01 de abril de 2025
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FUTEBOL-ARTE

Só existe um técnico para ressuscitar a Seleção Brasileira

Até aqueles que invejavam a técnica, los hermanos, aplicaram uma goleada de 4 a 1 no Monumental de Núñez, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, e entoaram: 'A Seleção está morta'

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O futebol brasileiro amarga uma campanha decadente, isso porque está jogando com as regras criadas pelos europeus.

Futebol-arte, o estilo do drible rápido, aquilo que nenhum jogador no mundo fazia, deixou de ser a marca dos atletas brasileiros.

Até aqueles que invejavam a técnica — los hermanos — aplicaram uma goleada de 4 a 1 no Monumental de Núñez, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, e entoaram: 'A Seleção está morta'

Os argentinos Rodrigo De Paul, Nicolás Otamendi e Enzo Fernández sabem que jamais jogariam com a técnica brasileira, os europeus sabiam disso, e por isso a estratégia foi assassinar o talento adversário para superá-lo.

A Seleção Brasileira tomou uma goleada no estádio Monumental de Núñez e recebeu provocações da Argentina: um minuto de silêncio e a frase 'Brasil está morto'. A Seleção Brasileira tomou uma goleada no estádio Monumental de Núñez e recebeu provocações da Argentina: um minuto de silêncio e a frase 'Brasil está morto'. 

Para fazer isso, os executores precisariam de um aliado em território nacional.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nascida em 8 de junho de 1914, antes de entregar a "cabeça" da Seleção Brasileira aos algozes, viu o futebol-arte levar as copas de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 — tornando-se o único país com Seleção pentacampeã da história.

O GRANDE ÊXODO

 O primeiro jogador brasileiro a atuar na Premier League (Liga Inglesa), ainda na década de 1980. Foto: Daily Mail

A Seleção já havia levado 3 Copas do Mundo. Então, em 1987, um jogador específico do Brasil foi exportado, Francisco Ernandi Lima da Silva, o Mirandinha. Ele foi adquirido pelo Newcastle United, da Inglaterra. A transferência foi milionária. Ali iniciava-se um plano que está gerando frutos desde o início dos anos 2000.

Mirandinha não foi o primeiro: desde as décadas de 1960, 1970 e 1980 já era considerada comum a venda de jogadores do futebol brasileiro para a Europa. Por exemplo, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, jogou com a camisa da Udinese, da Itália, entre os anos de 1983 e 1985. Mané Garrincha já atuou pelo Júnior de Barranquilla, da Colômbia, em 1968. Até o "rei" Pelé jogou na liga dos Estados Unidos da América entre 1975 e 1977.

Zico foi sondado pela Roma, mas acabou indo mesmo para Údine.Zico foi sondado pela Roma, mas acabou indo mesmo para Udinese.

Porém, em 1990 ocorreu um grande êxodo de atletas brasileiros.

Ao invés de enviá-los para clubes famosos, onde ampliavam sua capacidade, dessa vez, a estratégia foi enviá-los para além do continente europeu.

Era preciso embaraçar a técnica, então os jogadores tiveram como destino a própria América Latina, Sudeste Asiático e Leste Europeu, atuando em clubes desconhecidos e sem nenhuma visibilidade.

À época, já falava-se: "Os clubes brasileiros estão perdendo os melhores jogadores para os campeonatos italiano, espanhol, inglês e alemão. E os jogadores apenas medianos para países como Ucrânia, Rússia, Coreia do Sul, Japão, México, Bulgária e Arábia Saudita. Não estão conseguindo nem competir com nossos vizinhos, como Argentina, Uruguai e México". (BRASIL, Ciro Americano, 2009).

Três gerações do futebol-arte: Leônidas da Silva, Pelé e Arthur Friedenreich. Foto: ReproduçãoTrês gerações do futebol-arte: Leônidas da Silva, Pelé e Arthur Friedenreich. Foto: Reprodução

Então, depois da Copa de 2002, a maior Seleção da história passou a sofrer derrotas consecutivas, ficando relegada a conquistar títulos de menor prestígio.

Enquanto isso, a Europa saltou, levando seus países juntos a terem os mesmos cinco títulos que o Brasil. Do Bloco, os únicos países que tinham Copas antes de 1990 eram a Alemanha: 2 títulos (1954, 1974) e a Itália: 3 títulos (1934, 1938, 1982). Os outros campeões de Copas europeus — França, Inglaterra e Espanha — só conquistaram títulos após o grande êxodo no final do século XX.

