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MARIA STELLA | INVESTIGAÇÃO

Maquiadora foi estuprada antes do suicídio; passados 9 meses, inquérito é 'nebuloso'

Irmã tenta fazer justiça por 'Stella' e polícia tem inquérito fragilizado, com ausência de laudos

Esta é Maria Stella. - Foto: Reprodução

A maquiadora Maria Stella Coelho Coimbra, encontrada morta aos 37 anos em 09 de outubro de 2020, pode ter sido agredida e estuprada antes de ser achada nos fundos da casa onde vivia, no Jardim Bela Vista em Campo Grande (MS). A polícia disse nesta segunda-feira, dia 26 de julho, que ela cometeu de fato suicídio, mas sobre a informação dela ter sido vítima de estupro, ainda que passados os 9 meses, o inquérito é “nebuloso”. 

Empresária, Maria do Carmo Coimbra, de 44 anos, irmã da vítima, diz que o verdadeiro motivo do suicídio da corumbaense está ligado com as agressões e com o estupro cometido por um “amigo de infância” da vítima.

Diante de poucos resultados das investigações, a irmã, que trata a vítima apenas pelo nome ‘Stella’, passou a divulgar o que a investigação ainda não revelou.  

O laudo de perícia criminalística foi concluído e, segundo a polícia, não apontou para o crime de estupro, já que estava distante da data do crime. Porém, a polícia ainda desconhece diversos áudios e não teve acesso ainda ao depoimento de 2 testemunhas (amigas de Stella) que receberam foto do suspeito de cometer o estupro. “Eu liguei para as amigas dela. E duas das amigas me disseram que sim, que a Stella havia contado por gravações de WhatsApp e por telefone o ocorrido. Segundo as gravações e as amigas, Stella recebeu em sua residência, um vulgo ‘amigo de infância’, cujo nome é Antônio Carlos de Barros Hermozilla”, denunciou a irmã. 

Esse é o homem suspeito de estuprar Stella.  

O homem indicado pela vítima, tem 41 anos e, segundo a polícia, foi ouvido uma 1ª vez, mas a delegada da 1ª Delegacia de Polícia Civil, Priscilla Anuda Quarti, que pegou o caso recentemente, disse que pediu para ouvir o suspeito novamente.

Fachada da 1ª Delegacia de Polícia de Campo Grande. Foto: Tero Queiroz | MS Notícias 

PROVAS INDICAM ESTUPRO

Em vídeo ao MS Notícias (veja abaixo), Maria apresenta detalhes do que já descobriu sobre o como agia o suspeito do crime e apresenta áudios em que Stella conversa com o suspeito.  

A própria Stella trocou áudio com o suspeito, em que revelou sobre o estupro e disse que iria denunciar o caso. Ouça abaixo: 

MS Notícias · Stella enviou áudios aos suspeito ameaçando o denunciar

AUSENTES NO INQUÉRITO

A morte da maquiadora, de acordo com a irmã, deve considerar mensagens de áudio, texto e imagens que vítima deixou gravadas em redes sociais – nas quais Stella relatava ter sido dopada e estuprada duas semanas antes de cometer suicídio. 

A delegada disse que o inquérito é conclusivo sobre o suicídio e que, diante do que foi apresentado, a vítima e o suspeito tinham relacionamento amoroso ‘consensual’.

Documentos apresentados ao MS Notícias, no entanto, apontam que o homem era um amigo, que depois de cometer o estupro, passou a perseguir a vítima que já havia o bloqueado em contas reais. Ainda assim, ele seguia criando contas "fakes" para assediar Stella e tentar reverter a situação.   

Uma das contas usada pelo suspeito, com codinome - Back.  

