SUCESSÃO 2022
Em eleição nacionalizada, PT calça outros partidos nas disputas estaduais
Em MS, filiação de Alckmin propõe cenários alternativos para PSB e PSD
A liderança cristalizada do ex-presidente Lula nas intenções de voto colocou o PT numa condição eleitoral diferenciada, tanto na sucessão do presidente Jair Bolsonaro como nas eleições estaduais. Já com a disputa nacionalizada, a balança na relação de forças nos estados passa a se mover de acordo com a composição que nascerá de um confronto que tende a se manter polarizado entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dessa forma, e diante de uma projeção cada vez mais distante de surgir uma terceira via competitiva, os partidos começam a experimentar o desafio de buscar soluções seguras para seus projetos estaduais em 2022. Além das movimentações que cercam a anunciada filiação de Bolsonaro ao PL e das implicações criadas com a formação do União Brasil - partido formado pela fusão entre PSL e DEM -, outro fator que se agiganta como peso decisivo nas urnas é a definição do vice na chapa de Lula, tendo o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, no eixo desse processo.
Assim como em outros estados, em Mato Grosso do Sul é muito grande a expectativa sobre o caminho a ser escolhido por Alckmin ao deixar o PSDB. Ele estaria entre duas opções: o PSB e o PSD. E com a nova filiação levará consigo dois projetos para o próximo ano: candidatar-se ao governo paulista ou ser o vice da chapa liderada por Lula na sucessão presidencial. Os acenos e primeiras conversas com o líder petista deixaram caminho livre para ele.
Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, estaria quase tudo certo para o ex-governador de São Paulo assinar a ficha da sigla e até ganhar o apoio partidário para seguir com Lula. Porém, há condições - uma delas é o PT abrir mão de candidaturas ao governo em alguns estados, sobretudo Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco. Lula aceita discutir esse item e em princípio não se oporia.
NO ESTADO
Em Mato Grosso do Sul, os dois partidos que estão no alvo de Alckmin podem ganhar com esse novo desenho uma vitamina extra para as disputas locais. Tanto o PSB do presidente da Cassems, Ricardo Ayache, como o PSD dos irmãos Trad (senador Nelsinho, deputado federal Fábio e prefeito Marquinhos) estão fora dos planos dos dois principais partidos que saíram na frente com seus nomes para o governo: o MDB, do ex-governador André Puccinelli, o pré-candidato, e o PSDB, do governador Reinaldo Azambuja, que lançou o secretário de Infraestrutura, Eduardo Riedel.
Contudo, nem PSDB e nem MDB querem abrir mão da cabeça de chapa e desejam o PSB e o PSD como coadjuvantes de luxo na disputa majoritária. Os pessedistas, mesmo sem candidatura própria, também querem avançar e criar melhores expectativas de fortalecimento eleitoral. É nesse contexto que surge uma nova possibilidade, com a pré-candidatura do ex-governador Zeca do PT e os elementos que ela é capaz de agregar numa disputa local sob a influência do jogo nacional.
A filiação de Alckmin ao PSB ou PSD vai impactar diretamente nos estados. E abrirá, no caso do PT, a chance de uma composição para a qual o próprio Zeca já acenou: a de rediscutir sua pré-candidatura ao governo, desde que as forças da aliança, dentro de um programa comum e pré-estabelecido, tenham seus pés no palanque de Lula ou compartilhem desse palanque no Estado. A ideia tem ainda o lastro da federação partidária, figura institucional criada pela nova legislação eleitoral para preencher o vácuo criado com a proibição das coligações proporcionais.
PROGRAMA
Segundo o deputado federal Vander Loubet (PT/MS), o partido debate esta possibilidade sem qualquer problema, "até porque, com a federação, haverá um mecanismo rígido, previsto em lei, para a observância programática, de compromisso com tudo que for tratado para fazer a disputa e também para o exercício dos mandatos". No entender do parlamentar, a federação melhora ainda mais as condições de fortalecimento dos partidos que dela fizerem parte, "especialmente num panorama que empurra para os braços de Bolsonaro as forças que não se deram bem com a terceira via ou que ficaram fora do arco de alianças com Lula".
Em princípio, os tucanos sulmatogrossenses não têm outra alternativa senão a de montar seu palanque com Bolsonaro. Pode ser benéfico ou desastroso, a depender da situação em que se encontrará o presidente no ano eleitoral, ainda que na maioria dos estados polarize com Lula. E é exatamente este um dos pontos determinantes da disputa, para os quais Vander Loubet chama a atenção: o custo-benefício dos impactos da disputa nacional nos estados é radicalmente distinta para quem faz agora sua escolha pelo palanque das candidaturas presidenciais.
"O PT é o partido que oferece segurança a seus aliados, tanto politicamente como eleitoralmente. Há uma diferença brutal entre entrar no jogo na hora adequada, com as correlação de forças e as possibilidades bem definidas, e entrar no meio da disputa, já com o caminhão em movimento e precisando se ajustar durante o trajeto", compara o deputado. Provavelmente, esta deve ser a análise que desafia o PSB de Ricardo Ayache e o PSD de Marquinhos Trad à medida que afunila-se o momento de tomar as decisões.