MINISTRA DE LULA
Quem é Marina Silva
Amiga de Chico Mendes protegerá um dos maiores bens da humanidade
Marina Silva, ambientalista e deputada eleita pelo Rede Sustentabilidade, de 64 anos, foi escolhida na 5ª.feira (29.dez.22) para comandar o ministério do Meio Ambiente do governo Lula (PT).
Natural da pequena comunidade de Breu Velho, no Seringal Bagaço, município de Rio Branco, no Acre, Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima, é filha de um seringueiro e de uma dona de casa. Ela cresceu em condições precárias, com a falta de infraestrutura típica dos povoados localizados às margens da BR-317. Seus pais tiveram 11 filhos, dos quais três morreram. A mãe faleceu quando Marina tinha apenas 15 anos.
Durante a adolescência, ao lado das irmãs e de um único irmão homem, Marina encarou um duro cotidiano de serviço nas trilhas de seringueiras, popularmente conhecidas como Estradas da Seringa. A comida na mesa da família dependia do látex que retiravam das árvores de forma artesanal, por meio do manejo sustentável da floresta.
Ainda na adolescência, Marina pensou em ser freira e descobriu que precisaria aprender a ler e escrever para tanto. Foi na época em que contraiu hepatite – a primeira das três que foi acometida – e chegou a Rio Branco em busca de tratamento. Na capital, foi acolhida na casa das irmãs Servas de Maria Reparadora, onde dedicou-se aos estudos religiosos e escolares sustentando-se como empregada doméstica. O progresso foi rápido. Entre o período de Mobral, no qual se alfabetizou, até a graduação em licenciatura em História pela Universidade Federal do Acre transcorreram apenas dez anos – sua formação foi complementada posteriormente com as pós-graduações em Teoria Psicanalítica (Universidade de Brasília) e em Psicopedagogia (Universidade Católica de Brasília).
Foi neste período que Marina conheceu as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), descobriu sua vocação para as causas sociais e se aproximou de uma das suas maiores referências de vida. Incentivada por um cartaz afixado na entrada da igreja, decidiu fazer um curso de liderança sindical rural, ministrado pelo teólogo Clodovis Boff e pelo então líder seringueiro Chico Mendes. Sua dedicação ao curso a aproximou de Chico, que passou a lhe enviar publicações de sindicatos dos trabalhadores rurais e a levar para os chamados “empates”, tática de resistência contra o desmatamento do qual participavam os seringueiros, suas mulheres, seus filhos, todos os que viviam nos seringais. De mãos dadas, eles entravam na mata e faziam uma corrente que impedia a destruição da floresta.
Juntos, Marina Silva e Chico Mendes ajudaram a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre. Chico como o primeiro coordenador da entidade e Marina, a vice-coordenadora. Assim, o sonho de tornar-se freira havia dado lugar, definitivamente, à luta social.
A vida pública começou em 1986, aos 28 anos. Marina disputou sua primeira eleição concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados. Fenômeno nas urnas, ficou entre os cinco candidatos mais votados do país, mas seu partido não conquistou o quociente eleitoral mínimo exigido. Em 1988, se elegeu vereadora de Rio Branco com uma votação expressiva. Em 1990, tornou-se deputada estadual e em 1994, chegou à Brasília eleita a senadora mais jovem da história da República. Tinha 35 anos. Foi reeleita em 2002, com votação quase três vezes superior à anterior, e em 2003 nomeada ministra do Meio Ambiente, cargo que ocupou com excelência até 2008, quando retornou ao senado para terminar de cumprir o mandato.
Candidata à Presidência da República em 2010, obteve 19,6 milhões de votos, cerca de 20% dos votos válidos, e terminou o pleito na terceira posição. Em 2014, depois da trágica morte do ex-governador Eduardo Campos, assumiu a frente da chapa em que era vice-presidente e novamente finalizou a votação em terceiro lugar, desta vez com 22 milhões de votos. Em 2018, pela Rede Sustentabilidade, concorreu pela terceira vez à Presidência da República.
A expressão global e a representatividade de Marina Silva podem ser medidas pela lista de prêmios que conquistou. Em 1996, recebeu o prêmio Goldman, considerado o Nobel do Meio Ambiente. Em 2007, o jornal britânico The Guardian incluiu a então ministra entre as 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. No mesmo ano, conquistou o Champions of the Earth, o principal prêmio da ONU na área ambiental e, em 2008, recebeu das mãos do príncipe Philip da Inglaterra, no palácio de Saint James, em Londres, a medalha Duque de Edimburgo, em reconhecimento à sua trajetória e luta em defesa da Amazônia brasileira – a honraria mais importante concedida pela rede WWF (World Wide Fund for Nature).
Com mais de quatro décadas de militância e vida pública, Marina Silva é referência para diferentes gerações e conquistou um lugar de destaque na história do Brasil. Mãe de quatro filhos, mulher, negra, de origem humilde, ex-seringueira, empregada doméstica e professora de história, é um exemplo de perseverança, de que o trabalho e o esforço, aliados ao comprometimento com as causas socioambientais mais importantes, pode mudar o rumo da vida das pessoas e salvar o planeta.
À frente da pasta, Marina terá como desafio reduzir os índices de desmatamento e viabilizar a exploração sustentável da floresta amazônica. Também terá de enfrentar o garimpo ilegal e as madeireiras que atuam de forma irregular no país e ganharam propulsão estimulados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
Durante a campanha eleitoral, Lula prometeu que a questão climática será transversal em seu governo, ou seja, perpassará todas as políticas públicas e envolverá todos os ministérios. Além disso, o petista quer usar o tema como um dos ganchos para voltar a projetar o país no exterior.
Marina terá papel fundamental na missão de recuperar o prestígio internacional do Brasil. A primeira tarefa nesta seara da futura ministra já deverá se dar em janeiro. Ela deve acompanhar o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), e futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, entre os dias 16 e 20 de janeiro.
Marina também propôs a criação de uma autoridade nacional do clima. O nome para o novo cargo ainda será definido. De acordo com aliados da futura ministra, ela quer alguém com perfil técnico, que tenha condições de participar de negociações de alto nível com outros países.