VIOLÊNCIA | ANTÔNIO JOÃO
Capitão indígena tortura e ameaça queimar idosa viva por 'feitiçaria'; vídeo
Idosa indígena é torturada em aldeia de MS
Uma idosa indígena está sofrendo ameaças de ser queimada viva acusada de fazer “feitiçaria”. O MS Notícias recebeu um vídeo que denuncia a agressão do Capitão Vicente (liderança indígena armada), que aparece cortando o cabelo da idosa, fazendo ameaças de morte contra ela e seus familiares na Aldeia Campestre, Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS).
"Se ajoelha aqui, passe a tesoura para cortar o cabelo dela”, iniciou o “Capitão” em vídeo. Após a idosa sentar-se no chão, ele cortou um tanto de cabelo dela e seguiu: “Cancele, cancele e destrói tua feitiçaria feita contra ele, vai ter que cancelar hoje e agora sua feitiçaria, se a senhora matar minha família com feitiçaria eu vou te matar também, vamos te perseguir sim, você é feiticeira, você vai ser monitorada ou perseguida por 4 anos", continuou o agressor.
De acordo com apurado, o “Capitão” é um "cargo" resquício da época da ditadura que foi implantado nas aldeias pelo Brasil.
Vicente seguiu com as agressões e ameaças. “Aviso a todos que é assim tem que maltratar todas as feiticeiras sim, recomendo, tem que cancelar feitiçaria sua”, disse.
Ele se vira para uma jovem ao redor e a ameaça. “E você menina já aprendeu também feitiçaria, não faça feitiçaria contra ninguém, fica na tua, pois você será perseguida sim menina. Onde está sua feitiçaria contra quem você fez e está fazendo? Tem que contar a verdade ou você será queimada viva no fogo. Vou mandar preparar fogueira para você ser queimada. Onde está sua feitiçaria? Conte... Não pode negar. Se morrer um de meus parentes você será morta também", ameaça o Capitão.
“Sabemos que todos vamos morrer, mas não podemos ser mortos pela feitiçaria... Ouça bem, se você matar alguém de feitiçaria vamos perseguir você, não importa onde estiver vou te perseguir e matar você, se você for para Paraguai e em outras aldeias onde será perseguida sim. Não vai escapar", finaliza o agressor.
De acordo com apurado pelo MS Notícias, a etnia dos agressores é Guarani-Kaiowá, e eles falam, no vídeo, no idioma Guarani-Kaiowá. O Ministério Público está a par da situação, pois, pediu a tradução do vídeo ao professor e tradutor indígena, Tonico Benites, que forneceu a tradução ao MS Notícias.
Veja o vídeo:
Os agressores, foram identificados preliminarmente como sendo: Arnaldo Franco, João da Silva e Junior Alves da Silva.
A reportagem tentou falar com o Escritório de Representação Local da Funai em Antônio João, mas devido ao feriado de Carnaval, as ligações não foram atendidas.
INVESTIGAÇÃO
A defensora pública Neyla Mendes disse que são muitos os casos de ataques contra as rezadeiras e que já solicitou investigação à Polícia Federal do caso da idosa do vídeo. "A Defensoria Pública do Estado, junto com a Defensoria da União tem tomado várias providências, em relação a esses fatos. Todos os casos de violência contra essas anciãs, rezadeiras, Nhanderus, dos Guarani Kaiowá, quando chega ao conhecimendo da Defensoria Pública do Estado, a gente solicita abertura de inquérito polícia para a Polícia Federal", introduziu.
Conforme a defensora, são várias frentes para combater essas violências aos povos originários. "Nós temos uma audiência pública já agendada na Assembleia Legislativa para o próximo dia 2 de maio, quando a Assembleia Legislativa retorna a fazer as audiências públicas [...]. Nós já temos, junto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos, virá o pessoal de Brasília para cá, junto com a Defensoria Pública da União, com a Defensoria Pública do Estado, a gente vai também fazer esse trabalho de visibilidade do que está ocorrendo lá", explicou.
Mendes destacou que estão sendo reportados vários casos como os do vídeo e que estão havendo, inclusive, ameaças de morte contra rezadeiras, anciãos e anciãs, que praticam a religião matriz dos indígenas. "Todos os casos de violência contra essas anciãs, rezadeiras, a gente solicita abertura de inquérito junto a Polícia Federal. Paralelamente nós estamos preparando ações de reparação de danos contra quem está queimando casas de rezas e está cometendo violência contra essas senhoras e senhores que são das religiões tradicionais", completou.
A defensora também disse ao MS Notícias que solicitou a abertura de inquérito na Polícia Civil no município de Atônio João.