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VIOLÊNCIA | BARRA DA TIJUCA (RJ-RJ

Agressor do congolês: 'Ninguém queria tirar a vida dele, fatalidade', diz em vídeo

Vivi para contar: 'Mataram meu filho aqui como matam em meu país', diz a mãe sobre o Brasil

Alisson Cristiano Alves de Oliveira, um dos homens que espancou o congolês Moïse Mugenyi Kabagambe até a morte em 24 de janeiro, na Barra da Tijuca. Foto: Reprodução

Alisson Cristiano Alves de Oliveira, de 27 anos, um dos homens que espancou Moïse Mugenyi Kabagambe, de 25 anos, até a morte, se apresentou nesta terça-feira (1º.fv.22) à 34ª DP (Bangu), e foi levado para a Delegacia de Homicídios. Alisson gravou um vídeo em que chama o que aconteceu com Moïse de fatalidade e afirmou: "Quero deixar bem claro que ninguém queria tirar a vida dele, ninguém quis fazer injustiça porque ele era negro ou alguém devia a ele. Ele teve um problema com um senhor do quiosque do lado, a gente foi defender o senhor e infelizmente aconteceu a fatalidade dele perder a vida".

Mostramos mais cedo AQUI no MS Notícias um vídeo que mostra ao menos 5 homens espancando Moïse a pauladas em 24 de janeiro de 2022. Ele havia ido até o quiosque "Tropicália" na Barra da Tijuca cobrar R$ 200 em diárias trabalhadas que estavam em atraso, no entanto, o gerente do local usou um pau para ameaça-lo após negar o pagamento. Não sendo reprimido pela ameaça, Moïse é visto em vídeo tentando pegar seu pagamento em mercadorias, ele, porém, foi impedido após um grupo de homens o cercar e o agredir até a morte. 

A família do congolês diz estar "muito abalada".

A sequência de agressões está sendo analisada por agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que investigam o caso. 

A psicóloga Wanieh Momabi Salu, de 50 anos, que mora no Brasil há 10 anos e é prima de Moïse, esteve na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) na tarde desta terça.   

— (A Lotsove Lolo Lavy Ivone) é uma mãe batalhadora, lutadora. Quando trouxemos nossos filhos para cá, pensávamos que seríamos acolhido. Lá, (no Congo) crianças com 5 anos, 6 anos, 11 anos, são foçadas a terem armas. E aqui, a gente tinha esperança. Esperança de dias melhores. Ele era um menino do bem. Mas, foi brutalmente assassinado. 

Após a divulgação das imagens, Álvaro Quintão, secretário da OAB no Rio e presidente da Comissão de Direitos Humanos da instituição, afirma faltar informações oficiais sobre as motivações do crime:  — O delegado não explicou o motivo do empresário e do homem que confessa o crime. Achamos estranho essa atitude — disse.

Álvaro também afirmou que a defesa do homem que confessa o crime “esta tentando montar uma narrativa para desconstruir a vítima”.  — O agressor está construindo uma narrativa para tentar fazer vítima o culpado. Isso é inadmissível. 

Na tarde desta terça, a família de Moïse foi recebida pela secretária de Assistência Social, Laura Carneiro. A Prefeitura do Rio quer dar assistência para a família de refugiados. 

ACHADO SEM VIDA 

De acordo com o inquérito, o corpo de Moïse foi encontrado por policiais militares do 31º BPM (Recreio) ainda amarrado, no chão, próximo ao Tropicália. Ele prestava serviço pontualmente no local servindo mesas na areia e, segundo parentes, pretendia tentar cobrar pagamentos atrasados quando acabou sendo morto.

Uma testemunha ouvida pelo EXTRA contou que Moïse havia passado a noite bebendo com conhecidos próximo ao quiosque Tropicália. Já próximo ao horário de fechamento do estabelecimento, o congolês disse aos companheiros que cobraria valores devidos pelo antigo contratante. Pouco depois, o jovem acabaria agredido e morto.

Segundo a mulher, que preferiu não se identificar e ainda não prestou depoimento na DHC da Capital, Moïse abordou agressivamente o homem, que estaria trabalhando no Tropicália pela primeira vez naquela noite. Durante a discussão, ainda de acordo com o relato da testemunha, o rapaz chegou a ameaçar o interlocutor com um furador de coco, enquanto exigia o pagamento atrasado. O homem, também exaltado, respondia que não era dono nem responsável pelo estabelecimento, e que por isso não poderia resolver o problema.

— No meio da confusão, mais uns rapazes chegaram intervindo, já partindo pra cima do outro — contou a mulher, que diz ter se afastado da situação neste momento.

Ela afirmou ainda que os homens que se aproximaram já agredindo Möise também eram conhecidos na região, onde trabalhavam, tal qual o congolês, “cardapeando” na praia para os quiosques. O estrangeiro atuava desse modo pelo menos desde 2017, sempre mediante pagamento de diárias ou de percentual em cima dos produtos vendidos. Ele era conhecido na praia pelo apelido de Angolano.

O relato da mulher é convergente com o de um homem que se apresentou à polícia nesta terça-feira como um dos assassinos do congolês. O suspeito, que não teve a identidade revelada, alegou que tentou conter uma briga e que não tinha a intenção de matar Möise. Ele está sendo ouvido na Delegacia de Homicídios neste momento.