MS Notícias

SETE DE SETEMBRO

Militante 'pró-arma', padre convoca carreatas contra o STF; "Não representa a Diocese", diz Bispo

Eleitor de Bolsonaro, padre usa redes sociais para fazer promoção de políticos; desde de 2016 ele manifesta em favor de Jair Bolsonaro; veja vídeos

Dom Dimas Lara Barbosa (E), Padre Paulo (D). Foto: DR | Redes

Bolsonarista que fez campanha nas eleições de 2018, o padre Paulo Roberto de Oliveira, tem usado a sua influência como pároco da Igreja São José, uma das mais tradicionais de Campo Grande (MS), para defender ferrenhamente o seu candidato político à presidência em 2022, Jair Bolsonaro (sem partido).

Para isso, o líder religioso também aparece em vídeo em que há logo 'de movimento pró-armas', defende que o voto seja impresso e a contagem pública, e foi além, nesta sexta (3.set) usando a justificativa fantasiosa de 'ameaça comunista' ao Brasil,  em que vigora o regime democrático, atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) em favor de Bolsonaro. O presidente e os familiares são investigados pelo Supremo, por isso tem travado uma guerra política com o Judiciário.  



O padre, em vídeo, diz que haverá uma carreata que começará às 9h do dia 7 de setembro na Praça do Rádio Clube e seguirá até o Comando Militar do Oeste (CMO). “Vamos demonstrar nossa indignação com nossos políticos e com o STF, para que o povo brasileiro seja escutado, porque o povo não está sendo escutado, está sendo manipulado”, afirmou sem dar clareza sobre a quais políticos estaria se referindo. Diante das manifestações de extrema direita, o padre chegou a ser orientado nas redes a aprender a rezar missa, antes de envolver-se em política. "(sic) Padre Paulo vc não sabe nem Reza missa, agora vem dizer que as urnas eletrônicas são bandidos, vc deveria pedir perdão pra Deus sobre suas manifestação... VC não tá cuidando nem da sua paróquia, imagina entender de políticas, Bolsonaro tem que pegar prisão perpétua", disse um seguidor.  

Na versão do sacerdote, o Brasil estaria correndo o risco de ser implantado o comunismo, regime em extinção no mundo e que só vigora na Coreia do Norte. “Porque se o comunismo for implantado no nosso Brasil, você não será ouvido, você vai ser instrumento”, alertou o padre, repetindo a tese da extrema direita, que fundamenta-se exclusivamente em ideologia política ranqueada por apoiadores e pelo presidente.  

TÁ NAS REDES | MÍDIANIJA 

 
 
 
 
 
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“Vem para rua, porque o povo unido jamais será vencido”, concluiu o pároco da São José.

MILITANTE DE EXTREMA-DIREITA

O pároco criou uma página no Facebook, local onde faz mais posts defendendo Bolsonaro e o elogiando. Na página, a grande maioria das postagens são de cunho político, até as religiosas terminam com apoio a figuras políticas e suas ideologias.    

VEJA O VÍDEO 

A narrativa de "brigas" compradas pelo pároco, segue a risca tudo o que é dito por Jair Bolsonaro. Por exemplo, em 2019 o pároco fazia posts elogiando o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Paulo escreveu: "Ministro Moro viajando de classe econômica e aplaudido de pé por todo o avião, enquanto isso o babaca tá preso. Viva a Lava Jato, viva Moro, viva o Brasil!", disse. A pessoa que Paulo ofende no post é o ex-presidente Lula (PT) e atual candidato à Presidência da República em 2022. À época do post de Paulo, Lula estava preso acusado por Moro no que comandou a operação da Lava Jato. Posteriormente, o juiz e os procuradores da Operação não conseguiram se sustentar em provas que teriam motivado a prisão de Lula, tal situação, rendeu a Moro prejuízos judiciais e ações contra a União.   

Não são recentes as manifestações do líder religioso. Em 2016, o padre uniu-se ao grupo político "Reaja Brasil" e esteve em 'culto-ecumênco' pró-Moro. Naquele dia 23 de abril de 2016, começou a chover, mas a organização do evento e o padre gritavam para que os fiéis presentes ficassem, mesmo sob a chuva, a orientação foi ignorada e a manifestação esvaziada. Na ocasião, um carro caracterizado de viatura carregou os bonecos "Bandilma" e "Pixuleco".

O padre também já apoiou a senadora Simone Tebet (MDB), mas depois que a parlamentar se posicionou contra os avanços de Jair Bolsonaro sobre democracia, Tebet passou a ser alvo de ataques do pároco, ainda em 2019. Pouco depois, em abril de 2020, foi a vez do pároco passar a atacar o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, que desembarcou do governo Bolsonaro em 24 de abril de 2020, dizendo que estava saindo após Bolsonaro pedir que ele trocasse o chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que aquela altura investigava aliados de Bolsonaro e também seus familiares. Na sua saída da pasta, Moro disse: "Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo". Apesar disso, o paróco seguiu ao lado de Bolsonaro e se tornou um ex fã de Moro, passando a condená-lo por 'falar mal' do presidente.  

Conforme apurado pelo MS Notícias, o padre é diocesano, isso é, está incardinado numa Igreja particular (Diocese) que, por sua vez, tem uma área territorial bem específica e definida. Ele está sob os cuidados e orientação direta do Bispo diocesano. O padre tem como missão primordial o trabalho paroquial e a comunhão com o clero local. Podem ter propriedade, salário, não vivem em comunidade, e dependem apenas de seu Bispo, no caso de Paulo o responsável é Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo metropolitano da Arquidiocese da Capital. 

Procurado, Dom Dimas disse que o pensamento de Paulo não reflete o pensamento da Diocese. "Eu sempre tenho deixado os padres bem livres para se manifestar sobre política. Existe um consenso entre os padres de que isso é o correto, mas aí tem uns dois ou três que são afoitos. Eu sempre oriento eles para que deixem claro que a fala deles não representa a Diocese. No caso do Paulo, o que ele fala não reflete o pensamento da Diocese", explicou o Bispo.  

A reportagem tentou contato com o Padre Paulo, para perguntar se ele de fato é a favor do armamento da população? Qual a justificativa clara para a manifestação em que ele diz ser contra o Supremo Tribunal Federal (STF)? E também, a reportagem perguntaria se ele acredita ser correto usar sua influência na igreja para promoções de políticos?

Até a publicação desta reportagem, porém, Paulo não atendeu os telefones. O espaço fica aberto caso o padre deseje se manifestar.