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POVOS ORIGINÁRIOS AGREDIDOS

Intolerância religiosa leva casa de reza indígena às chamas; seis meses de trabalho braçal

Crime que aconteceu em Amambai (MS), no fim de semana, pode entrar para lista de "não solucionados"

Incêndio foi colocado no último sábado (02.out.2021) e destruiu seis meses de trabalho braçal, inaugurado no início de 21 - (Divulgação)

Conforme relato da kuñangue Aty Guasu - Assembléia das Mulheres kaiowá e Guarani -, no último sábado (02.out.2021) a Ogusu Apykay (casa de reza), no território Kaiowá e Guarani, Guapo'y - Amambai/MS, foi incendidada criminosamente. 

Dona do local, nhandesy dona Nilza foi vítima de intolerância religiosa, aponta a Casa Ninja Amazônia em publicação denunciando o crime de racismo contra os povos indígenas, "que têm suas vidas e territórios violados desde a invasão em 1500", argumenta em publicação. 

"O Estado é laico e a Constituição de 1988 garante a liberdade religiosa e cultural, mas a lei não existe quando quem está no poder age contra os povos originários. É necessário investigar e encontrar os culpados por mais essa violência!", aponta a publicação. 

Essa denúncia foi feita no fim de semana, através do perfil oficial da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) no Twitter. Coordenador do movimento, Elizeu Guarani disse ao portal Metrópoles que vem sofrendo ameaças de “religiosos e ruralistas” e, por isso, desconfia se tratar de um incêndio criminoso.



Ele conta que essa era a única casa de reza da aldeia, erguida por representantes, rezadeiras e rezadores e inaugurada no início do ano, que levou “seis meses [de trabalho braçal] para construir e depois, num piscar de olhos, fica tudo queimado”, disse o indígena. 

Essa aldeia fica cerca de 134 km próxima de outra comunidade, também da etnia kaiowá, que viveu recentemente outro episódio policial. Uma menina indígena, de 11 anos, sofreu um estupro coletivo e foi morta ao ser atirada de um penhasco.

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Ainda, foi aberto inquérito, pela Polícia Civil de Amambai, para apurar as causas do incêndio, entretando até a manhã desta 3ª feira (05.out.2021), não haviam suspeitos ou causas do fato identificados. 

HISTÓRICO DE INTOLERÂNCIA

Esse é o segundo incêndio criminoso de templo religioso indígena, Conforme apuração da agência de notícias Folhapress, em Mato Grosso do Sul, no intervalo de pouco mais de um mês. Em 19 de agosto, o alvo foi a casa de reza da aldeia Rancho Jacaré, em Laguna Carapã, que aconteceu enquanto a população do local fazia a inauguração de outra casa de reza na mesma reserva.

Só de 2019 para cá houve o caso de 9 de julho daquele ano, quando a casa de reza da Aldeia Jaguapiru, em Dourados, foi atacada e um Xiru com mais de 180 anos de história, espécie de cruz sagrada para os indígenas, foi consumido pelo fogo.

Entre janeiro e março de 2020, duas casas de reza foram queimadas: uma na Aldeia Jaguapiré, em Tacuru, e outra na comunidade Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante. Nenhum desses casos tiveram autor ou motivações esclarecidas, segundo informações da Folhapress. 

Ainda, o único incêndio criminoso em aldeias indígenas em Mato Grosso do Sul considerado resolvido foi o que atingiu pelo menos três casas na aldeia Avae'te, em Dourados, em 6 de setembro, quando os seguranças de uma  fazenda vizinha foram identificados como os autores e o produtor rural disse que os indígenas invadiram sua propriedade e destruíram parte da sua plantação de milho.