15 de novembro de 2024
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Editorial

Uma banana para o povo e seu desejo de uma política ética

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As movimentações populares que acontecem por todo o país, das quais participam até muitos corruptos, são apenas um imenso show do povo para deleite deste mesmo povo. Ainda que no jargão dos políticos, povo seja populacho. Um espetáculo risível, que vira troça e piada entre os grupos que definem e determinam os caminhos do país – e que fique claro que esse país por eles governado não é a nossa Nação.

Não bastasse os 39 ministérios para acomodar sócios e apadrinhados dos nobres parlamentares, dispostos em trinta e tantos partidos políticos, não bastasse a cada dia um insatisfeito por alguma coisa querer por bem ou mal criar mais uma legenda para acomodar sabe-se lá que tipo de gente, agora querem um golpe dentro de uma democracia com cacoete de ditadura. Para isso, como se fosse a mais simples das junções, fundem-se partidos para minar outros partidos, com a complacência e amparo.

Em próprio interesse, o presidente da Câmara, do PMDB, ameaça com o estabelecimento de um prazo mínimo de cinco anos para que partidos novos possam se fundir a legendas já existentes, e deixa feliz o atual vice-presidente – e do jeito que anda a carruagem, com chances de vir a se tornar presidente – Michel Temer, também do PMDB.

Mas como a legislação brasileira é uma colcha de brechas jurídicas preenchida por leis, conforme noticiou o Valor Econômico, o presidente da nova sigla (o ressuscitado Partido Liberal – PL), o ex-deputado Cleovan Siqueira Amorim afirmou, no entanto, que a intenção de Cunha não fará com que o PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, mude de ideia.

“Estamos desde 2007 tentando recriar o PL. São, portanto, oito anos. Em todo esse tempo, nunca causamos esse tipo de estresse nos outros partidos. De repente, passamos a incomodar o Congresso. Mas isso não vai mudar o nosso cronograma. Vamos recolher mais 100 mil assinaturas e dar a entrada de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no início de março”, argumentou o líder do PL, acrescentando que a legenda já possui 400 mil assinaturas.

E se for para julgamento nos tribunais, leva de bandeja.

E um dos motivos a reforçar a complacência do Judiciário é uma outra frente que pretende o concubinato: PTB e DEM, duas legendas que vinham definhando capengas e que podem se tornar uma força considerável. Unidos formariam hoje uma bancada de 47 deputados federais e 8 senadores, formando a quarta força do Congresso.

Mas estas contas podem não representar nada. Aliás, a disposição de forças no Congresso, cumpridas não as intenções, bem longe disso, mas a ameaça dessas junções ou formações de novos partidos, ou tenha lá o nome que tiverem, pode alterar toda a atual estrutura de forças de apoio e oposição.

Não, ninguém acordou com a brilhante ideia de comparar estatutos e programas e descobriu que todos se assemelham. Não houve um lampejo de bom senso. Também ninguém se sensibilizou com a voz das ruas e decidiu resgatar ou iniciar uma renovação na política que lhe emprestasse um tanto de solidez e caráter. Apenas jogam seus jogos de bastidores querendo amealhar a maior cota do espólio.

“O povo, unido, jamais será vencido” das priscas eras, nessa manobra política significa apenas e tão somente que, quantos mais “eleitos” houverem em uma nova ou refeita sigla, mais se fortificará a bancada e, em caso de financiamento público de campanha, mais verba virá. Mudando ou não as regras políticas, partidos com mais parlamentares eleitos significa mais força para, através da chantagem, conquistarem mais gabinetes, mais poder, mais verba desviada, e forma um Caixa Dois mais sólido.

Se a fonte da Petrobras secou; se o BNDES secará assim que vierem a público as investigações, ainda há muito dinheiro circulante em tantas outras estatais e afins. Quanto ao populacho que está engrossando a fila de desempregados, quanto aos mais necessitados que estão sendo duplamente penalizados pelas medidas econômicas que visam consertar o que a demagogia barata destruiu, isso não passa perto desse Olimpo habitado pelos nobres parlamentares e seus séquitos.

Alguns até se preparam para esse momento, pois quanto mais conturbado está um país, melhores ficam os discursos eleitorais.