15 de abril de 2025
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ESTRATÉGIA MANJADA

STF publica acórdão e o réu Bolsonaro vai parar no hospital

Pela manhã, o inelegível estava em clima de campanha disfarçada. Circulava em Bom Jesus (RN)

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No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou o acórdão que o transforma oficialmente em réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro foi internado às pressas em um hospital no Rio Grande do Norte. O timing seria irônico — se não fosse tão previsível.

A internação aconteceu nesta 6ª.feira (11.abr.25), em Santa Cruz (RN), sob a justificativa de “dores abdominais causadas pela facada de 2018”. Sete anos depois, a velha desculpa continua servindo como muleta — agora não apenas médica, mas política.

Pela manhã, o inelegível estava em clima de campanha disfarçada. Circulava em Bom Jesus, cidade vizinha, abraçando apoiadores e fazendo o velho corpo a corpo, com direito a levantar criança para foto. Tudo sob o olhar cúmplice do senador Rogério Marinho, que publicou vídeos nas redes como se estivéssemos em 2018 e não em 2025, ano em que seu líder político enfrenta a Justiça como réu por crimes contra a democracia.

Segundo aliados, Bolsonaro começou a passar mal ainda na estrada. O motivo oficial: obstrução intestinal. O não-oficial? Talvez o peso crescente das acusações — e da realidade.

RÉU. FINALMENTE, OFICIALMENTE

Horas antes da ida ao hospital, o STF bateu o martelo. Com a publicação do acórdão, está sacramentado: Jair Bolsonaro e mais sete figuras do alto escalão do seu governo agora respondem criminalmente por tentativa de golpe de estado no Brasil. 

Entre os réus: militares de quatro estrelas, ex-ministros, chefes da inteligência, da segurança institucional, da Polícia Federal e, claro, o homem que sempre jurou ser “a Constituição em pessoa”.

Eles são acusados de formar uma organização criminosa armada, tentar derrubar o Estado de Direito à força, depredar patrimônio público e tombado, e usar a máquina pública como arma contra a democracia. Tudo isso, com Bolsonaro no comando.

A partir de agora, começa a fase de instrução. Os réus têm cinco dias para apresentar defesas, apontar testemunhas e se preparar para os interrogatórios. Alexandre de Moraes, relator do caso, fará o voto inicial, podendo colocar o processo em pauta para julgamento.

QUEM SÃO OS RÉUS?

O acórdão traz que a denúncia foi integralmente recebida contra Bolsonaro, o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-diretor da Polícia Federal Anderson Torres, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, delator do caso, o ex-ministro da Defesa, Pualo Sérgio Nogueira, e o general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-ministro da Defesa.

OS CRIMES

Os oito denunciados são acusados pela PGR de cometerem os crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

COINCIDÊNCIA OU ENSAIO?

Se a internação foi sincera ou parte de um teatro político, ninguém pode afirmar com certeza. Mas o enredo é velho conhecido: toda vez que o cerco aperta, Bolsonaro some. Seja para os Estados Unidos, seja para um hospital — desde que bem longe de um tribunal em que pagará por seus crimes contra a nação. 

A facada de 2018 virou licença permanente para evitar embates difíceis. Só que agora, nem a desculpa recorrente parece capaz de barrar o avanço do STF. A Justiça bate à porta. E, dessa vez, não adianta se esconder atrás de cortinas de hospital.