Uma série de revezes congressuais em votações de matérias muito importantes vem provocando desassossegos no Planalto. Esta semana o governo Lula sofreu mais uma impactante derrota, com a aprovação do Projeto de Lei 490/07, que institui o Marco Temporal e abre caminho para detonar vários direitos de índios e povos originários.
Para assessores de Lula e setores do PT, este desfecho seria evitado se alguns ministros de partidos da base garantissem no Congresso os votos que faltaram ao governo. Dos 283 votos favoráveis à PL do Marco Temporal, 58 são de parlamentares filiados a partidos da base governista, entre os quais o União Brasil (UB). Apenas as federações Psol-Rede, PT-PC do B-PV e a liderança do governo se posicionaram contra o texto.
Além do Marco Temporal, a vontade governista foi contrariada nas votações de outras matérias e iniciativas. Estão nesta galeria a PL do Marco do Saneamento Básico, a convocação de ministros para se submeterem aos paredões congressuais e a MP dos Ministérios, que esvazia a Pasta do Meio Ambiente e escancara as portas para a extinção de direitos históricos dos indígenas e povos originários, como a demarcação de terras e a proibição do garimpo e de atividades danosas às florestas e aos rios.
ALVOS
O núcleo em que se encontram os assessores de Lula e os militantes graduados do PT que cobram a recomposição dos ministérios, já definiu que um dos partidos mais improdutivos na base de sustentação é o União Brasil. Por isso, querem a substituição dos três ministros que são da cota partidária e dos ocupantes de postos de direção superior.
Um desses postos é ocupado por Rose Modesto, ex-deputada federal sul-mato-grossense. Ela chefia a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), autarquia que neste exercício está trabalhando com um orçamento de R$ 169,5 milhões no caixa somente para despesas e tem abrangência de atuação em projetos de investimento e financiamento nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal.
No primeiro turno das eleições estaduais de 2022, o União Brasil teve sua própria candidata na disputa presidencial, a senadora Soraya Thronicke (MS). No entanto, os filiados locais se dividiram entre as candidaturas à Presidência e ao Governo do Estado. No segundo turno, Rose acompanhou o movimento de setores partidários que decidiram apoiar Lula e em seguida compor seu bloco de aliados.
Se os assessores e segmentos do PT que veem necessidade de trocar ministros "infiéis", também é amplo e consistente o segmento petista que pensa diferente, apontando o desafio da governabilidade como imperativo que passa pelo equilíbrio na balança das forças congressuais.