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PRESERVAÇÃO

Povos originários lutam para preservar vegetação; metade do território tomado pelo fogo

Terra Indígena Kadiwéu, somente no ano passado, teve 45,9% de seu território queimado e recebe agora oficina de mudas

Ingá, angico e até ipê são preparados em viveiro para recuperarem terras degradadas pelo fogo - (Fernando Gonçalves)

Nos últimos dois anos a Terra Indígenas Kadiwéu - considerada a maior reserva indígena do Pantanal - foi duramente castigada pelo fogo. Região de rica biodiversidade, os moradores viram sua fauna e flora arderem em chamas e agora trabalham não só com a conservação daquilo que sobrou, como também com recuperação de áreas degradadas, recebendo ajuda através de uma oficina de produção de mudas.

Realizada pela Wetlands International Brasil e Associação dos Brigadistas Indígenas da Nação Kadiwéu (Abink), na TI sul-mato-grossense, localizada em Porto Murtinho, a oficina aconteceu durante os dois últimos dias de novembro.

"A oficina é de suma importância porque vai nos dar certa autonomia tanto para planejar como para executar o plantio de mudas nativas da região em áreas de nascentes. Aqui, já temos um viveiro de mudas construído, mas sentíamos essa falta de ter o conhecimento técnico para utilização do espaço", argumenta Mesaque Rocha, que é o presidente da Abink e um dos alunos da oficina.

Ainda em 26 de outubro, a Wetlands e o Centro de Pesquisa do Pantanal traziam uma mesa-redonda, intitulada  Recuperação da Vegetação Nativa, para debater os principais desafios e oportunidades para implementação de políticas, programas e projetos de recuperação da vegetação nativa em todos os biomas brasileiros.

Quebra de dormência de sementes fez parte de conteúdo da oficina

Fernando Gonçalves, indígena da etnia Terena responsável pelos registros fotográficos da ação, é consultor em sustentabilidade do projeto Tumuné Úti (Nosso Futuro) na aldeia Imbirussu, que fica em Aquidauana. Ele conta que a oficina fortalece os brigadistas e também a luta milenar que esses povos travam pelo meio ambiente.

Historicamente chamados de "cavaleiros" por suas habilidades, lutando inclusive na Guerra do Paraguai. Em Mato Grosso do Sul os Kadiwéu estão próximos de Bodoquena e são a âncora da ligação com a vegetação e natureza locais, que os povos originários sempre tiveram.

Com mudas nativas do Cerrado e do Pantanal, essa oficina faz parte do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas do TI Kadiwéu, como desdobramento do Programa Corredor Azul. Por sua vez, esse é realizado pela Wetlands e Mulheres em Ação no Pantanal, o Mupan.

Nesse viveiro, estão sendo cultivadas várias árvores, entre elas o ingá, angico e ipê. "A oficina vem para envolver tanto os brigadistas como a comunidade em geral. Aqui, foram trabalhados questões que envolvem quebra de dormência das sementes, substratos orgânicos, técnicas de produção de mudas para plantio", explicou Fernando.

Ele garantiu que com o que foi aplicado e repassado, o viveiro terá uma germinação rápida e de qualidade. As mudas que brotarem devem ser levadas para serem plantadas em áreas de nascentes e pontos necessários.

Na TI, esse e outros programas tem sido de extrema importância, já que 247 mil hectares - quase metade (45,9%) - do Território Indígena Kadiwéu foi atingido pelas chamas só em 2020, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ).