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MERCADO DESIGUAL

Homens recuperam mais trabalho com carteira assinada do que mulheres

Mulheres perderam mais de 220 mil postos de trabalho formal desde o início da pandemia. Para eles, entre demissões e contratações, foram geradas 107,5 mil vagas.

Mercado de trabalho é pautado pela misoginia e favorece a contratação de homens enquanto mulheres perdem postos - (Reprodução)

Diante das constantes conversas sobre a retomada da economia e taxa de desocupação do mercado de trabalho formal, dados detalhados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o patriarcado e misoginia continuam moldando as relações de serviço no Brasil. Se já eram minoria entre os empregados formais, desde março de 2020 as trabalhadoras perderam muito mais espaço diante das recentes contratações de profissionais do sexo masculino para vagas com carteira assinada.

Pode-se afirmar que, apesar da crise, o mercado de trabalho para homens, considerando todas as áreas, já se recuperou. Era previsto, não só no Brasil, que a pandemia afetasse o mercado econômico e diversos setores sofreram os primeiros impactos logo nos meses de março e abril.

MISOGINIA EM NÚMEROS

De acordo com os dados da Caged, entre contratações e demissões de março (início da pandemia) a novembro, foram geradas 107,5 mil vagas com carteira assinada para trabalhadores do sexo masculino. Esse número representa que há mais homens trabalhando com carteira assinada do que antes da crise da Covid-19.

No mesmo período, para as mulheres foram fechados 220,4 mil postos de trabalho formais. Para o país, isso é um saldo negativo de 112,9 mil empregos na pandemia – resultado puxado pelas demissões de mulheres.

Ao todo foram fechados 1,6 milhão de postos de trabalho nos primeiros meses da pandemia, que apresentou um efeito mais danoso para as trabalhadoras, que ainda sentem dificuldade de ingressar novamente no mercado de carteira assinada.

Em balanço só do mês de fevereiro de 2020, as mulheres eram 40,75% dos contratos com carteira assinada, enquanto os homens representavam 59,25%. Ao analisar o número de demissões, essa mesma proporção não foi seguida. Elas foram 47% dos desligados na pandemia, enquanto eles somaram 53%.

Como uma resposta para os dados que escancaram a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, uma nota técnica foi emitida pelo Ministério da Economia (do Ministro que impede empregadas de ir à Disney e tece ofensas à primeiras-damas). "Os setores com maior participação de mulheres [como comércio e serviços] foram mais afetados pelo fechamento de postos, em decorrência das medidas de distanciamento social para a prevenção de contágio", aponta.

Especialista da FGV/Ebape, a professora Carmen Migueles concorda com a declaração do governo e ressalta que, principalmente com a retomada da economia em 2021, o suporte à maternidade em empresas privadas ou pelo setor público deveria ser o principal plano para derrubar barreiras que existem em relação à contratação de mulheres, já que essas já são, em média, mais qualificadas que homens.

"Nas classes mais baixas, esse efeito é ainda maior, pois essas mulheres tendem a ter menos renda para encontrar quem cuide dos filhos, e elas já têm menos solidariedade masculina para as tarefas de casa", afirma a professora.

PLANOS E RECUPERAÇÃO

Com a retomada de contratações de serviços e do comércio em novembro, houve um recorde de vagas criadas considerando homens e mulheres, com 414.556 novos contratos com carteira assinada, entretanto, dezembro é costumeiramente conhecido como período de demissão e desligamento de funcionários temporários.

Para as mulheres, até outubro o mercado de trabalho estava ainda pior, sendo apenas 40,17% dos contratos formais do país, número consideravelmente inferior do que o nível registrado em fevereiro. Eram mais de 440 mil postos fechados para mulheres de março a outubro.

Entre a posição do Governo, o Ministério da Economia não se mostrou a favor de aprovar - nem afirmou se tem - medidas em estudo que sejam voltadas exclusivamente para mulheres. Na pasta de Paulo Guedes estuda-se ainda a possibilidade de reformular o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) que vem sofrendo com corte de verbas nos últimos anos.

Mais recente, o Qualifica Mulher, lançado pelo Ministério da Mulher e da Família, entrou no radar de projetos, como um 'piloto' de baixo orçamento, voltado para ampliar a inserção de trabalhadoras em situação de vulnerabilidade social no mercado. (Com Folhapress)