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PROCESSO ELEITORAL

Câmara não se intimida com desfile de tanques e derruba PEC do voto impresso

Em outra derrota de Jair, votação evidenciou partidos do Centrão, aliados à Bolsonaro, que se posicionaram contra a proposta

Apenas 1/3 da bancada do PP e PL foram favoráveis à proposta e cenário seria diferente com apoio integral dos aliados à Bolsonaro - (C.V | Agência Câmara de Notícias)

Foi derrotada nesta 3ª feira (10.ago.2021), logo na primeira rodada na Câmara dos Deputados, a PEC do voto impresso, que deixou claro ainda o posicionamento de dois partidos do chamado  "Centrão", aliados do presidente, que foram contra a proposta. Ainda assim, o projeto recebeu mais votos "sim" do que "não" e agora a base governista mira o Senado. 

Foram 229 a favor do texto, 218 contra e uma abstenção. Insuficientes para avançar, uma análise feita pelos jornalistas Ranier Bragnor, Danielle Brant e Julia Chaib, indicam que se PL e PP tivessem se mobilizado totalmente a favor do voto impresso, a medida ficaria bem mais próxima de ser aprovada. 

Sendo que uma Proposta de Emenda à Constituição precisa de 308 votos ou mais, de acordo com análise do mapa de votação, em vez dos 79 votos a menos, faltariam apenas 25, sendo que só um terço das duas bancadas foi favorável à medida (27 votos). 

Outros 36 deputados dessas duas legendas votaram contra e 18 se ausentaram, o que conta como voto contrário à PEC. Ciro Nogueira, que atualmente comanda a Casa Civil, é presidente do PP, partido líder do Centrão, sendo que Arthur Lira, presidente da Câmara, também integra a legenda. 

Lira (PP-AL), ao final da votação, agradeceu ao plenário pelo "comportamento democrático de um problema que é tratado por muitos com muita particularidade e com muita segurança", segundo informações da Agência Folhapress.

"A democracia do plenário desta Casa deu uma resposta a esse assunto. E na Câmara eu espero que esse assunto esteja definitivamente enterrado", disse em seu discurso. 

PÁ DE CAL 

Símbolo da escalada de ataques do atual presidente da república, Bolsonaro já havia ameaçado o processo eleitoral, dizendo que eleições em 2022 só seriam realizadas com a condição de que fossem em cédulas de papel. 

Entrou em atrito  com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, e chegou a chamá-lo de "filho da p*t@). Os ataques por parte de Jair se estenderam a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), o que só agravou a crise entre os poderes. 

No dia marcado para a votação da PEC do voto impresso, num ato de intimidação ao Legislativo e Judiciário - que virou motivo de preocupação e chacota ao redor do Globo, e de memes no Brasil - houve desfile e apresentação de blindados em Brasília. 

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, os tanques e carros de combate mostraram que os equipamentos utilizados pelo país são obsoletos e usam tecnologia ultrapassada, como motor a diesel e canhões que datam da década de 70, da época da guerra do Vietnã. 

Carregados nos topos dos veículos estava canhões do tipo SK-105 Kürassier, um modelo austríaco produzido no início dos anos 1970. Eles são destinados para uso exclusivo pelo Corpo de Fuzileiros Navais. De acordo com o portal Brasil 247, 17 unidades foram efetivamente compradas no final dos anos 1990 e entregues a partir de 2001. 

Entretanto, o portal ressalta que, há quase 30 anos, a própria Áustria abandonou esse tipo de tanque leve, em atividade atualmente em países como Argentina, Bolívia, Brasil, Botsuana, Marrocos e Tunísia. 

Ainda os M113 - Viatura Blindada para Transporte de Pessoal - são modelos usados desde a Guerra do Vietnã (1959-1975) e, apesar das modernizações que sofreram ainda são considerados ultrapassados frente ao atual mercado bélico. 

De acordo com o especialista em veículos blindados e ex-professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, João Marcelo Dalla Costa, entrevistado pela BBC, o sistema de lançadores de foguetes, produzido pela brasileira Avibras, "é a nata da tecnologia militar brasileira". 

"o que temos de mais avançado junto com o veículo blindado Guarani. Hoje, nossos foguetes têm entre 30 e 80 km de alcance, mas está em processo de construção um equipamento com 300 km de alcance, que permitirá defender toda a nossa região costeira", enfatizou o especialista.

Também o professor da Universidade de Brasília (UnB), autor de artigos sobre tecnologia militar e blindados, Luiz Guilherme Oliveira, destaca que a tecnologia é ultrapassada, se comparada ao mercado bélico global, mas "condizente com o potencial bélico dos outros países da América Latina". 

** (Com informações Poder 360; BBC News Brasil; Brasil 247, Folhapress e Agência Câmara de Notícias)