialetos na leitura de almas sensíveis, estas polliglotas.

A Água Comunicação TV teve a preocupação e a ocupação de trazer bem próximas de qualquer pessoa as expressões presenciais  e não só por áudio e vídeo  dos atores verdadeiros e espontâneos protagonistas de suas próprias sagas. Os povos originários, indígenas, migrantes, aventureiros; os visionários e sonhadores, os que se lançavam ao destino imprevisível das correntezas vadias das águas ameríndias.

SERVIÇO

 AUTOR: *Edson Moraes é jornalista, poeta, escritor e editor de conteúdo