PRODUTO ‘NÃO FALA’; ‘O BRASIL EMBALA’

Um dos melhores jogadores do Brasil, Luiz Henrique, do Botafogo, foi vendido, em 2025, para o Zenit, da Rússia, por  35 milhões.Um dos melhores jogadores do Brasil, Luiz Henrique, do Botafogo, foi vendido, em 2025, para o Zenit, da Rússia, por € 35 milhões.

A exportação de jogadores de futebol brasileiros é impulsionada pela lógica do mercado. Entre 2003 e 2008, o número de jogadores brasileiros transferidos para o exterior cresceu 37,6%.

Muitos atletas são tratados como mercadorias, sujeitos a contratos rígidos e à intermediação de empresários. Eles não podem decidir se ficam ou partem para o exterior — "produtos não falam".

O Brasil, com território continental e um dos mais populosos do mundo, tem atuado como uma fábrica de atletas, que os prepara, embala e vende para os estrangeiros. Diante da acessibilidade do esporte, intrínseco à cultura brasileira e também devido à desigualdade social, visto como possibilidade de um futuro melhor para jovens de origem pobre, o país é o "local perfeito" para formar talentos. Diferentemente, nos chamados "países de 1º mundo", onde há mais opções de carreira, a escolha por esse caminho não é tão predominante.

COLHENDO FRUTOS

Enquanto clubes e o futebol brasileiro são apagados e cada vez menos relevantes nas disputas mundiais, a Europa cresceu. Os regionais europeus Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Chelsea, Arsenal, Bayer München, Roma, Internazionale, Milan e Juventus não apenas dominam competições, mas também faturam com patrocínios e produtos licenciados, e passaram a ser reconhecidos como "os melhores clubes ao redor do mundo".

POSSÍVEL SAÍDA, MAS NÃO SOLUÇÃO

A única maneira possível de ressuscitar o futebol-arte é criando mecanismos legais que impeçam que um atleta se torne produto, bem como preserve a extensão cultural do futebol no Brasil. O futebol não pode ser produto aqui, pois é parte central da cultura brasileira, ou seja, não pode estar à venda, o que colocaria em risco parte da cultura do país, protegida pela Constituição Federal.

O único técnico capaz de oferecer uma saída para vitórias ao futebol brasileiro é alguém que viveu na pele esse processo de mercantilização dos atletas. Nesse cenário, só resta na mira Filipe Luís. Ele iniciou sua carreira como treinador de forma impressionante, conquistando dois títulos em menos de 20 partidas à frente do clube carioca Flamengo. O estilo de jogo ofensivo e bem estruturado faz com que os atletas tenham oportunidade de driblar, unindo o futebol-arte às técnicas estrangeiras. Filipe Luís oferece uma alternativa necessária para a Seleção Brasileira.

Enquanto atleta, Filipe Luís teve passagens pelo Atlético de Madrid, Chelsea e Flamengo. Ainda como jogador, era elogiado pela inteligência tática, precisão defensiva e apoio ao ataque. Ele jogou na Seleção Brasileira em 2019, conquistando a 9ª taça da Copa América — disputada no Brasil, a Seleção venceu o Peru por 3 a 1 na final, no Maracanã.

As credenciais de Filipe eram para um posto de técnico, já que sempre organizou o time em campo. Sua leitura de jogo, disciplina e entendimento estratégico chamaram atenção do Atlético de Madrid, que conseguiu contaminar o jogador, mas não o técnico.

Felipe Luís, ex-jogador agora técnico do Flamengo. Foto: Reprodução - InstagramFilipe Luís, ex-jogador agora técnico do Flamengo. Foto: Reprodução - Instagram

Aposentado dos gramados em 2023, Filipe Luís assumiu o comando do Flamengo em 2024 e rapidamente provou sua capacidade. Em sua primeira temporada completa, já conquistou dois títulos: Copa do Brasil (2024) e Supercopa do Brasil (2025).

Em 19 partidas como treinador, ele venceu 12, perdeu apenas uma vez e implementou um estilo de jogo dinâmico e ofensivo, destacando a intensidade na marcação e a valorização da posse de bola. Filipe Luís também destacou sua forte relação com o elenco, pois jogou com a maioria dos jogadores que comanda atualmente. A proximidade tem sido um fator determinante para a rápida aceitação de suas ideias táticas.

Com um começo de carreira técnico tão impactante, Filipe Luís já fala em voos mais altos. Ele não esconde o desejo de conquistar grandes títulos, incluindo a Libertadores e, futuramente, sonha até com a Champions League, que não conseguiu vencer como jogador. Sabidamente Filipe Luís não é a solução duradoura para os problemas do futebol brasileiro, mas uma saída para a vitória neste momento. O furo está na legislação, que precisa ser revista para proteger a cultura brasileira.