Não é Alexandre Frota (PSL/SP) o maior ou sequer o único autor de ridículos na Câmara dos Deputados. Ao menos um parlamentar sulmatogrossense lhe faz companhia na safra de nulidades que saíram das urnas em 2018: Loester Carlos Gomes de Souza, ou, como ele é conhecido, Tio Trutis, também do PSL, não por acaso o partido do presidente Jair Bolsonaro.
Quando escreveu o Febeapá (iniciais de Festival de Besteiras de Assola o País), o cronista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) ofereceu aos brasileiros um cenário para registrar e guardar o que há de engraçado, patético, ridículo e tragicômico na planície e nos subterrâneos da vida publica nacional. Tio Trutis, aos 36 anos e meio, é um nome fortíssimo para figurar no elenco deste enredo de besteirol que, graças à democracia, garante a todos o direito de ocupar seu espaço político, mesmo aqueles que trafegam na contramão da sensatez e da responsabilidade.
Em 2018 Trutis recebeu 56.339 votos ou 4,54% dos votos válidos. Ficou em quinto lugar entre os oito eleitos. Foi uma das novidades do pleito no ano passado e seu desempenho superou os de dois deputados federais que se reelegeram, Vander Loubet (PT), que teve 55.970 votos, e Dagoberto Nogueira (PDT), que chegou a 40.230. Dono de um conhecido bar em Campo Grande, aonde semeia conceitos e condições como o “meu bacon, minhas regras”, é useiro e vezeiro de redes sociais – e é pela Internet que o inventivo semeador de boçalidades planta a maior parte de suas patetices, ora ofensivas, ora preconceituosas, e não-raramente obscenas.
O deputado pesselista mal assumiu a cadeira na Câmara e já passou a disseminar suas “pérolas” de pocilga pelos meios eletrônicos. Em uma postagem indiscutivelmente homofóbica, e à guisa de contra-atacar as críticas a Bolsonaro, sugeriu ser gay quem chama o presidente de Bozo e a seus seguidores de bolsominions. Faz parte ainda do seu diário de bordo a defesa da tese armamentista, o combate às cotas universitárias e o que chama de “coitadismo”, alusão a pautas inclusivas, como as de gênero. No entanto, afirma ter dado um exemplo para realçar a necessidade da reforma da previdência, ao abrir mão de uma futura e eventual aposentadoria parlamentar.
REPÚDIO - A mais recente oferta de Tio Trutis para o festival de besteiras é a confusão com os vereadores campo-grandenses, que está trazendo para ele mais um traço negativo e de descrédito junto à opinião publica. Ao criticar a concessão de medalhas e honrarias da Câmara Municipal para atletas e desportistas, usou novamente as redes sociais para expressar sua opinião a respeito – e seguiu à risca o conteúdo conceitua de seus recursos vernaculares e éticos, com a seguinte postagem, :
“EU FICO PUTO, com vereador/deputado que dá uma “moção de congratulações” para um aluno/atleta. Pq ao invés de um pedaço de papel, não pega um pedaço do próprio ótimo salário e dá um patrocínio. Isso seria reconhecimento. Eu faço isso. Ahhh… Enfia a moção no cu.”
Além de rebater a ofensa, 27 dos 29 vereadores votaram uma Moção de Repúdio e pretendem entrar com um pedido formal à Câmara para acionar o Conselho de Ética e avaliar a postagem de Trutis, considerada flagrante quebra de decoro parlamentar. Do presidente do Legislativo Municipal, João Rocha (PSDB), aos demais vereadores, à exceção de Vinícius Siqueira (DEM) e Pappy (Solidariedade), as reações foram firmes e contundentes.
O vereador Delegado Wellington (PSDB), que apresentou com Dr Cury (SD) a Moção de Repúdio, chegou a ser ameaçado pelo deputado, que ainda acrescentou mais uma ofensa, afirmando: “Se ele achou que o tom que eu usei foi ameaçador, ele é uma moça. Usei um tom que um homem fala com o outro. Falei: ‘ó, você é um vereador medíocre, você tem telhado de vidro. Se você vier bater em mim na minha rede social você não aguenta comigo. Se você vier bater em mim, vou bater de volta’. Entendeu?” E emendou, ao dar uma entrevista sobre a polêmica: “Se ele citar o meu nome numa nota oficial da Câmara, bicho, aí ele vai ter que me aguentar, porque aí eu vou ser específico no nome dele”.
As ameaças e ofensas gravadas foram recolhidas pelo vereador para prestar queixa à Polícia. Welington garante que o boletim de ocorrências é suficiente como ponto de partida para a apuração dos fatos e, a seu ver, a constatação de que, além do comportamento indecoroso e incompatível para um parlamentar, Trutis praticou um crime comum, fora de sua atuação no mandato. Trutis emenda a briga e quer mais. Já postou vídeos em rede social, num deles chamando Wellington de vereadorzinho e afirmando que o desafeto utiliza indevidamente as verbas parlamentares.