Para as principais lideranças do PMDB, e notadamente para o ex-governador André Puccinelli, o partido arrisca-se a perder o que tem de credibilidade se continuar falando línguas diferentes em relação à administração do prefeito Gilmar Olarte. Hoje, a imposição natural, e em vias de tornar-se uma resolução orgânica, é que os filiados, em especial os detentores de mandatos, se desfaçam de qualquer vínculo administrativo ou político com o governo municipal.
Os peemedebistas que ainda servem à gestão do atual Prefeito receberam da cúpula a recomendação para desfazer esse relacionamento ou, caso contrário, podem ser convidados a pedir sua desfiliação e não correrem o risco de ser expulsos. O ultimato é dirigido aos vereadores que ainda compõem a base governista.
Das sete cadeiras do PMDB na Câmara, duas são ocupadas por aliados atuantes do Prefeito: Paulo Siufi e Edil Albuquerque. Ambos foram peças-chave na trama que derrubou o prefeito eleito Alcides Bernal e ungiu o vice, Olarte. Investigações feitas pelo Gaeco capturaram escutas telefônicas dando conta do envolvimento de Siufi e Edil entre os vereadores que se beneficiariam da investidura de Olarte. Uma das ofertas foi a concessão de cargos e espaços de atuação política na estrutura da administração.
BENEFÍCIOS - Para Siufi, por exemplo, foi oferecida parte da Saúde, conforme grampos telefônicos já divulgados. Edil Albuquerque foi ainda mais longe. Abocanhou para si o cargo titular da Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e Agronegócio)). Depois, resolveu deixar a pasta e assumiu a liderança do governo na Câmara, onde ficou por pouco tempo. Entregou o cargo de líder, mas surpreendeu ao avisar que continuaria fiel a Olarte e não entraria na polêmica sobre as denúncias. Sua justificativa para não se envolver chegou a ser constrangedora: “Não é do meu perfil participar de embates. Saio da liderança, mas mantenho o compromisso que fiz com o Prefeito”. Edil, ao que se sabe, é um dos principais aliados do ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB).
Outro peemedebista, Mário César, vem administrando seu apoio ao Executivo, porque com o cargo de presidente da Câmara, ele surge como nome natural para assumir a Prefeitura num eventual afastamento de Gilmar Olarte. Alvo de uma CPI para apurar denúncias de improbidade e passível de sofrer outro processo investigatório se for instalada a Comissão Processante requerida por vereadores oposicionistas, o Prefeito dorme e amanhece sob a ameaça de cassação, embora se manifeste seguro e confiante nas "blindagens" que, segundo ele, o protegem. O apoio da bancada peemedebista é um dos suportes dessa proteção no âmbito das atribuições do Legislativo.
A voz da vereadora Carla Stephanini é a mais audível e definida entre os peemedebistas. Ela, que é também presidenta do Diretório Municipal, entende ser inerente aos compromissos programáticos e políticos da legenda que seus filiados se posicionem contra os desmandos na gestão da cidade. Carla apoiou o requerimento pela Comissão Processante, declarou independência em relação ao Executivo e desfalcou a base olartista. Para ela, o PMDB não pode ser signatário do caos: “Há denúncias e há fatos, levantados pelo Ministério Público e pelo Gaeco, e recepcionados pelo Judiciário, que não podemos desprezar”, argumenta.
Quanto aos outros integrantes da bancada (Vanderlei Cabeludo, Loester de Oliveira e Magali Picarelli) só o desenrolar dos fatos pode produzir mudanças mais significativas no comportamento de cautela e equidistância com que se mantêm em relação aos defensores e críticos de Olarte. Entretanto, nenhum deles ignora o risco que correrão em 2016 se fizerem uma campanha pela reeleição atingidos por desgastes de posicionamentos errados na crise de Campo Grande.