“Me preocupo com a segurança dos cidadãos que escolheram seus vereadores, homens e mulheres que estão em pé, exercendo seu trabalho. Aqui nessa casa, estamos nos portando dessa forma. Essa situação nos incomoda e questionamos o por que de uma investigação que segue em segredo de Justiça, ficarmos sabendo pela imprensa o que ocorre. É preciso ter uma preocupação com o que é passado, para não assustar a população e para que ela não receba informações infundadas”
Esse foi o discurso de João Rocha (PSDB), na mesma toada de outros vereadores que ocuparam a tribuna da Câmara Municipal de Campo Grande neste primeiro dia de sessão da semana e sob duas ameaças: de afastamento de pelo menos 8 dos 17 pedidos enviados pelo Ministério Público Federal; e de uma aventada ação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que recolheria computadores, celulares e documentos dos gabinetes.
Aguardava-se uma manifestação do desembargador Luiz Cláudio Bonassini da Silva, nas mãos de quem repousa a decisão pelo afastamento, ou não, dos vereadores e outros investigados por corrupção nas ações que levaram à cassação do prefeito eleito Alcides Bernal, em sessão da Comissão Processante que foi considerada inútil e ilegal pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
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Nada aconteceu, mas os vereadores já articulam discursos bem ensaiados para alardearem uma possível inocência. Na toada do “votaram obedecendo o desejo da população” e às denúncias da imprensa, que para isso foi necessária, mas quando divulga que eles, vereadores, estão sob ameaça de afastamento, é acusada de usar de uma prerrogativa legal de denunciar as ações da justiça que, deveriam estar em segredo de Justiça. Afinal, parece que o único motivo para defenderem tal “segredo” é em proteção de seus mandatos legislativos, não como entende a jurisprudência, de proteção à pessoa ou ao grupo social.
“Vereador gosta de vereador”, assim, até o ponderado presidente interino da Casa, Flávio César (PTdoB), mostrou indignação com o vazamento dos pedidos de afastamento. Estranho que pessoas públicas, passados 30 anos do final da Ditadura Civil-Militar, ditos representantes da Democracia, ainda pretendam e tenham como mais justo, a Censura. Na Velha Região Centro-Oeste, pode-se perceber que a evolução ainda vem na toada das comitivas de gado.