MS Notícias

EXTREMISTA DE DIREITA

Mauro Cid confirma que seguia ordens de Jair Bolsonaro à risca

Fardado, o militar usou o tempo de apresentação para se vangloriar de seu trabalho, mesmo estando preso em razão de crimes contra o Estado brasileiro

(11/07/2023) - Tenente Coronel, Mauro Cesar Barbosa Cid, durante depoimento a CPMI do '8 de janeiro'. Foto: Bruno Spada | Câmara dos Deputados

O ex-ajudante de Ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, confessou nesta 3ª feira (11.jul.23) que seguia à risca as ordens do ex-presidente e não o questionava. 

Cid está preso desde 3 de maio, acusado de ter fraudado cartões de vacinação contra a Covid-19, incluindo do ex-presidente. Cid compareceu hoje à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas do dia 8 de Janeiro (ataque de bolsonaristas e extremistas de direita aos prédios dos 3 Poderes, em Brasília).

O ex-ajudante de ordens disse que na prática, ele não atuava como Ajudante de Ordens, mas sim como um secretário da presidência. “Na prática, a função do ajudante de ordem consistia, basicamente, em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente”, explicou Cid no início de seu depoimento.

Ainda segundo o tenente-coronel, ele trabalhava como recepcionista e agendava reuniões para o ex-presidente. "Recepcionávamos os participantes e os direcionávamos ao local desejado, ficando do lado de fora das salas de reunião, sempre à disposição. Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões”, garantiu o militar.

Fardado, o militar usou o tempo de apresentação para se vangloriar de seu trabalho, mesmo estando preso em razão de crimes contra o Estado brasileiro. 

Cid também é apontado como um dos articuladores de uma conspiração para reverter o resultado eleitoral do ano passado, inclusive com planos de uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com investigações da Polícia Federal (PF), mensagens capturadas com autorização judicial após apreensão do celular de Cid evidenciam que ele reuniu documentos para dar suporte jurídico à execução de um golpe de Estado e estaria seguindo as ordens de Bolsonaro. 

Em seu telefone celular, peritos da PF encontraram mensagens que ele trocou com outros militares e que, segundo deputados federais e senadores que integram a CPMI do 8 de Janeiro, reforçam a tese de que o grupo tramava um golpe.

Relatório de investigação produzido pela Polícia Federal registra que as mensagens mostram Cid reunindo documentos para dar suporte jurídico à execução de um golpe de Estado. Nelas, o militar teria compartilhado um documento com instruções para declaração de Estado de Sítio diante de "decisões inconstitucionais do STF".

Ciente dos crimes os quais cometeu, Cid se valeu do direito de ficar em silêncio e logo no início de seu depoimento, se calor a perguntas simples. 

“Até onde tenho conhecimento, sou investigado pelo Poder Judiciário, especialmente pelo STF, em ao menos oito ações criminais. Entre elas, a suposta falsificação de cartões de vacina; a suposta participação e incitação dos atos de 8 de janeiro e a suposta fraude na [tentativa de] retirada de presentes recebidos pelo ex-presidente. Por este motivo, não poderei esclarecer diversos outros questionamentos que poderiam ser feitos para além do contexto fático [relacionado aos atos golpistas de 8 de janeiro] e, por orientação da minha defesa e com base na ordem do habeas corpus concedida pelo STF, farei uso do meu direito constitucional ao silêncio”, completou Mauro Cid, assim colocando empecilho de continuidade a sua audiência com Comissão.

REVÉS 

Sem conseguir promover as perguntas ao tenente-coronel, a CPMI do 8 de janeiro aprovou a quebra de sigilo telemático de Cid. 

Também foram aprovados a quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático de Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), registrados entre 1º de janeiro de 2022 a 30 de abril de 2023.

O colegiado aprovou ainda a quebra de sigilo telefônico e telemático de Jean Lawand, durante o mesmo período. Ele é apontado como autor de mensagens de cunho golpista, encontradas pela PF no celular de Mauro Cid.

RESPONSABILIZAÇÃO 

O presidente da CPMI, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA) afirmou também que irá denunciar o ex-ajudante de ordens ao STF, devido a Cid ter descumprido uma ordem judicial expedida pela Corte. O STF concedeu ao militar um habeas corpus que lhe permite não responder questionamentos que o incriminam, mas ele não respondeu perguntas objetivas. 

Uma delas, que levou Maia a afirmar que estar respaldado por uma decisão do STF iria denunciar o militar, foi feita pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). A parlamentar questionou Cid sobre sua idade, mas o militar se recusou a responder alegando estar respaldado por uma decisão do STF. 

“Chamei o patrono do tenente-coronel e Mauro Cid para dizer a ele que ele estava fazendo com que seu cliente descumpra uma ordem do STF. Isso acarretará a nós fazer mais uma denúncia de Cid ao Supremo haja visto que a ministra do Supremo determinou que aquilo que não o incriminasse ele tinha obrigação de responder uma vez que ele não está aqui apenas como depoente, mas como testemunha”, disse Arthur Maia. “Desrespeitosa esta conduta”, completou.