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EXCLUSIVO | ESCÂNDALO

Presidente da Câmara de Porto Murtinho é acusado de assédio, após fofoca de traição e demissões

Bastidores exclusivos de supostas situações vividas por servidora no interior de MS

Da esqueda para a direita: de camiseta verde, o vereador Elbio Balta. De casmiseta cinza: Erivelton Corrêa, o Correinha e a ex-servidora Natália Magali Avalos Leivas. Foto: Arquivo pessoal

A ex-servidora pública da Câmara de Vereadores de Porto Murtinho, Natalia Magali Avalos Leivas, de 29 anos, está acusando o presidente da Câmara, Elbio Balta (PSDB), de assédio sexual. A denúncia consta no boletim de ocorrência registrado às 10h da manhã desta segunda-feira (19.set.22), na delegacia de Polícia Civil do município sul-mato-grossense.   

De acordo com o registro, Natalia pediu exoneração da Câmara na sexta-feira (17.set.22), após ver a também ex-servidora, Sylvia Elisanne Arce Ferreira, de 32 anos, ser exonerada segundo ela, injustamente, após fofocas serem espalhadas na Câmara. Os boatos diziam que dois atuais servidores, um deles: “menino do presidente” (um homem casado), estaria tendo relações extraconjugais com uma servidora conhecida pelo apelido de “parenta”. 

A reportagem apurou que o grupo chamado pela denunciante de "meninos do presidente" são os servidores de confiança: Robson, Antônio, Correinha, Coelho, Evandro e Ivan. A “parenta” é uma servidora que terá nome preservado – ela teria parentesco de terceiro grau com o presidente da Câmara, por isso ganhou esse apelido.

No boletim de ocorrência, Natália afirmou que começou a sofrer investidas sexuais de Elbio em abril de 2020, quando ainda era servidora nomeada em outro gabinete. Na ocasião, Natália teria respondido: “não tenho interesse”. Em 26 de outubro de 2021, a vereadora que havia contratado Natalia perdeu o benefício de ter um assessor, após votar contra uma pauta sensível para a Casa de Leis. "Eu ia ser exonerada, mas aí houve uma intermediação, uma conversa e a partir do começo de novembro de 2021 eu faço parte da equipe dele [Elbio]”, explicou. 

"E aí eu trabalhei até 30 de novembro. Eles me exoneraram e eles me disseram que dia 3 dezembro de 2021, eu seria nomeada. E aí eu trabalhei 20 dias de graça! Eles disseram que eles iriam me pagar... Eles foram me avisar, acho que dia 19 dezembro que eu seria nomeada só em janeiro, mas eu fui nomeada e voltei para Câmara no dia 1º de fevereiro de 2022. E nessa conversa, do dia 1º de fevereiro, o presidente me disse que era a esposa dele que estava pedindo por mim, que era por isso que ele estava me dando outra chance. E que eu tinha que ganhar a confiança dele", introduziu Natalia.  

Conforme o boletim, assim que entrou para equipe de Elbio, Natalia foi assediada em uma confraternização na Câmara, ocasião em que uma funcionária de Elbio identificada como “Jaque” a abordou fazendo perguntas sobre a “cor de sua calcinha”, afirmando que a pergunta teria partido de Elbio. A mulher ainda teria orientado Natalia: “Miga, você tem que ficar com ele. Ele tá querendo comer você, e você está precisando do emprego, e ele é presidente (sic)”, continuou em registro.

Após a abordagem, Natalia saiu de perto de 'Jaque' e foi até o bebedouro na companhia de uma amiga, no trajeto, elas teriam encontrado Elbio, ocasião em que o presidente se aproximou e fez a seguinte pergunta: “Natalia, a cor da sua calcinha é da cor do seu vestidinho, vermelho, ou é da cor de lá de baixo, bem rosadinha? (sic)”. A amiga que estava com Natália teria respondido à Elbio: “Que nojo, presidente! E ele foi embora”.

Natália revelou que teria voltado a ser assediada durante um evento ciclístico em 14 de novembro de 2021, quando anotava os nomes de populares para um sorteio de uma bicicleta, Elbio teria se aproximado e dito em seu ouvido: “Oh, Natalia, você é meu sonho de consumo!”, no mesmo instante a ex-servidora teria pedido que ele parasse com as investidas. Inclusive, segundo Natália, a esposa de Elbio estava no evento.

Apesar do pedido, em 23 de março de 2022, quando ocorria outra confraternização regada a chopp na Câmara, um dos meninos do presidente – o Correinha – teria se aproximado da janela da sala de Natália afirmando que ela reclamava demais do salário e que, caso ela quisesse ganhar 100% era só dormir com o presidente.  Correinha também teria afirmado que Elbio “queria comer [Natalia] de quatro e com força, com raiva do ‘Alemão’”. O homem citado pelo apelido “Alemão” é o irmão de Natália. Tal afirmação teria sido presenciada por Sylvia e uma 2ª testemunha.

