"Eu sou o Centrão", admitiu Jair Bolsonaro (PL) logo após ser eleito em 2018. No palaque, naquele ano, Bolsonaro dizia ser contrário ao Centrão, mas em 2019 mudou de ideia. Nas eleições de 2022 até sua vice o Centrão irá decidir quem é. No Palácio já foi comunicado: Tereza Cristina (PP-MS) deve ser a vice-presidente, escolhida pelo Centrão.
Na terça-feira (14.jun.22) Bolsonaro admitiu que a ex-ministra da Agricultura vem sendo citada. Ela deve, então, substituir o nome do general Walter Braga Netto, indicado pelos militares.
Em entrevista à jornalista bolsonarista Leda Nagle, nesta quarta (15.jun), Bolsonaro chamou sua afirmação de ontem de “fofoca” e disse que nem mesmo afirmou que ‘Braga Neto’ seria seu vice. "Eu nem falei que é Braga Netto meu vice. Vou trocar de esposa se nem casei ainda?". Há três meses, porém, o presidente havia dito sim que seu vice seria “de Minas Gerais”. Chegou a afirmar, depois, que o nome de Braga Netto — natural de Belo Horizonte (MG) — tinha “90% de chance” de compor a chapa.
O nome de Cristina é uma tentativa de resolver a estagnação de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais de intenção de voto, nas quais lidera o ex-presidente Lula. A expectativa dos bolsonaristas é que a "novidade" pode provocar uma guinada na campanha pela reeleição do mandatário. A mudança seria uma tentativa de atrair o voto feminino, segmento no qual Bolsonaro enfrenta forte rejeição.
XADREZ POLÍTICO
Ainda, os centristas pensam que o nome de Tereza Cristina pode ampliar a adesão de líderes do agronegócio à campanha de Bolsonaro, pois eles acreditam que a ex-ministra da Agricultura é muito ligada ao setor. Entretanto, já mostramos aqui no MS Notícias que, na verdade, em Mato Grosso do Sul — curral eleitoral bolsonarista — Tereza Cristina está mais ‘queimada’ do que bem avaliada.
Tereza Cristina, neste momento, está em aliança formal com o PSDB para poder recuperar os votos que perdeu estando ao lado de Bolsonaro em Brasília. “Eu fiquei dois anos longe, então, preciso me reconectar com o estado”, explicou e ex-ministra numa reunião de cúpula do PSDB em Campo Grande, onde confirmou sua pré-candidatura ao Senado.
Diante da nova movimentação do Centrão, o xadrez político em Mato Grosso do Sul deverá ser o mais impactado. Se ela for confirmada vice de Bolsonaro, ocorrerá o fim da aliança entre Tereza Cristina e o PSDB, assim, é provável que Jair Bolsonaro retire o apoio ao candidato tucano Eduardo Riedel. Isso porque, há no pário o Bolsonaristas, Capitão Contar (PRTB), que cobra o apoio de Bolsonaro em MS. Caso de fato apoie o PSDB, Bolsonaro estaria traindo Contar.
No entanto, tudo depende aindado resultado de uma conversa entre o condenado do mensalão e presidente do PL, Valdemar Costa Neto e Tereza Cristina. A conversa está prevista para ocorrer ainda nesta quarta (15.jun).
ARTICULAÇÃO
Coordenador da campanha da reeleição, o filho e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem insistido com o pai sobre a necessidade de mudar o candidato a vice rapidamente, embora tenha bom relacionamento com Braga Netto. Ao lado de Flávio nessa operação estão o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira; o presidente da Câmara, Arthur Lira, ambos do Progressistas, e o condenado do mensalão Costa Neto, que comanda o PL, partido de Bolsonaro.
Braga Netto deixou o cargo em 31 de março, passou a ser assessor especial de Bolsonaro e se filiou ao PL com o intuito de ser vice na chapa. Nos últimos tempos, tem acompanhado o presidente na maioria das viagens, até mesmo nas motociatas e nas Marchas para Jesus.
Nos bastidores, integrantes do Centrão dizem que, se Bolsonaro ceder, haverá uma negociação com os militares para saber como eles podem ser contemplados no governo.
ENFRAQUECIMENTO
Na prática, a ala fardada vem perdendo espaço na equipe desde o fortalecimento do Centrão. O atual vice, general Hamilton Mourão, chegou a ser comparado por Bolsonaro a um “cunhado” que se tem de aturar. Mourão se filiou ao Republicanos e vai concorrer a uma vaga ao Senado pelo Rio Grande do Sul.