CULTURA | MS
Começa hoje: oficina prepara elenco cego para estrear peça de teatro
Cinco selecionados vão ensaiar espetáculo com elenco integralmente cego a ser apresentado em MS
Começa nesta segunda-feira (7.fev.22) a oficina “O que os olhos veem o coração sente?”, criada e desenvolvida pelo ator, bailarino, cenógrafo, coreógrafo e diretor, Alexandre Melo. O encontro acontecerá das 18h às 20h no Instituto Sul Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac), na Rua Vinte e Cinco de Dezembro, 262 - Centro, Campo Grande (MS). As inscrições para a oficina já estão encerradas.
Patrocinada pelo Instituto Cultural Vale via lei de incentivo à cultura do Governo Federal, a oficina é a primeira etapa do projeto, com carga horária total de 10h.
Ao todo, 33 integrantes participarão da oficina nesta segunda. Desse total, 5 serão selecionados para compor o elenco do espetáculo com nome homônimo. Conforme os organizadores, na oficina serão oferecidas aos participantes técnicas vocais e corporais para uso em cena.
Segundo Alexandre, podem se inscrever na oficina, pessoas cegas ou que tenham algum grau de dificuldade de visão. “Podem se inscrever pessoas do Ismac ou pessoas cegas que não estejam lá também. As pessoas com visão reduzida também podem se inscrever, porque a oficina é exclusiva para esse público”, esclareceu.
O espetáculo conta a história de uma pessoa em reabilitação e deve ser apresentado no primeiro semestre de 2022 em Corumbá.
“Será apresentado em Corumbá porque lá tem a sede da Vale, que é a patrocinadora, o edital era para onde a Vale tem sede, então, propusemos 3 apresentações em espaços públicos e 3 em teatro”, comentou. A ideia é que as apresentações sejam realizadas num prazo de 4 dias. “A proposta é que façamos 2 apresentações por dia, talvez precisemos de mais alguns dias, mas a proposta inicial é essa”, disse, explicando que todos os atores/atrizes serão remunerados pelo trabalho.
O espetáculo dará ao público uma possibilidade de mergulho no mundo das pessoas que não enxergam. “A ideia é que o público não enxergue o que aconteceu dentro do teatro. Eles vão ser vendados antes de entrar e vão sair vendados, para não quebrar o lado lúdico da apresentação”, explicou.
Os cinco selecionados para atuar no espetáculo serão escolhidos em uma discussão interna entre os profissionais da oficina. Todos os ensaios do espetáculo acontecerão em Campo Grande.
A INSPIRAÇÃO
O projeto e o roteiro do espetáculo nasceram em uma conversa entre Alexandre e seu tio Delci Francisco, de 55 anos. “Já faz alguns anos, o meu tio me parabenizava por uma apresentação que fiz, mas aí ele me disse que era uma pena que nunca iria conseguir me ver em cena... aquilo, aquilo mexeu comigo profundamente. Me fez refletir! De fato, a grande maioria dos espetáculos aqui, de teatro, os filmes, não tem acessibilidade, não tem audiodescrição, nada. Aí eu comecei a pensar no projeto, só que ao invés de fazer algo apenas acessível para eles, eu quis fazer um espetáculo que leve o público para o mundo deles, que o público possa sentir o mundo como eles sentem, assim nasceu o espetáculo”, resumiu.
“Será uma imersão, tenho certeza de que com a oficina vamos aprender muito mais para conceber um espetáculo profundo, que nos faça mais do que apenas incluir, faça com que pertençamos a esse público, assim como eles devem pertencer a sociedade”, finalizou o diretor.
O DIRETOR
Nascido em Bataiporã e criado em Taquarussu no estado de Mato Grasso do Sul, Alexandre mudou-se em 2006, aos 16 anos, para Campo Grande. Na Capital começou a estudar teatro, participou de cursos e oficinas por 2 anos, porém, pausou a carreira por 6 anos devido a faculdade de administração e em seguida pós-graduação em Logística. Em 2013 retomou os estudos relacionados ao meio artístico incentivado por amigos.
Seu primeiro trabalho foi aos 17 anos no curta-metragem "Giselda'', resultado da oficina de atores do diretor de TV Léo Niclévis. Fez aulas de dança na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e logo entrou para o grupo de dança da Univercidade, grupo Bailah, onde permaneceu por 1 ano.
Em 2015 entrou para o grupo de dança Cinese Cia de dança, ficando no grupo até 2016, quando junto com seu amigo Leonardo Lopes montaram o grupo 'Ara cia de dança’, o grupo permaneceu os trabalhos até 2017, quando Leonardo se mudou para Salvador (BA).
Em 2017 integrou o grupo de dança ‘Tez Cia de Dança’ por uma curta temporada, retornando em 2018 e ficando até 2019.
Em 2016, durante uma apresentação de dança do grupo 'Ara', o diretor de teatro Philipe Faria convidou Alexandre para fazer parte do seu grupo de teatro Entropia Zero, onde permaneceu até o fim de 2018, em janeiro de 2019 ingressou no grupo ‘Fulano de Tal de teatro’.
Alexandre também fez outros trabalhos para outras companhias de teatro como convidado, foram elas "Grupo Teatral Falta Um, OFIT, Ballet Isadora Duncan, entre outros". Em 2018 protagonizou o curta-metragem Sacasos junto com Alyadna Freitas e entre 2018 e 2019 participou de algumas publicidades para TV.
Como diretor, estreou na web com o espetáculo ‘Solamentesó’ em 2020. Na sequência, em 2021, concebeu e protagonizou o espetáculo “Útero, Minha Primeira Morada”. Veja AQUI todos os trabalhos.
EQUIPE TÉCNICA
Concepção: Alexandre Melo;
Produção Geral: Alyadna Freitas;
Administração: Marcelo Leite;
Assistência de Produção: Edner Gustavo;
Produção Musical: Kevin Brunt;
Fotografia: André Lorenzoni.