Ainda conforme o testemunho de Natália, Correinha teria afirmado que para ela “continuar no serviço, teria que transar com todos os meninos da base, até chegar no presidente”.

Ao telefone, em conversa exclusiva com MS Notícias, Natália confirmou a denúncia dizendo que era comum, quando chegava no serviço, Elbio dar um confere: “Ele ficava olhando nos meus seios e me olhava inteira de maneira, assim, sabe? Ultimamente, eu estava tendo que ir trabalhar quase de burca para evitar esse tipo de coisa”, exclamou, citando a peça do vestuário tradicional das mulheres muçulmanas, principalmente as afegãs, e que é caracterizada por cobrir todo o corpo, o cabelo e o rosto.

A ex-servidora arrolou duas testemunhas no documento de acusação. Ao MS Notícias, Natalia narrou que sempre foi constrangida, diminuída e desprezada em razão de seu gênero, principalmente por Correinha. “Aí quando saiu essa fofoca aí de que um deles estava traindo a esposa com a "Parenta", fofoca que saiu da boca da diretora jurídica da Câmara, eles vieram para cima de mim e da Sylvinha, querendo saber quem era. Eu disse que não foi a Sylvia, mas eles não quiseram nem saber, só queriam achar uma culpada para encobrir essa situação. Aí cometeram essa injustiça contra ela”, opinou. 

Sobre ser alvo constante de assédio por parte do patrão, Natália disse que sobrevivia da seguinte maneira: “Onde eu podia correr dele eu corria. Eu tinha muito medo dele”, explicou. Mas mesmo assim, Elbio, que é comerciante no município, teria dado a ordem que era só para Natália ir até sua casa para lhe entregar documentos, caso se fizesse necessário.  

A ex-servidora disse que decidiu sair do emprego quando viu Sylvia ser injustiçada e após falar com seu pai. “Meu pai disse que era para eu sair da Câmara Municipal porque aquilo havia virado uma putaria... Eu já estava indignada com a injustiça que estavam fazendo com a Sylvia também, então resolvi sair”.

Natália afirmou que seguirá com ação na justiça contra o presidente do legislativo e que entrará com uma ação contra a “Parenta”, que teria registrado um boletim contra Natália e Sylvia, afirmando que elas espalharam o boato de traição. “Nós não espalhamos nada. A doutora lá que começou com essas conversas, aí querem jogar na gente a culpa. Não, eu vou entrar com uma ação por essa difamação”.  

Por fim, a ex-servidora disse que visa provar as situações às quais teria sido submetida e que o objetivo principal de expor o caso é: “Eu quero que ele [Elbio] aprenda a respeitar as mulheres. Nós não somos objetos”, finalizou.

OUTRO LADO

Procurado pela equipe do MS Notícias, Elbio negou ter cometido os atos denunciados por Natália. Para ele, as acusações são em razão das demissões: “Eu nunca fiz nada de mandar mensagem para ninguém. É pressão para que eu recontratasse elas, como eu não cedi, e não vou ceder, entraram com isso aí. Eu nunca conversei com essas meninas fora da Câmara”, garantiu.

Para o presidente do legislativo, a situação da fofoca deflagrou a demissão. Ele disse estar “tranquilo”. “Denúncia qualquer pessoa pode fazer. Eu não sou obrigado a manter ninguém no emprego”, considerou. 

O presidente também disse que nunca mandou ninguém assediar Natália em seu nome. “Esse Correinha, é o Erivelton Corrêa, eu perguntei para ele se algum dia ele falou em meu nome alguma coisa. Ele disse que nunca. E eu nunca autorizei e nem mandei ninguém falar em meu nome nada”, disse. 

Ainda segundo Elbio, ele nunca trocou mensagens de cunho sexual com Natália. “Nunca fiz, nada de mensagem para ninguém”.

O presidente do legislativo murtinhense disse que solicitou acompanhamento do seu advogado e que o mesmo irá amanhã à cidade para orientá-lo no depoimento. “Eu vou entrar com um pedido de investigação, vou pedir a quebra do sigilo telefônico dela. Não tem nada contra mim, estou muito tranquilo quanto a isso. É um ato político”, finalizou. 

Além de Elbio, a Polícia Civil deve ouvir todos os citados no boletim de ocorrência registrado por Natália.

SITUAÇÃO ESCLARECIDA

Circulou há 2 meses na internet informações de que haviam imagens de vídeo que mostravam uma suposta orgia sexual grupal acontecendo dentro da Câmara dos Vereadores de Porto Murtinho. 

O presidente da Casa de Leis, garantiu à reportagem do MS Notícias que a situação já foi esclarecida e a equipe da vereadora do PT, Maria Donizete dos Santos, analisou um HD com imagens do circuito de monitoramento da Câmara no período de 15 de julho a 31 de julho e não encontrou nada, "a não ser a rotina de trabalho comum". Eis a íntegra do ofício: