EX-GOVERNADOR
André Puccinelli: "A Justiça fez um desagravo à minha pessoa"
De uma em cinco acusações, ex-governador tem primeira absolvição e continua na política
Das cinco acusações que sofreu em decorrência da Operação "Lama Asfáltica", o ex-governador André Puccinelli (MDB) livrou-se da primeira no último dia 21 de janeiro. Decisão da Justiça Federal o isentou do crime de improbidade administrativa, uma das peças que foram desdobradas na montagem processual elaborada com base nas ações formuladas pelo Ministério Público (MP) para incriminá-lo.
A força-tarefa da "Lama Asfáltica" havia responsabilizado dezenas de pessoas, entre empresários, políticos e servidores públicos, por irregularidades em processos de licitação para desvio de verbas públicas no governo de Puccinelli. A Justiça Federal acatou pedido de sua defesa e entendeu que o fato de ser governador à época "não é indício suficiente da existência de improbidade praticada".
Na quinta-feira, 28 de janeiro, o ex-governador afirmou ao MS Notícias ter recebido, sem muita surpresa, a publicação do Diário Oficial da Justiça Federal. "Se não tem denúncia, se não tem fato concreto, se não tem prova cabal de crime, se não virei réu, nem indiciado, o que é que eu poderia querer ou esperar de desfecho, a não ser a minha absolvição?", indagou.
Puccinelli assegura não guardar mágoa e resentimentos, apesar do sofrimento que ele e seus familiares enfrentam há anos, no alvo de um implacável e midiático linchamento moral e político. "Guardar rancor empobrece a alma, a pessoa se iguala a quem a fere". E acentua que não deixou de fazer política e está conversando com três ou quatro partidos.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de voltar à cena eleitoral candidatando-se ao governo em 2022, Puccinelli foi sutilmente enigmático, talvez concordando: "Quando eu estava sendo linchado não tirei o corpo fora, ouvi o chamado e me lancei candidato. Subi nas pesquisas, emparelhei com o Odilon [de Oliveira] e o Reinaldo [Azambuja], até que fizeram aquele vale-tudo das acusações para me tirar".
O MS Notícias resumiu assim as declarações de André Puccinelli:
PROCESSO RETALHADO: "Os acusadores construíram um processo que tinha cinco tópicos. Era um, que foi retalhado em cinco partes. Livrei-me do primeiro. Ainda restam outros quatro, mas nenhum deles possui qualquer prova cabal para que me atribuam responsabilidades, como fizeram nas informações à imprensa e na montagem do processo. Não fui e não sou réu, nem indiciado fui. Se não teve fato concreto para me denunciar, é porque não encontraram provas, não encontraram o crime que me imputam".
A ABSOLVIÇÃO: "Considero esta decisão um desagravo da Justiça à minha pessoa. O despacho da Justiça Federal não foi dado por prescrição ou qualquer outro fator, a não ser por mérito. E quanto a buscar indenização pelos danos que venho sofrendo, vou aguardar a manifestação sobre os outros processos".
OS IMPACTOS: "Sofri danos profundos. Danos pessoais, afetivos e políticos. Estava terminando meu segundo mandato de governador e decidido a não me candidatar mais a cargo político. Eu tinha cumprido um ciclo longo e vitorioso, ciclo que na vida pública foi várias vezes à sabatina das urnas e sempre teve maciço apoio da população: deputado estadual, deputado federal, prefeito da Capital duas vezes e governador também duas vezes são fruto da vontade soberna do povo. Mas tudo isso que me aconteceu, depois que deixei o governo, é bom para a sociedade ver e rever o quanto é danoso acusar e condenar alguém sem provas, fazendo do achismo ou da conveniência uma sentença condenatória".
A PRÉ-CANDIDATURA: "De tanto me citarem como provável concorrente à sucessão, e com as pesquisas reforçando a ideia, começaram a me atacar. A onda denuncista inflada pelos adversários cresceu. E então resolvi colocar meu nome, novamente, à disposição do partido" [Puccinelli foi pré-candidato ao Governo na sucessão de 2018, mas retirou a sua candidatura, sendo substituído por Simone Tebet e depois por Júnior Mochi]. "Eu estava 12 pontos atrás do Odilon e oito à frente do Reinaldo. Em dado momento, eu cresci mais, avancei e cheguei na ponta. Aí a carga contrária ficou muito mais intensa, mais pesada, desleal, sem medida. Virei manchete das denúncias mais descabidas, que me criminalizam, embora no âmbito do rito processual não houvesse denúncia, nem indiciamento, porque não havia fato concreto ou prova cabal para me indiciar ou me transformar em réu".
VAI SER CANDIDATO OUTRA VEZ? "Continuo fazendo o que fazia antes: cuidando da família e fazendo a política de sempre. Sigo mantendo contato com as pessoas, conversando, visitando, acompanhando o partido, porque o MDB foi bastante judiado nessa orgia desconstrutiva de imagem. E quando me perguntam se eu serei candidato outra vez, lembro que quando era o político mais massacrado, o mais linchado na mídia estadual, eu não fugi da raia e me lancei. Agora que me chutaram da canela ao pescoço ficarão sabendo que não deixei de respirar e que ainda tenho muito fôlego".
CONVERSAS: Puccinelli afirmou que não deixou de fazer e seguirá fazendo política. E revela estar conversando com três ou quatro partidos, desenhando projeções sobre futuros cenários. Enfatiza que em momento algum deixou de acreditar nas pessoas, no Estado e nas forças que, "de uma forma ou de outra, cada uma a seu jeito, dão sua contribuição com as aspirações legítimas da sociedade".
O ex-governador confia e prevê a revitalização do MDB. "Sei que o partido sofreu muitos desgastes ultimamente. Porém, é bom lembrar que as outras legendas grandes também ganharam e perderam. O PSDB, por exemplo, tinha oito vereadores na capital e agora só elegeu três. E no Estado o partido ficou superlotado, canibalizaram o PSDB. Por isso, ao MDB será bem mais fácil ou mais possível, até pela nova legislação, entre outras coisas, fazer seus deputados estaduais".
AMIGOS E AMIGOS: "Sobre amizades ou aliados que eventualmente perdi durante todo esse tempo de linchamento, sinceramente não guardo mágoa, nem rancor. Ninguém pode perder algo que não tinha ou que não tem. Se não ficaram comigo, se passaram a me evitar, é porque não eram amigos, não eram amizades. Os verdadeiros amigos vão atrás da verdade e ainda que não a encontrem mantêm o laço, independente de parceria política ou coisa parecida. Então, aquelas relações podiam ser por qualquer outra coisa, outro motivo, mas não por estima, nem por afeto ou por amor. E por isso, quando saem de perto, ajudam a fazer a limpeza da nódoa que ficou".