A irmã diz que o crime ocorreu entre os dias 14 e 15 de setembro, quando o suspeito bebeu com a vítima e ela, repentinamente, desfaleceu. “Passou a sentir um sono intenso, e avisou ele que iria se deitar. Quando ela acordou no dia seguinte, seu vestido estava nos seios e sua roupa e o sofá onde acabou apagando também estava cheio de conteúdo [sêmen] dele”, relatou a irmã, ao reproduzir o que revelou as testemunhas. A polícia apresentou uma data diferente para o possível dia do crime.  

A delegada disse desconhecer os conteúdos de áudio e imagens a que a reportagem teve acesso. Apesar disso, a irmã da vítima diz ter enviado todo o material ao delegado anterior, Cláudio Zotto. Ele, no entanto, não anexou nenhuma das informações ao inquérito apresentado nesta manhã à reportagem, que tem apenas trechos de conversas entre a vítima e o suspeito que comentavam sobre o ferimento (imagem abaixo) provocado por ele durante o “ato sexual”. 

Stella apresentava ao menos 3 ferimentos como este nas pernas. Foto: Arquivo pessoal 

A delegada atual do caso, explicou que há laudos faltando, que por isso o inquérito ainda não foi concluído. “O que tem no inquérito é que realmente laudos estão faltando, nós já requisitamos o laudo de local, o envio urgente para a gente. Eu estendi uma carta precatória para Corumbá para as amigas serem ouvidas e apresentarem essa documentação que você já tem posse e eu ainda não tenho”, disse a delegada explicando que o documento é sigiloso. “Eu vi que tinha essa hipótese de que ela poderia ter sido abusada sexualmente, mas a carta precatória ainda não foi devolvida. O que tem no inquérito hoje indica que realmente foi suicídio. Pode ter acontecido dela ter sido abusada sexualmente dias antes. É um fato que não se comunica com o outro. Se ocorreu, nós vamos extrair cópia e enviar para Delegacia da Mulher para apurar”, completou a delegada.  

O inquérito também apresenta o que a delegada chamou de “erro material”, quando no laudo de necrópsia diz que a vítima do suicídio seria do sexo masculino. A família lamentou o episódio chamando de uma tremenda falta de respeito e classificou a situação como um descaso.   

Documento nescroscópico indica a vítima como do sexo masculino.  

Questionada sobre a ligação psicológica entre o estupro e morte da maquiadora por suicídio. A delegada disse não poder comentar, por ser algo subjetivo.  

DENÚNCIA ABAFADA

A vítima foi casada com o advogado Ricardo Trad Filho, com teve um filho, hoje com 11 anos de idade. Stella separou-se de Ricardo em março de 2020, quatro meses antes de sua morte. 

Ricardo é quem telefonou inicialmente à irmã de Stella, perguntando se ela sabia de algo sobre o crime de estupro contra a maquiadora. “Ele me telefonou quase um mês após a morte dela me contando que alguém, que ele não quis dizer o nome, passou à informação de que ela teria sido vítima de estupro. Ao telefone, ele me disse que levaria as provas à delegacia”, detalhou a irmã.

Ricardo, no entanto, estaria tentando evitar falar sobre o caso e a irmã afirma que ele abafou a própria informação apresentada por ele. “Ele está abafando. Sei disso porque me disse que levaria à Delegacia as provas, mas ninguém está sabendo pelo visto”, comentou a irmã de Stella. 

Procurado para comentar o porquê silenciou sobre a apuração do caso, o advogado não respondeu às tentativas de contato em seu número de telefone pessoal.

ABSURDO

“Parece que as pessoas não têm um pingo de amor ao próximo, parece que só acontece com elas, na família delas, é que elas sentem um pouco do que a gente está passando. Eu nunca imaginei que eu passaria por isso, mas eu vou até as últimas consequências para resolver tudo isso”, prometeu a irmã.  

O inquérito segue na 1º Delegacia de Polícia Civil e caso reste provas que de fato houve estupro, a delegada diz que enviará o caso para a Delegacia da Mulher de Campo Grande.  

Hermozilla não foi localizado para dar sua versão sobre os fatos. O espaço fica aberto para que o suspeito apresente seu posicionamento.